Um dia, Júlio e Emília dormem juntos “acidentalmente” e mergulham numa quase banal história de amor, em que “há mais omissões do que mentiras, e menos omissões que verdades, dessas verdades que se chamam absolutas e que costumam ser incómodas”. A única bizarria a que se entregam é o uso da literatura como preliminar erótico, com leituras em voz alta antes do sexo, até ao dia em que um conto de Macedonio Fernández coloca um grão de angústia na engrenagem, que nem Proust conseguirá desbloquear. Logo depois, separam-se e seguem caminhos divergentes.
É no vazio deixado por esta história interrompida – primeiro pela distância (Emília muda-se para Madrid); depois pela morte (quando ela se atira para a linha do metro) – que cresce a minúscula árvore da ficção. Há personagens que se cruzam com Júlio (uma amante, um escritor), pequenos ramos logo cerceados pela tesoura de podar. E há enredos paralelos que o narrador contém, com paciência e invisíveis redes de arame, para que não alastrem para lá do vaso em que tudo assenta, o “vaso apropriado” cuja escolha “é quase uma forma de arte só por si”.
Através de Júlio, Zambra diz que “cuidar de um bonsai é como escrever” e que “escrever é como cuidar de um bonsai”. Tudo se joga na delicada simetria destas duas frases.
Romance