O livro enfeixa a produção inicial de Piva, compreendendo seus dois primeiros livros - Paranoia, de 1963, e Piazzas, de 1964, ano do golpe militar -, o poema Ode a Fernando Pessoa, publicado em 1961 sob a forma de plaquete e jamais recolhido em livro desde então, e os Primeiros manifestos.
O traço predominante nos poemas desse período seria dado pelo viés blasfematório (em diálogo com autores como Whitman e Pessoa, e com a literatura beat), ao que se seguiria uma etapa psicodélica e experimental (característica dos livros que comporão o segundo volume, publicados entre a segunda metade da década de 1970 e o começo dos anos 1980) e um terceiro momento, mais místico e visionário (terceiro volume), que se estende até os dias de hoje.
A despeito do caráter um pouco esquemático dessa divisão, ela ajuda a entender seja algumas alterações de rota no percurso criativo de Piva, bem como certas linhas de continuidade no conjunto de sua obra. Nessa medida, o vitalismo de extração romântica, o vínculo tenso com o surrealismo – que em Piva, à diferença do que ocorre em outros autores, não se degrada em mera retórica do não-sentido – e a intertextualidade vertiginosa são alguns dos elementos que podem ser mobilizados para a compreensão do que se funde na fornalha desses versos.
Um estrangeiro na legião contém ainda longo e elucidativo posfácio escrito pelo poeta e crítico Cláudio Willer – companheiro de geração de Roberto Piva – e uma boa bibliografia ao final, extremamente úteis para o leitor ávido por mais informações sobre uma das vozes mais importantes no panorama da poesia brasileira contemporânea.
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