"Éramos vários em um. Ou um em vários. A diferença é sutil e provoca algumas reflexões, das quais nada de útil concluiremos. Mas é essa a nossa natureza, e disso não podemos escapar." Dessa forma Paulo Wainberg apresenta o protagonista do romance Os Malditos, que usa a terceira pessoal do plural - um nós arrogante e pretensioso, mais do que um simples eu, que reúne personagem, autor, leitor - para contar a(s) história(s) dos quarenta anos de sua(s) vida(s). O narrador é um maldito que não assumiu sua própria identidade... ou assumiu qualquer uma, várias, todas elas - dá no mesmo. E essa hilariante, porém verdadeira, jornada existencial de incertezas múltiplas, repleta de sobressaltos, peripécias e situações insólitas, leva - e não poderia ser diferente - a um desfecho surpreendente.
O personagem é alguém que nunca precisou trabalhar, um fanfarrão interessado apenas nos prazeres que uma boa vida é capaz de proporcionar: primeiro um jovem inconseqüente, depois um adulto sem compromissos. E, por fim, um homem feito, ou desfeito em vários, em dívida com o mundo.
"O maldito criado por Wainberg segue os passos dos malditos de Camus e Céline", escreve Tabajara Ruas, "mas nos toca e nos emociona com mais força porque está mais próximo, porque - mesmo que seja um embaraçado pano de fundo - caminha sua desgraça numa cidade que identificamos, com gente que parecemos conhecer, num país que sabemos habitar." Por esses e outros motivos, Os Malditos, de Paulo Wainberg, é uma peça única e brilhante em nossa literatura.