No terraço do Castelo Saint-Louis, na parte alta de Quebec, onde a galante e aventureira corte canadense comemorava a festa da Epifania, Angélica emocionou-se ante a beleza iluminada da paisagem noturna da capital da Nova França. Sob a suavidade do luar, o desenho irregular dos telhados e das chaminés em diferentes alturas, o contorno gelado dos montes longínquos e o vasto desenrolar da planície do rio Saint-Laurent compunham um cenário inesquecível.
De surpresa, o Conde Joffrey de Peyrac, seu marido, vindo por trás, rodeou-lhe a cintura com o braço forte e sua voz lhe chegou por entre as explosões dos fogos de artifício. Nas casinhas lá embaixo, como num presépio coberto de neve, cada habitante acendera uma vela atrás da janela. E foi como se a cidade, sob o céu resplandecente, tivesse belos olhos claros e cintilantes por trás dos vidros avermelhados e amarelo-mel.
Angélica sentiu-se imediatamente transportada para aquele paraíso de segurança e felicidade que a simples presença do marido lhe criava ao redor. As dificuldades esvaneceram-se: a iminência do veredicto do rei, a trama dos conspiradores e maledicentes.
Restava apenas a certeza da cumplicidade de ambos, marido e mulher apaixonados, unidos por um amor indestrutível...
Romance