O narrador que é o único sobrevivente de uma expedição espanhola que, num impreciso ano do século XVI, atinge as costas do Rio da Prata. Depois de uma prolongada convivência com a tribo antropófaga dos colastiné, retorna à Europa para, no final de seus dias empreender a tarefa de narrar os anos passados em terra americana. O romance assume a forma de escrita autobiográfica que visa, sobretudo, registrar a intimidade da experiência vivida. Nessa configuração discursiva, onde se delineia o perfil de um sujeito de memória, ecoam, também, as crônicas da Conquista e os relatos etnográficos que, na época, duplicavam, pela inscrição da palavra, o gesto fundador da descoberta do Novo Mundo. Porém, longe do tom assertivo de qualquer discurso instituidor, o velho narrador interna-se nos meandros de uma confusa e imprecisa memória que o leva a questionar não só a exatidão das lembranças mas, também, a real densidade da experiência vivida e, principalmente, as certezas denominativas da linguagem.
Literatura Estrangeira / Romance