Rafaela.Saragiotto 21/04/2020Presente, passado e futuro entre as ruínas do Brasil?Brasil, construtor de ruínas? de Eliane Brum (2019)
Sou suspeita para falar quando se trata de algo escrito por Eliane Brum. A repórter, escritora e documentarista é hoje uma das principais vozes a denunciar a exploração da Amazônia e a marginalização dos povos da floresta. Eliane é uma observadora da realidade e uma exímia contadora de histórias.
Nesse livro, Brum parte de suas colunas de opinião no jornal El País para trazer seu olhar sobre as atuais conjecturas dos diversos Brasis, orbitando desde a eleição de Lula até os primeiros cem dias do governo Bolsonaro.
Engana-se quem espera apenas uma narrativa de eventos políticos em ordem cronológica. A partir de suas vivências como jornalista, Brum reflete sobre diversos aspectos da história e cultura brasileira que nos fazem a nação que somos hoje e que culminaram com a eleição de um candidato da extrema-direita em 2018. Com muita propriedade, a autora debate temas que vão desde a desigualdade social, racismo, sexismo e homofobia até a ditadura militar, a destruição da floresta Amazônica e dos indígenas, o aquecimento global e a ascensão de grupos religiosos na política.
O que mais me agradou no livro foi o fato de que, por mais que Brum tenha seu ideal político de esquerda bem consolidado, sabe ser crítica na hora de reconhecer e apontar os erros dos governos Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro, sem enaltecer nenhum político ou partido. Como ela mesma afirma: ?Como jornalista, meu compromisso foi e sempre será o de olhar criticamente para todos os governos, independentemente se de esquerda ou de direita. Isso não significa que não tenha lado. Significa, sim, que os fatos determinam minha interpretação ? e não o contrário.?
Indico esse livro para todos que buscam compreender melhor o cenário que estamos vivendo no Brasil, independentemente se você se identifica com o posicionamento da autora ? que te chama para o debate e para a reavaliação de suas próprias convicções. Apesar da revolta que sentimos (um verdadeiro tapa na cara) com os fatos que nos cercam ao terminar o livro, Brum clama pela união dos brasileiros em busca de dias melhores.
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