Selva Brasil

Selva Brasil Roberto de Sousa Causo




Resenhas - Selva Brasil


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Davenir - Diário de Anarres 15/01/2019

História Alternativa cheia de ação, com ótimas pontas soltas
"Selva Brasil" (2010), de Roberto de Sousa Causo é uma Ficção Científica brasileira de História Alterativa. É um desdobramento da literatura de FC, que imagina os rumos políticos, sociais e/ou tecnológicos se certos acontecimentos importantes fosse de outra forma. Já temos uma tag razoável de resenhas e postagens sobre História Alternativa, incluindo a resenha da obra mais famosa da História Alternativa: "O Homem do Castelo Alto" de Philip K. Dick.


O "e se" de Selva Brasil é quando o então presidente Jânio Quadros perpetrou seu plano de invasão das Guianas contando que os EUA iriam apoiar o Brasil contra a coalizão de ingleses, franceses e holandeses os estadunidenses se voltam contra o Brasil, lançando o país numa guerra de atrito onde perdemos uma parte da Amazônia apesar do apoio militar da URSS e outros países da America Latina como a Argentina. Passados mais de 20 anos nessa guerra de atrito chegamos a 1993 quando sargento Roberto Causo, sim o protagonista é a versão do próprio autor nesta realidade, está em missão de substituição de tropas na fronteira com as Guianas e embrenha-se entre guerrilheiros desertores e no mistério escondido na selva que joga o EB contra os melhores soldados dos EUA.


O que chama a atenção da obra é que em muito poucas páginas o autor traz uma coerente realidade alterativa no plano político e seus desdobramentos, bem como uma alterativa de sua própria história, onde o autor de fato serviu ao exército mas não seguiu carreira como o seu duplo. A escrita é ágil e direta, o que é excelente para descrever a ação militar, com jargões de valorizam a ambientação do meio militar, que não conheço mas fica a prova de quem sabe. O que fica faltando para completar essa realidade é o ambiente social dessas décadas após a invasão das Guianas, mas a ambientação nas selvas brasileiras, longe das grandes cidades, camufla habilmente. Fica a vontade de ver mais histórias ambientadas nessa realidade pois ficou muito criativo e com diversas aberturas para uma continuação.

site: http://wilburdcontos.blogspot.com/2019/01/resenha-84-selva-brasil-roberto-de.html
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Paulo 11/06/2017

Roberto é um soldado do exército brasileiro participando de uma campanha de tomada das Guianas. Esta é uma guerra considerada desastrosa desde que Jânio Quadros decidiu realizá-la. Desde então acontece esta guerra há anos envolvendo até mesmo os EUA que decidiu se focar em resolver os problemas da América e deixou de lado a Guerra do Vietnã. Mas, durante uma batalha, uma estranha aeronave cai na Amazônia revelando pessoas estranhas. Estes dizem ter vindo de outro lugar muito semelhante e diferente do nosso. Quem eles são e o que escondem? E de onde saíram os seals americanos já que nenhum deles apareceu nos radares brasileiros?

Histórias alternativas são interessantes para mim. Imaginar como seriam determinadas situações se certas escolhas não tivessem sido feitas ou determinados acontecimentos tivessem tomado outro rumo. Aqui Roberto de Sousa Causo escolhe poucas peças e consegue criar um cenário bem interessante. Só que eu acho que ele deixou para explorar mais o seu cenário muito no final da história. Entendi que essa foi uma escolha narrativa, mas um dos pontos mais interessantes de livros de história alternativa é apresentar o cenário. Mas, esta é uma reclamação que não compromete tanto assim a história.

A escrita do autor é fantástica. Quando eu percebi o que ele estava fazendo, meus olhos brilharam. É uma narrativa em primeira pessoa sim, mas mais do que isso é um relato. O protagonista está contando este acontecimento insólito a outra pessoa (não contarei quem é). Porém, não se trata de um relato necessariamente escrito, mas da transcrição do relato do protagonista. Aquele que transcreveu decidiu manter todas as gírias e expressões usadas pelo personagem, o que deixou a própria fala do personagem bem única. Gostei muito desse truque narrativo. No começo eu achei que fosse algum erro de revisão, mas aos poucos eu fui me dando conta de que é a própria maneira do personagem falar. Quando finalizou a história eu já estava mais familiarizado com as expressões usadas pelo personagem. Aliás, este é um ponto que ajuda até mesmo a entender as engrenagens que o movem.

Achei apenas que o autor vacilou um pouco ao não aprofundar as características dos demais personagens. Entendo que isso é um relato, e em um relato nós acabamos não perdendo muito tempo descrevendo aqueles que estão ao nosso redor. Mas, eu me ressenti um pouco disso. Talvez interlúdios em que a narrativa passasse para a terceira pessoa tivessem ajudado um pouco mais a amenizar isso. Para mim, foi um problema. Talvez para outros leitores não seja tanto. Horas depois de ter lido a história, já não sou capaz de lembrar nomes ou características dos demais personagens. Isso é ruim.

A narrativa tem bastante descrição. Isso pode incomodar alguns leitores que não gostam tanto de certos excessos dessa ferramenta, mas aqui ela é essencial. Sem ela, o autor jamais teria conseguido levar adiante a sua história. E eu nem achei a história tão descritiva assim. Tudo é muito direto e objetivo e somos levados do ponto A ao ponto B sem grandes desvios. Em alguns momentos o autor usa um pouco de suspense para nos enganar e tornar a história menos previsível. Ele emprega alguns jargões típicos das Forças Armadas, fruto de sua experiência como adolescente no exército. Alguns leitores não curtiram esse emprego das gírias e jargões alegando que isso poderia comprometer a leitura ou torná-la mais truncada. Não achei isso; eu sei que isso ajudou na composição do relato do protagonista. Se ele tivesse retirado as gírias, a escrita teria perdido a personalidade.

A reflexão que o protagonista faz ao final do livro vale discutir. Isso porque ele coloca em questão se somos frutos de nossas escolhas ou das situações que nos foram impostas? Nessa história o protagonista tem características bem distintas da pessoa a quem ele faz o relato. Será que em outro ambiente ele faria tudo igual? O próprio conceito de história alternativa coloca isso em xeque. Não só isso, mas a sua existência anula a existência de um duplo? Sua vida é mais ou menos real do que a de seu duplo? Pensando bem nessa concepção, eu parto de uma perspectiva a la Albert Einstein: tudo é relativo. Extrapolando um pouco essa noção, a realidade é real apenas para quem a vê. Cada um de nós possui a sua própria realidade já que a construímos tendo como noção de que somos o centro de nossa realidade. Logo, o real depende de quem a constrói. Para Roberto, sua realidade é autêntica já que ele é o centro de sua realidade. Um duplo é estranho demais para ele entender alguma racionalidade nesta existência. É uma questão muito interessante e que dá um nó em nossas cabeças.

Enfim, eu curti algumas ideias apresentadas pelo autor, mas achei que Selva Brasil não me atraiu tanto assim. Mas, no geral o livro é bom e apresenta elementos curiosos como a própria escrita do autor e a ambientação criada na qual ele centra sua trama. Sem abusar muito ele cria um protagonista intrigante e bem humano que nos leva do começa ao fim durante uma incursão na Amazônia. Achei que ele pecou ao não aprofundar os demais personagens, mas entendo os motivos para tal. Eu recomendo muito, entretanto, conhecer o autor que já tem muito tempo de estrada.

site: www.ficcoeshumanas.com
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João Beraldo 11/11/2013

Selva Brasil
(...)Selva Brasil foi escrito pelo Roberto de Sousa Causo, escritor de ficção já bastante famoso no gênero, e públicado pela Draco em 2010. Só fui tomar vergonha na cara e pegar o livro para ler há poucos dias. O tema me interessou, mas eu estava em outro “clima”, e quando eu estou em outro clima, não adianta tentar ler ou jogar coisas que não se encaixem nele. Umas semanas atrás fui no lançamento do outro livro do Causo, o Glória Sombria. Estou entrando no clima space opera para voltar às vias de fato com o Véu da Verdade, mas achei que ia ser muita palhaçada ler o livro de 2013 de um autor tendo há tempos o de 2010 escondido no meu iPad.


A trama gira em torno de um pelotão do Exército Brasileiro enviado para substituir um grupo positionado na Floresta Amazônica, perto da fronteira com as Guianas. Mas nesse ‘universo’ a História seguiu um caminho um pouco diferente. Uma série de pequenos desvios, como a decisão do presidente Jânio Quadros de invadir as Guianas, levou o Brasil a um longo conflito contra Europeus e Norte Americanos, de forma que, em fins de século 20, o Brasil passa por uma espécie de Guerra Fria contra países como EUA e França.(...)

Resenha completa no link abaixo:

site: http://www.jmberaldo.com/2013/07/resenha-selva-brasil-draco.html
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Caverna 12/07/2012

A história se passa vinte anos depois de uma tentativa de invasão militar nas Guianas. O cenário onde nos encontramos, é repleto de armadilhas, minas terrestres, tanques de guerra, além de lógico, a tensão suficiente por estar numa guerra. Quando o Brasil tentou colocar o plano em prática, o exército da Holanda, Inglaterra e Estados Unidos defenderam as Guianas, onde os expulsam e ainda pegam uma parte da floresta para eles. Após os 20 anos, um grupo de soldados é mandado para substituir outro grupo, e voltarem a luta para retomar suas terras. Entre emboscadas e conflitos, eles encontram desertores que estão contrabandeando riquezas para outros países, o que só piora a situação, ainda mais juntando os soldados de outros países.

Leia mais: http://hangoverat16.blogspot.com.br/2012/06/selva-brasil.html
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Eduardo Kasse 15/12/2011

Conflitos reais: realidades imaginárias
Guerra, história, ambientação elaborada e realidade(s) crua(s).

O livro do Roberto de Sousa Causo traz uma bela narrativa de um militar na Amazônia, lutando pela pátria e pela sua sobrevivência. A todo instante tenta fazer o que é certo, mesmo nos momentos de maior tensão e caos.

As batalhas foram bem esquadrinhadas, sem exageros ou com situações "mirabolantes".

É como se sentíssemos a lama, o frio, o cheiro da pólvora e o zunido das balas. A angústia do soldado vai além das palavras.

A densidade está nas gírias, no medo, na incerteza e no surpreendente que surge repentinamente.

Uma intrigante história alternativa de um Brasil expansionista e em guerra na sua fronteira norte, ou seja, uma nova realidade, se os planos de Jânio Quadros tivessem tomado corpo.

O mais interessante é que todos os panoramas são factíveis e nada absurdos. Uma escolha poderia ter mudado tudo.

Selva Brasil é um livro cativante, um relato muito bem feito e gera uma imersão interessantíssima.

Sem dúvida, recomendo a todos.
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Alvaro 23/08/2011

Selva Brasil -- Um livro para fazer pensar
Sinopse: Numa realidade alternativa, no ano de 1993, um grupo de soldados brasileiros na selva amazônica enfrenta não só o guerrilheiros do outro lado. Jânio Quadros havia invadido as Guianas nos anos 60 e entrou numa guerra de desgaste. A luta perdera o sentido.

Roberto Causo brinca com a história alternativa, pinçando um evento dentro de uma luta imaginária, mas plausível. O megalomaníaco Janio Quadros decide invadir as Guianas e acaba mudando todo o perfil geopolítico da América Latina.

O autor mostra esta realidade a partir do depoimento de um personagem que tem o mesmo nome, como se fosse seu espelho. De uma forma inteligente sente-se na história que o Causo alternativo tenta dialogar com o Causo desta realidade, especulando sobre a vida de seu “duplo”.

Quem conhece o Causo dificilmente o imaginaria segurando uma arma e atirando em alguém. Mas será que, se estes “fatos” realmente se configurassem, a história não seria outra? Do mesmo modo, o Brasil, tradicionalmente não belicoso, entraria numa guerra de desgaste contra seus vizinhos?

E o principal questionamento do livro: onde está a maior violência? Numa guerra na selva ou o dia a dia violento que vivemos? Realmente soa irônico quando o duplo do Causo diz invejar o mundo “pacífico” de nossa realidade.

A narração centra-se em alguém que está no meio do conflito e tem uma visão fragmentária do que está acontecendo, em vez de se optar por um narrador onisciente que poderia nos mostrar todo o contexto histórico e político. Isso dá uma dimensão mais humana ao relato, pois sentimos um pouco da realidade vivida pelo personagem narrador.

Todavia sentimos que história poderia ser ampliada e abarcar todo o contexto alternativo. Isso talvez ainda possa ser feito, se Causo optar por criar mais contos, noveletas ou romances no mesmo universo, aprofundando-se nesta outra realidade.

Um livro para nos fazer pensar.
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Junior Cazeri 10/07/2011

Selva Brasil é narrado em primeira pessoa pelo próprio autor, que é o protagonista da história. Causo e um grupo de soldados estão na fronteira norte do país, no Amapá, em direção a um posto militar, onde vão render outro grupo e assumir a posição, mas, para isso, terão que passar por guerrilheiros e lidar com desertores do próprio exército brasileiro, além de desvendar um mistério relacionado a um soldado americano. Não entendeu nada? Eu explico. Nessa realidade, o governo de Jânio Quadros invadiu as Guianas, ao mesmo tempo em que a Argentina invadia as ilhas Malvinas, e colocou o país em um conflito armado com outras potências que já se arrasta por décadas e afeta a vida de todo o povo brasileiro. Inclusive a do autor, que aqui é um soldado, e não um escritor de ficção científica. O Brasil perdeu a guerra nas Guianas e também parte do território amazônico, e agora luta para reaver suas terras.

Seguindo essa idéia, Causo, que já serviu o exército e mostra ter conhecimento de armas, patentes, táticas, veículos e situações militares, conduz o leitor para o coração da selva, entre soldados ganaciosos pelo ouro amazônico, contrabadistas e interesses que passam longe, bem longe, do patriotismo. E lá pelas tantas, ainda sobra espaço para mergulhar ainda mais na ficção científica, apresentando um armamento bem estranho e fantástico nas linhas inimigas.

Mas o livro poderia ser melhor. O sub-gênero de história alternativa abre, além de qualquer outro, uma gama simplesmente infinita de possibilidades a serem exploradas. Imaginar o Brasil em guerra dentro de seu próprio território durante décadas é, sem dúvida alguma, uma idéia fantástica, mas, em minha humilde opinião, Causo não aproveitou esse cenário tão bem quanto poderia. Como a trama se passa toda em um só cenário, a selva, não percebemos o quanto esse conflito realmente afetou o país, a não ser nas minguadas descrições do personagem principal. Parece que está tudo igual, mas temos soldados lutando na fronteira. Só isso. No posfácio da obra, Causo justifica essa opção narrativa descrevendo-a como uma “história alternativa pessoal”. Sendo assim, a visão é focada só nas mudanças na realidade do personagem principal, e não do mundo como um todo. O que é uma pena, já que uma perspectiva mais abrangente seria muito mais interessante ao leitor.

Também tenho que dizer que o livro, dada a sua temática, merecia um fôlego maior, já que as oitenta e poucas páginas são poucas para um universo paralelo. Causo ainda teve o capricho de elaborar um glossário para os inúmeros termos militares que emergem do texto e poderiam assustar o leitor, assim como o já citado posfácio, onde fala um pouco mais do processo criativo e da pesquisa para o desenvolvimento do livro. Apesar de não ser brilhante, Selva Brasil dá um gostinho de um mundo diferente, com uma pitada de ficção científica em um trabalho sincero.

Resenhado no http://cafedeontem.wordpress.com/
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Marcio 24/09/2010

História especulativa a respeito do que seria o país caso o plano do porra-louca do Jânio Quadros, de invadir as Guianas, fosse levado a cabo. Segundo o livro, a invasão das Guinas levou o país a um conflito sem fim na região, persistindo ainda vinte anos depois. Somos levados para dentro da zona de batalha através do narrador, Sgt. Cauzo (ele mesmo, o mesmo Causo autor, mas em sua versão "alternativa"). A história especulativa seria o mote do livro, mas não é o que mais impressiona, já que serve mais para estabelecer o ambiente do enredo, não chegando a ser muito desenvolvida. O que agrada mesmo é a experiência do autor nas Forças Armadas, conferindo ao livro uma verossimilhança impressionante, com descrições de armas, conversas autênticas entre militares, com gírias e expressões apropriadas; e a narração dos combates no meio da selva, ponto alto de toda obra.

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Psychobooks 19/09/2010

E se os palnos de Jânio Quadors sobre invadir as Guianas tomassem outro rumo?

Nos confins do Amapá, o clima de guerra é pesado… minas terrestres, fuzis e tanques de guerra.

Esse será o cenário dessa história emocionante que tem como personagem principal o próprio Roberto de Sousa Causo, como um sargento (?) do exército brasileiro.

Uma trama que envolve grandes potências como os EUA, França e até a extinta União Soviética (nem tão extinta nessa história) onde no final tudo se resume a uma única questão (super atual, diga-se de passagem): o interesse estrangeiro na Amazônia e suas riquezas!

Gostou? Quer ler mais? Acesse:
http://www.psychobooks.com.br/2010/09/selva-brasil.html
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JotaFF 22/08/2010

Lançado em 2010 pela Editora Draco, "Selva Brasil" é uma história alternativa do escritor Roberto de Sousa Causo, onde o protagonista é o próprio autor, vivendo nesse universo paralelo. Confuso? Nem tanto.

O protagonista Roberta de Souza (com z mesmo) Causo é Terceiro Sargento do Exército Brasileiro em missão na selva amazônica. Neste universo, em 1962 o então presidente Jânio Quadros, invadiu as Guianas e alterou os rumos da história como a conhecemos. O bloco Sul Americano se uniu politica e militarmente com o Brasil nessa guerra. A nação vive agora em permanente conflito na região amazônica contra guerrilheiros mercenários apoiados pelos inimigos. As relações se estreitaram com a União Soviética. O presidente Kennedy nunca foi assassinado, e possivelmente a guerra do Vietnã também não aconteceu.

O foco da trama é mostrar como esses acontecimentos influenciaram o protagonista, diferenciando-o do Roberto Causo de nossa dimensão. Aqui em nosso mundo, Roberto serviu o exército entre 1984 e 1985, casou-se e seguiu adiante em sua carreira literária. Ao fim, ele revela em suas notas ter recebido as gravações feitas pelo seu duplo, e só agora ele decidiu revelar ao público as informações nelas contidas.

A trama flerta com a fantasia e com a ficção científica, ao explicar brevemente a ligação que conecta as duas realidades. A ação é constante, com descrições sobre as armas usadas no conflito, a movimentação dos soldados e questões de como a ganancia corrompe homens treinados. A narrativa não se aprofunda na História Alternativa propriamente dita, deixando maiores explicações para as notas no fim, situando o leitor que não conseguiu perceber as diferenças entre as duas dimensões.

No posfácio o autor revela o seu desejo de criar uma história alternativa pessoal, e isso é feito de forma competente, mas fica aquela água na boca de que o universo criado poderia ter sido mais explorado, já que as pouco mais de 90 páginas do livro são insuficientes para saciar nosso desejo por mais informações desse mundo alternativo.

(postado em http://tocajota.blogspot.com)
Felipe 28/12/2012minha estante
Muito boa sua resenha, deu pra entender direitinho a essência do livro!




Antonio Luiz 11/08/2010

Mensagem recebida de um outro Brasil
"Selva Brasil" é de Roberto de Sousa Causo. Ou será de Roberto de Souza Causo? Não é que estejamos em dúvida sobre a ortografia. O escritor de ficção científica escreve o sobrenome Sousa, com s. Mas o texto é apresentado como uma mensagem enviada por seu alter ego em uma realidade paralela, que escreve com z, mas de resto é a mesma pessoa, mas que leva uma vida completamente diferente.

Philip Roth fez algo vagamente semelhante no romance Complô contra a América, de 2004, no qual o foco é a vida de judeus estadunidenses, inclusive do próprio Roth, sob um governo dos EUA presidido nos anos 40 por Charles Lindbergh, simpatizante do nazismo e antissemita. Mas o livro do Causo (cujo primeiro rascunho é de 1993) tem outras prioridades e outro espírito.

O Sousa de nosso mundo serviu o Exército Brasileiro por 14 meses, em 1984 e 1985, mas deu baixa, casou-se com a médica e ocasional escritora Finisia Fideli, teve um filho e seguiu uma carreira literária, sendo hoje conhecido como um escritor de ficção científica. Já o Souza casou-se com outra mulher, teve outro filho, divorciou-se, seguiu a carreira militar e em 1993 é sargento e luta no Amapá em uma guerra interminável do Brasil com as potências do Norte.

No mundo de Souza, Jânio Quadros levou a cabo em 1962 o plano, com o qual realmente sonhou, de invadir as Guianas para anexá-las. Apoiados pelos EUA, britânicos e franceses repeliram o exército brasileiro e ocuparam parte do território brasileiro na Amazônia, iniciando uma longa guerra de atrito. Os soldados brasileiros enfrentam continuamente guerrilheiros-mercenários apoiados pelos inimigos do norte e o Brasil tem o apoio dos outros países sul-americanos nesse confronto inclusive o da Argentina, cujas tropas na mesma ocasião tomaram as ilhas Malvinas, mas foram expulsas pelos britânicos.

Como literatura, aventura na selva e história de guerra, é muito bom. Ao contrário do livro anterior de Causo, "Anjo de Dor", que tem um início morno, este eletriza desde o começo. Em algumas obras mais antigas do mesmo autor os heróis são esboçados de maneira superficial ou deixam-se manipular por forças misteriosas com tamanha falta de questionamento que chegam a parecer pouco verossímeis, mas desta vez o protagonista tem ideais e valores claros, age por si mesmo e parece crível e interessante. A linguagem informal e cheia de gírias militares usada pelo escritor ajuda a tornar a história mais "verdadeira" e palpável.

Deixa um pouco a desejar, porém, a quem se interessa pelos aspectos mais amplos da "história alternativa" propriamente dita. A história gira em torno de um incidente que, caso se mudasse o contexto e uns poucos pormenores (e descartando o elemento de ficção científica que, no romance, permitirá a comunicação entre os dois universos), poderia acontecer em nosso mundo, com alguma tropa brasileira envolvida em guardar a fronteira contra guerrilheiros das Farc ou narcotraficantes de qualquer país vizinho.

A ênfase é na aventura e em como a guerra modificou a história pessoal do autor e de parentes, amigos e conhecidos. Com a participação especial e involuntária da minha colega de CartaCapital Rosane Pavam (editora de cultura) a quem o Sousa enviava material sobre ficção científica e a cujo duplo no Universo Paralelo (que, em 1993, também trabalha no Jornal da Tarde) o Souza escreve uma carta verídica.

Os soldados brasileiros do mundo paralelo usam armas russas, mas quem não fez serviço militar nem se interessa por questões bélicas mal vai notar. As alterações geopolíticas do cenário são citadas só de passagem e à distância, nos aspectos mais essenciais, sem que suas consequências sejam muito desenvolvidas. Ficamos sabendo, mesmo assim, que John Kennedy não foi assassinado, que os EUA não se envolveram no Vietnã devido à prioridade à guerra nas Guianas, que a União Soviética continuava a existir em 1993 e a América do Sul uniu-se militar e economicamente num Mercado Integrado.

Exceto pela menção de que no mundo paralelo o Corpo de Bombeiros não é subordinado à Polícia Militar, nada se diz sobre como a divergência histórica afetou a vida civil, a política e a cultura do Brasil depois de Jânio, embora não faltassem oportunidades de aludir a disso. Esse aspecto poderia ter sido mais desenvolvido para tornar a narrativa mais interessante.

Mas a opção de Causo, como explica no posfácio, foi escrever uma história alternativa pessoal, e dirigir também ao leitor a pergunta Quem é você?. Onde você estava em 93?, escreveu-me no exemplar autografado no lançamento. Quem você seria se as circunstâncias que o formaram fossem diferentes? Como viveríamos em um Brasil envolvido em uma guerra permanente por uma decisão arbitrária de um presidente dos anos 60? E o que fazemos com a paz que desfrutamos por não termos dado esse passo, apesar de sofrermos com conflitos na cidade e no campo?

A proposta é levar o leitor a refletir sobre como experimenta e questiona a história do Brasil e da América Latina, bem como sua própria vida. Pensar em como suas próprias decisões, assim como as decisões coletivas nas quais é envolvido com ou sem a própria participação, ditam sua vida. Nisso, é muito bem-sucedido, embora talvez o objetivo fosse atingido de maneira mais completa se o Sousa nos permitisse entrever um pouco mais do que se passa no resto do Brasil do Souza, para além dos quartéis da selva.
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