Leila de Carvalho e Gonçalves 09/06/2020
Prêmio Pulitzer de Ficção
Criado em 1917 e administrado pela Universidade de Columbia, o Pulitzer é concedido anualmente a jornalistas, escritores, artistas e fotógrafos. Ele é considerado uma das mais expressivas premiações do mundo e divide-se em 21 categorias, sendo o que uma delas é dedicada a Ficção. No caso, é escolhido um romance de um autor norte-americano que, publicado no ano anterior, destaca-se não só pela qualidade estética e importância simbólica, como preferencialmente pela vida e fatos do país.
Nestes poucos mais de 100 anos de existência, apenas 4 escritores tiveram o privilégio de recebê-lo duas vezes. São eles: Booth Tarkington, William Faulkner, John Updike e Colson Whitehead, um genial escritor negro que com apenas 50 anos pode tornar-se o primeiro a superar esta marca.
Em 2017, o vencedor foi seu romance Os Caminhos Para a Liberdade cujo fulcro é o anseio pela liberdade durante Escravidão e três anos depois, em 2020, foi vez de O Reformatório Nickel, um macabro relato sobre a segregação racial na era Jim Crow, aliás, o racismo, apesar dos avanços, ainda perdura, divide e fere indelevelmente o tecido social do país.
O narrativa foi inspirada numa história real. A Escola Dozier foi criada na Flórida para ser um centro de ressocialização de menores que haviam cometido algum tipo de crime, entretanto com o passar dos anos, passou a receber desde órfãos acima de 5 anos até adolescentes responsáveis por pequenos delitos, como "falta à escola". Após 111 anos de funcionamento, em 2011, o estabelecimento foi fechado e o que realmente ocorria no local veio à luz, com a descoberta de mais de 50 sepulturas de internos considerados fugitivos nas suas dependências. Por sinal, Colson jamais visitou a Escola Dozier, afirmou que seria uma experiência devastadora, ?como um trator com dinamite?.
Outra atitude tomada pelo escritor, foi fundamentar-se na realidade, evitando elementos especulativos ou fantásticos de dois de seus sucessos: Zona Um e Os Caminhos Para A Liberdade. Portanto, é mediante esta perspectiva que o leitor acompanha o protagonista: Elwood Curtis, um jovem negro, estudioso e de boa índole que é declarado delinquente e enviado ao Reformatório Nickel depois de um mal entendido a caminho de seu primeiro dia de aula na Universidade Aulas.
Separando brancos e negros e oferecendo tratamentos diferentes conforme a cor da pele, neste centro de reabilitação, Elwood conhece o afrodescendente Jack Turner, ou simplesmente Turner, que se torna seu melhor amigo. Enquanto o primeiro é ?dolorosamente bom? e crê num mundo melhor; o segundo já perdeu as esperanças e para ele, o país onde vive, ?baseia-se no genocídio, assassinato e escravidão e sempre será assim".
A bem da verdade, com um desfecho inesperado e tocante, o livro prima por personagens marcantes, como Griff, um jovem que era o melhor boxeador do Nickel, mas não sabia nem ao menos somar, ou Jaimie, filho de mãe mexicana que, se não tomasse sol, ficava no prédio dos brancos, caso contrário, era enviado para conviver com os negros.
Finalmente, quando foi comunicado que O Reformatório Nickel vencera o Pulitzer Prize em 2020, a banca de jurados considerou que o romance não só reporta a ?uma exploração avassaladora e devastadora e abusos num centro de correção?, mas também uma narrativa ?poderosa de perseverança, dignidade e redenção humanas". Um sopro de esperança capaz de reavivar a fé na humanidade.