Julio503 27/02/2024
Na Sombra do Nickel
"Até na morte os meninos eram um problema". Essa é uma das frases mais fortes que o livro tem, e ela vem logo no começo, como um soco na cara. "Quais meninos? O que eles fizeram? Para quem eles eram um problema?"; essas são akgumas das perguntas que correm a mente nas primeiras páginas e que, durante o livro, vamos descobrindo a base de dolorosas doses de realismo, um realismo seco e cruel, que não poupa a sua consciência.
Com tudo isso, algo me chama mais a atenção: por mais que tenhamos um protagonista na figura de Elwood Curtis, em momento algum ficamos presos a ele. Assim que o mesmo entra no reformatório e conhecemos um pouco mais desse ambiente tortuoso, com seus arrasados internos, vemos que os garotos do Nickel (que, segundo eles mesmos, assim eram chamados pois "não valiam nem um níquel") são parte de um corpo que protagoniza a violenta história da luta racial norte americana. Podemos até ter um nome que sobressai de maior forma, mas todos os garotos (negros, brancos ou latinos), são nosso Elwood, são o fruto do Nickel, são os lutadores num ringue onde, aparentemente, apenas tem o direito de apanhar.
O livro não é perfeito, de fato. Existem falhas quanto a ambientação (poderiam ter mais relatos de como a violência afetava os garotos e suas relações interpessoais), e também em relação ao seu final (toda a parte três está mergulhada num cinismo atípico em relação ao resto do livro, cinismo esse que é natural para um personagem específico, mas não para o nosso Elwood. Tal fato chega a atrapalhar por alguns momentos). Porém, tudo se resolve no epílogo, onde temos o refrigério de uma alma tortuosa (e torturada, assim como o seu corpo) na forma da verdade do Nickel que vem a tona.
Um ótimo livro!