lAvia511 11/07/2024
"You can get what you want, or you can just get old"
A leitura da minha adolescência, dificilmente a da minha vida. Eu sonho em finalizar essa obra desde os 14 anos, hoje, finalmente, termino de ler ela com 16. Oscar Wilde, apesar de, na época, ter passado por toda a censura em relação a sua escrita, transmitiu pra mim, em 300 páginas, o conhecimento oculto de todo um período.
Uma das citações do livro que NUNCA saiu da minha cabeça é "Procure resistir e sua alma há de aspirar doentiamemte a tudo que quiser preservar-se, com a agravação do desejo por aquilo que todas as leis monstruosas tornaram ilegal e monstruoso". Eu nunca entendi como o lorde Henry pôde ser um homem tão sábio, mas tão burro, simultaneamente. Sempre tão observador, possuidor de um vocabulário absurdo, poético, mas sempre TÃO machista, tão mente fechada, tão pé no chão.
Dorian Gray, a verdadeira personificação do adolescente contemporâneo. Em uma sociedade onde, atualmente, a beleza é tão importante, que aliás, funciona como uma máscara para a decadência que o tempo proporciona à humanidade, é fascinante a obsessão de Dorian pela estabilidade de sua mocidade, e mais fascinante ainda como é justamente isso que o faz perder a essência de sua alma.
Basil Hallward, um artista, um verdadeiro romântico, sinceramente, a pessoa mais normal do livro todo. Nunca vou entender o ódio que alguns, inclusive lorde Henry e Dorian possuíam por Basil, que além de presentear Dorian com sua pintura que relevou a beleza de uma existência toda, o proporcionou viver insento de seus pecados, teve a certeza, desde o princípio, que lorde Henry seria o verdadeiro declínio do adolescente e o faria perder toda a sua essência.
Esse livro é absurdo, muito complexo, muito completo, muito poético, nos releva coisas ocultas, nos ensina tanto e nos fascina tanto. O tempo, a juventude, únicas coisas que nunca voltam, mas não as únicas coisas de valor no mundo contemporâneo. A obsessão pela estética no mundo atual nos faz crêr que crescer e envelhecer é algo ruim, que nos torna menos interessantes, mas o quão perturbador é envelhecer obcecado pelo que a passagem do tempo, algo totalmente inevitável, fará com a nossa aparência? Não seria mais íntegro preocupar-se em manter a essência da alma durante o correr dos anos que a suavidade da pele? É muito triste que o vazio existencial que a sociedade possui dentro de si acarrete a necessidade de validação e aceitação dos outros, o completo retrato das redes sociais, e, consequentemente, a obsessão pela beleza e pela estética, Oscar Wilde, você estava afrente do seu tempo, apenas se fecharmos os olhos para os trechos racistas machistas. O que acontece é, muita gente não percebe que a juventude não traz somente a beleza, mas a inocência, e pessoas morrem por dentro todos os dias por não terem aproveitado sua mocidade, a época em que os traços joviais as faziam tão belas, mas você verá poucas pessoas relatando a falta da inocência, a única coisa exclusiva da juventude e que nos insenta de tanto sofrimento, e nos proporciona tanta felicidade e liberdade. O fato é: pessoas morrerão, o tempo passará, e a indústria da estética e da cirurgia lucrará milhões com o desejo de almas perdidas em reencontrar-se, mas nunca existirá qualquer procedimento estético que nos devolva o estado de espírito pelo qual ansiamos tanto, que reclamamos a ausência, que nos insenta do sofrimento, que permite que não soframos o declínio da sociedade e que nos permite viver o ouro de nossos dias: a inocência.
Descanse em paz, Oscar Wilde, você iria amar discorrer sobre os perigos dos procedimentos estéticos e das redes sociais.
(Outra coisa aleatória a notar-se é o paralelismo entre Dorian Gray e "Vienna" do Billy Joel)