spoiler visualizarSoín_maneiro 07/03/2024
Tudo, em todo lugar e a todo momento
Eu simplesmente amo o terror desenhado por Junji Ito, seu enredo, e principalmente sua arte, são definitivamente as mais cativantes que já vi, seu traço me agradou de mais, me lembrando um pouco o traço de Berserk. O considero o "Lovecraft" dos mangás haha.
Este livro conta quatro histórias, a primeira não me agradou muito, mesmo sendo de um autor que eu gosto. O personagem não tem carisma, e sua loucura não é justificada, de primeira pensei que fosse por ter matado seu melhor amigo, o que se mostra um evento totalmente ignorado, dando a entender que aconteceu em um universo paralelo, jogando toda culpa de suas alucinações no seu "isolamento'', o que não faz muito sentido, já que, por ser um estudante e frequentemente visitar seu primo, não se cria uma essa atmosfera. Porém o autor faz bem em nos deixar na dúvida se o personagem está realmente louco, ou se aquilo é real, mesmo respondendo esta pergunta indiretamente no final da história, a arte deste capítulo com certeza é muito boa, os personagens presos na parede, derretendo e até em momentos de desespero são muito bem retratados. O livro trás mais duas histórias curtas, que não vejo necessidade de trazê-las, uma vez que podem ser interpretadas como curtas de terror, sem um desfecho, que dependendo do enredo se torna um problema, ou apenas devaneios do autor.
A história principal, faz uma releitura do livro do Frankenstein, que eu não li ainda. a história retrata Victor Frankenstein como um entusiasta cientista no século 18, na época do iluminismo. Um ponto que me chamou atenção foi como o autor retratou Victor como uma pessoa que anseia ser como Deus, algo que eu acho básico em todo ser humano, porém alguns pontos o faltavam para sequer poder almejar verdadeiramente tal ato, como a compaixão, que não demonstrou por sua criação, criando uma história trágica. Quando ele consegue tornar seu monstro numa criatura viva, ele sente medo e repulsa, não por odiar o que fez, mas sim por não conhecê-la, uma vez que Frankenstein se mostra ter todas as características de um ser humano ao decorrer da obra, que é, ao meu ver, perfeita no desenvolvimento do mesmo. Ao longo da trama, o monstro revela ser extremamente inteligente, aprendendo a ler com poucas lições, o mesmo demonstra ser um ser amoroso, quando revela que quer um amor ou uma simples companhia, se sentindo com o adão de um deus negligente, porém ao descobrir sua natureza de "ser imperfeito" ele acaba se sentindo como lúcifer, um ser destinado a sofrer, criando outras características que são inerentes ao ser humano, como raiva, rancor e ganância, se tornando a criatura que odeia seu criador. Perto do final da história, Frankenstein obriga Victor a construir uma esposa para amar, o autor deixa em aberto se é pela necessidade de ter (ganância), ou pela falta de alguém para se ter como companheira, o que eu não acredito, uma vez que o monstro demonstrou brechas em criar relacionamentos anteriormente na história. Com certeza essa parte revela uma falha dos dois personagens, uma vez que o monstro não consegue olhar para o futuro, e Victor, numa tentativa de criar uma mulher com o objetivo de matar Frankenstein, demonstra medo, que acaba se tornando sua ruina, com o monstro descobrindo o plano e matando a mulher e todos que Victor amava, tentando demonstrar para o mesmo como se sentia no mundo, sozinho. No final, depois de alguns anos, Victor perseguiria o monstro e acabaria morrendo no processo, o monstro por sua vez acaba se desesperando, o autor deixa implícito que Frankenstein se matou. Gosto deste desfecho, revela que apesar de se sentir sozinho, Frankenstein nunca esteve sozinho, sabia que podia compartilhar a dor de sua existência com seu criador, mesmo o odiando, e quando percebeu que perdeu sua única "rocha'', nem a vida valia mais apena.
Mais uma vez, admiro como o autor pontuou a necessidade de Victor de ser com Deus, quando ele construiu o monstro, não sentiu nada, apenas a necessidade de cria-la, porém quando percebeu que era um fardo que não poderia carregar, sentiu repulsa para criar a segunda besta a mando da primeira, uma vez que precisava usar cadáveres para monta-las. Para mim, a história poderia se resumir a birra, A birra do doutor de se igualar ao criador gerou um monstro, que também tinha sua birra, de não querer viver só, o que acabou gerando um efeito "dominó" de ódio, rancor e perdas de ambas as partes.