@esttrelante 26/12/2021
É sem vergonha, mas tem uma vivacidade que inflama o peito.
Mais um contemporâneo da Karina na conta e mais uma vez ela arrasa. Com sua escrita poética, fluida e arrebatadora, me levou no lombo de um cavalo bravo até uma bela fazenda em Goiás para uma aventura inesquecível. Conheci um casal briguento, de língua afiada e fogo no traseiro sem igual. Rasguei em risadas sonoras por uma agente neurótica e sistemática. Rangi os dentes pela manipulação, oportunismo e injustiça tanto quanto suspirei pelo amor, carinho e cuidado.
Ambos os protagonistas me chamaram atenção pela força e perseverança. Pela luta por algo concreto, por reconhecimento e amor. Eles se diferem de muitas formas, mas o buraco dolorido no peito é o que une os dois. A imperfeição, a desconexão com o comum, o suplício do desamparo e carinho por um desajeitado animal. Sendo assim, Dante, Mariana e Selvagem formaram um trio feio, quebrado e excluído. Encontrando abrigo na imperfeição e dividindo muito mais do que quilometros e quilometros do vistoso pasto da Alvorada.
Até que a fazenda se tornou pequena demais para os sonhos dela, e o que Mia almejava, Dante sabia que não poderia suprir. Foi muito doloroso saber o quanto ele desejava dar o mundo a ela, mas estando limitado pelo fardo de uma traição alheia, não pode. Ele se sentiu tão pequeno quanto Pirenópolis foi para Mia Diniz. Então, ele a deixou partir, logo após partir seu coração.
Após 13 anos, Selvagem morreu, trazendo Mia de volta a Goiás. E ... Meus amigos ... O reencontro entre essas feras arriscas causou rebuliço no meu estômago.
Eu adoro "Enemies to lovers", embora, vez ou outra, encontro alguns casais pouco palatáveis durante uma leitura. Certos aspectos no desenvolvimento ( talvez ataques se prolongam demais, agressivos demais ou brigas que beiram a infantilidade) acabam gerando preguiça. Felizmente, Dante e Mia mostraram seu diferencial e arrancaram uma boa dose de risadas nas trocas de farpas e embates. É maravilhoso quando as cenas vêm carregadas de sagacidade e malícia.
O Tinhoso de Goiás é feito de uma inexplicável dureza e selvageria, uma verdadeira força da natureza com atributos excitantes e uma honra admirável. Trabalhador, esforçado e determinado. Dante me deixou feito eucalipto estalando no meio da fogueira de São João. O bicho é quente e cafajeste. Cafajeste pra dedéu. Tendo seu contraponto um coração enorme, capaz de amar por uma década em silêncio e berrar uma década mais. Capaz de estender a mão a quem o rejeitou. Capaz voar meio mundo atrás da amada. Apaixonada por esse peão.
E para lidar com um demônio desse só sendo tão casca grossa quanto. Mia dá conta do recado, claro. Dura na queda, ela soube lidar não só com Dante, como todos seus dilemas na vida. O que precisava ser feito, ela fez. Ora durona e dona do próprio destino, ora mulher apaixonada que precisa daquele peão, mostrou um amadurecimento emocional contínuo até poder entender onde é seu verdadeiro lugar ao sol. Estou até agora pasma com o peso das garras dessa fera selvagem que, cai entre nós, fez uma bela justiça.
A trama instigante e bem desenvolvida, personagens cativantes e engraçados, desenrolar das cenas envolventes. Literalmente, você espera um desfecho, mas a história toma um rumo surpreendente. Adorei suspirar de amor e paixão junto com esse casal explosivo. Final lindo e prova que filho de peixe ... Aliás, filho de Leão com Lobo Guará ...