spoiler visualizarAlguém q lê 12/05/2024
It did have that kind of feeling where you know you're in a time of your life you'll remember forever.
QUE LIVRO!!!
Toda vez que penso sobre penso sobre algo diferente e sobre seus significados. É tão rico em personagens e na história. Uma coisa importante sobre ele é que o formato é todo em entrevista então tem os nomes dos personagens e suas falas contando sobre diferentes visões e opiniões sobre uma história que aconteceu anos atrás no auge da banda The Six nos anos 70. E pelo jeito de algumas resenhas que andei lendo, esse estilo não agrada todo mundo e pode parecer até meio confuso dependendo da situação.
No meu caso, esse livro foi devastador, marcante, inesquecível e perfeito. Poucas vezes uma leitura me prendeu tanto e me emocionou tanto.
Os personagens podem ser um pouco chatos. Por vários motivos: eles são velhos, pessoas que viveram em um tempo onde as ideias eram muito diferentes; as vezes as personalidades deles possuem vários defeitos que ficam a mostra mais do que de outros (por exemplo, a Daisy é claramente uma menina mimada); a banda não terminou em bons termos então cada um está contando um lado bom de si mesmo que pode parecer claramente falso ou pode acabar contrariando o que um outro personagem fala (porque esse livro tem o intuito de imitar uma entrevista que poderia acontecer na vida real).
São diversos personagens mas os principais acabam sendo os integrantes da banda. Obviamente existem alguns personagens que vivem aparecendo em momentos importantes da história tipo a Camila e a Simone.
Sobre a relação entre Billy e Daisy acho que existe tanta coisa pra falar sobre que até me perco. O Billy era realmente um traidor que só se importava com a sua diversão e acabou se deixando levar pela vida de rock and roll e tudo de ruim que isso trazia. No começo do livro, já ficamos sabendo da história dele e da Camila antes mesmo da Daisy chegar na banda. O Billy havia traído a Camila várias vezes (enquanto ela estava grávida), perdido o nascimento de sua primeira filha por causa dos seus vícios e depois decidiu se internar em uma clínica para tratar seu comportamento. Também é falado sobre sua família, o comportamento de seu pai com sua mãe e com Billy e seu irmão, Graham (que também fazia parte da banda). O pai dos dois também tinha problemas com bebida e havia largado sua esposa com seus dois filhos para casar com uma mulher mais nova. E é óbvio que tudo isso impactou muito a vida de Billy e de seu irmão.
A questão é que Billy sempre voltava para Camila, pedia desculpas pelo seu comportamento e não mudava. Ele só fazia tudo aquilo para satisfazer seu ego (algo que nunca acontecia totalmente e o fazia ficar procurando por mais e mais) e nem sequer ligava tanto assim para sua família. Mas, apesar de tudo isso, a relação conturbada entre Billy e Camila continuava e ele parou de beber e abusar de coisas que o faziam mal. Tudo parecia até tranquilo entre os dois. Até...
Tudo muda quando Daisy aparece. Daisy era uma menina rica, muito bonita, talentosa e que não recebeu muita atenção dos pais e por esse motivo procurava por atenção saindo com caras mais velhos para bares e lugares estranhos. O livro apresenta a Daisy como uma pessoa mimada e "quebrada", o que além de sua aparência e talento fez com que ela fosse exatamente o que a mídia queria: "We love broken, beautiful people. And it doesn't get much more obviously broken and more classically beautiful than Daisy Jones."
Várias coisas acontecem e no final a Daisy consegue entrar na banda, que agora passa a se chamar Daisy Jones and The Six. Daisy tem uma personalidade forte e não aceitam que lhe digam o que deve fazer. Billy também é mandão e se acha o melhor de todos. Os egos dos dois se chocam, o que no começo acaba criando bastante atrito e uma relação de raiva e desentendimento entre ambos. Mas depois do sucesso que foi a primeira canção da banda com a Daisy, eles percebem que juntos são capazes de criar arte. A relação dos dois melhora consideravelmente. Billy e Daisy passam horas escrevendo canções, pensando em acordes, chegando em acordos sobre a banda e sonhando com os shows.
A relação vai ficando cada vez mais próxima e com o tempo sentimentos vão surgindo. No livro fica claro que Daisy amava o Billy e que Billy nutriu sentimentos por ela (mesmo tendo uma esposa e uma filha), talvez não tão fortes quanto os dela, nunca saberemos ao certo. Tudo isso acontecia durante as gravações do álbum "Aurora" que durou mais ou menos um ano.
Uma das características mais geniais desse livro é o fato de que nós, os leitores, só podemos tirar conclusões de relatos de outras pessoas que viveram essas situações mas nunca iremos saber o que de fato aconteceu (algo que é falado no inicio do livro, e só por essa frase eu já sabia que esse livro seria incrível). Na minha opinião, Daisy e Billy tiveram um caso, porque somente uma simples declaração de um dos lados não seria a causa da música da Daisy que era claramente uma mensagem pro Billy. Nenhum dos dois contam do mesmo jeito alguns acontecimentos muito menos chegam em um acordo sobre qual o significado das letras de suas músicas escritas naquele período. " Daisy: It's an album about needing someone and having them love someone else. Billy: It's an album about the push and pull of stability and instability. It's about the struggle that I live almost every day to not do something stupid. Is it about love? Yeah, of course it is. But that's because it's easy to disguise almost anything as a love song." Nesse trecho da para perceber como ambos tem visões diferentes. Enquanto Daisy enxerga tudo como o seu primeiro amor, Billy vê uma situação de instabilidade. Daisy vê em Billy sua alma gêmea, alguém que a complete mas esse alguém já tem seu amor, já tem sua alma gêmea. Billy vê em Daisy uma pessoa que o confunde, toda a situação é uma batalha interna entre seus desejos e a necessidade de se manter estável pra sua família.
Durante todo o livro, Daisy vai amadurecendo. No começo ela claramente não tinha uma visão muito certa sobre amor. Ela era confusa e nunca tinha realmente sentido tudo o que esse sentimento podia trazer a tona até conhecer Billy. De um certo modo, ela luta por ele, nutre esperanças que ele iria perceber todo o seu amor e largaria Camila. Isso porque os dois realmente se entendiam, o Billy fala: "Everything that made Daisy burn, made me burn". O problema era que ele já tinha uma família, ele já tinha para onde correr (Billy sempre voltava para Camila porque sabia que apesar de tudo que ele fizesse ela continuaria lá, lutando pelo amor que ela tinha pelo Billy e lutando pelos seus filhos), enquanto Daisy tinha só sua amiga Simone para lhe apoiar.
Ela tentou de tudo, até casar com um príncipe nada a ver ela casou, na tentativa de ficar livre desse sentimento por Billy. Mas nada disso adiantou, ela só se afundou nos vícios e aos poucos ela se perdia cada vez mais. Daisy era muito nova e envolvida nesse mundo do rock and roll ela não conseguia ver outra vida. Em um trecho do livro, a personagem fala que pensava que esse amor calmo, essa vida mais tranquila sem os altos e baixos malucos da turnê eram para mulheres tipo a Camila, não para mulheres como ela. Ou seja, Daisy se comparava, enxergava em Camila o "caminho certo". Caminho esse que era oposto àquele que ela estava traçando e não via nenhuma saída para tudo aquilo, Daisy havia perdido as esperanças em si mesmo e vivia buscando por esse algo que faltava no seu interior nos seus vícios e nos seus relacionamentos. Billy de um certo modo fazia a mesma. Daisy e Billy só se entendiam porque eles estavam perdidos no meio de tudo, juntos eles se destruiriam.
Para finalizar a história conturbada entre Daisy e Billy, uma das últimas cenas do livro acontece no final do ultimo show da banda. Em que Camila encontra Daisy chorando e meio bêbada. Ela ajuda a vocalista da banda a entrar no seu quarto e começa a conversar com Daisy sobre toda a situação a fim de colocar um ponto final em tudo. Camila havia esperado Billy acabar com toda aquela situação pois acreditava nele e no seu amor por ela e pelos seus filhos. Obviamente Camila sabia de tudo, mas ela também sabia que o Billy ia voltar para ela e que tudo se resolveria como antes. Só que diferentemente das situações anteriores, dessa vez Billy estava mais confuso, a turnê duraria muito e Daisy havia se tornado extremamente próxima de Billy. Então Camila resolve agir, já que ela havia dado tempo o suficiente para Billy se resolver. Poucas vezes ela havia feito isso, porque é algo que vai contra a natureza do relacionamento dos dois e contra a natureza dela também. Camila tinha o seguinte pensamento sobre os avisos e restrições para fazer Billy mudar: "No amount of advice or lectures or trying to chain somebody down ever stopped anyone who didn't want to stop in the first place."
Bom, Daisy desabafou e Camila a compreendeu mas também a alertou que nada disso podia continuar e que Daisy necessitava seguir seu próprio caminho porque Billy não iria terminar seu casamento e largar sua família. E quanto mais tempo Daisy se iludisse com isso, pior ficaria. Camila fala para Daisy que ela ainda era nova, podia fazer várias coisas e não precisava continuar empacada em uma situação que que a fazia mal só porque ela não conseguia enxergar todo o seu potencial. "'Don't count yourself out this early, Daisy. You're all sorta of things you don't even know yet.' That really stuck with me. That who I was wasn't entirely already determined. That there was still hope for me." Essa situação toda faz Daisy entender que ela ainda poderia ser tudo aquilo que ela sempre quis. Que ela ainda poderia mudar e seguir em frente. E por isso, Daisy sai da banda naquela noite indo embora sem ninguém, além de Camila, saber. Mais tarde no livro, com uma visão mais madura sobre o acontecimento, Daisy fala que se ela tivesse continuado na banda, se machucaria ainda mais porque continuaria insistindo em uma situação que só a fazia mal sem nem sequer pensar que ela estava machucando outras pessoas também. Ela agradece Camila por "acorda-la" para a realidade e ter salvado sua vida.
Agora, vou falar um pouco sobre outro casal que apareceu nesse livro: Karen e Graham. Os dois não são tão interessantes quanto Billy e Daisy, mas da para comentar algumas coisas sobre eles.
Graham e Karen começam a ter um caso no final das gravações do álbum/começo da turnê. E Karen nunca amou Graham assim como ele a amou. Mas ela acaba grávida (e nem um pouco contente com isso, porque não queria ser mãe) e Graham fica muito feliz e fala pra ela ficar só em casa enquanto a banda continua em turnê. Karen, que sempre havia trabalhado o triplo para ser reconhecida ficou obviamente muito brava e acabou abortando. O que fez Graham ficar com muita raiva e extremamente chateado. Karen por outro lado, ficou aliviada.
Com o fim da banda, o irmão mias novo de Billy Dunne, formou sua família e realizou seu sonho. Karen continuou sua carreira e também realizou seu sonho, mesmo vivendo sozinha.
Ela fala que a ideia que tinha de relacionamento para sua época, não era aceita. Pois para os padrões da época, uma esposa tinha que ficar em casa e cuidar de seus filhos enquanto o marido trabalhava e realizava seus sonhos. Karen queria poder fazer ambas as coisas e ter apoio de seu marido, assim como apoia-lo também. Mas, como isso não foi possível, ela preferiu ficar sozinha do que passar sobre seus princípios básicos. Na série, a personagem da Karen se mostra arrependida por ter terminado sozinha, algo que me irrita profundamente. Porque esse livro não é somente sobre um triângulo amoroso em uma banda de rock nos anos 70. O livro fala sobre amadurecimento, escolhas, sonhos e principalmente como é possível as mulheres também serem profundas e possuírem sonhos diferentes apesar de todas as pessoas tentarem engessa-las em um modelo ideal.
Enfim, resenha enorme com os pontos principais desse livro. Pois ele é uma fonte quase inacabável de assunto. Repleto de personagens complexos e além de tudo possui uma história incrível que é viciante. Assim como o título da resenha diz, vou lembrar dessa experiência até o resto de minha vida. E graças a ele, pretendo ler mais livros dessa autora e espero que goste tanto quanto gostei de Daisy Jones and The Six.