Tamara 26/04/2024
Uma história que segue os moldes clássicos de aventura: é preciso combater o mal indo atrás de itens mágicos para realizar um ritual determinado por uma profecia. O diferente nessa história está no plano de fundo dela: se passa em um país fictício, mas bem inspirado na Nigéria e com o uso do misticismo dos orixás.
Aqui nós temos quatro adolescentes correndo atrás da salvação da humanidade e isso sempre me pega um pouco porque eu imagino o que será da humanidade se a gente deixar apenas adolescentes tomando conta dela. Nenhum adulto antes pensou que, sei lá, seria interessante romper com o regime ditatorial de um rei completamente delulu? Mas tá, ok...
A história se desenrola sob três pontos de vistas: o da menina comum que de repente descobre que não é tão comum assim e se sente culpada o tempo inteiro por todas as mortes do mundo (alo Katniss Everdeen, temos visita!); a princesa que rompe com o pai pra ir em busca de fazer a coisa certa; e o príncipe que vive em uma dualidade entre agradar o pai (sempre me pego pensando que se tivesse um psicólogo no momento, 70% das histórias de fantasia não seriam desenvolvidas porque ô povo pra ter daddy issues) e, sei lá, ser uma pessoa minimamente boa.
Desses três pontos, o que mais me agradou foi o da princesa. Ela foi criada com todos os mimos da realeza, mas teve uma mãe narcisista que só se importava com o filho e um pai genocida. Ela é o tipo de personagem feminina que eu gosto muito de ler: a guerreira, mas que não abraça características masculinas para ser vista como forte. Ela chora, duvida de si mesma, é aparentemente fraca em alguns momentos, extremamente empática e carinhosa – ela tem muito da Sansa com pitadas da Arya.
Já os outros dois pontos – do príncipe e da menina comum – foram um certo desafio para mim. Os dois tem temas muuuuito próximos aos do Nehza e da Rin, de A Guerra da Papoula. Os desafios e a relação entre eles são quase iguais aos dos personagens da R. F. Kuang, porém acho que em A Guerra da Papoula, esses conflitos foram trabalhados de forma mais adulta do que aqui. Tem momentos que os dois estão sendo MUITO adolescentes clichês e isso pode irritar um pouco uma audiência mais velha. Bom lembrar que livros tem público alvo, então eu me irritar diz mais sobre eu estar fora desse público do que necessariamente sobre qualidade do material.
No geral, gostei bastante do livro e pretendo continuar a série. É reconfortante ver o que a nova geração anda trazendo para um gênero tão predominantemente branco e masculino que é a fantasia.