spoiler visualizarHenrique 09/06/2024
Religião e sociedade em As Brumas de Avalon
A primeira vez em que tentei ler As Brumas de Avalon, eu tinha 17 anos. E agora aos 26, tentei novamente e não só li primeira vez o ciclo completo, como devorei o livro e me apaixonei pelos personagens e pela Inglaterra.
Sempre tive muita curiosidade em conhecer o ciclo Arturiano, mas nunca me interessei pelos livros. Esse foi meu primeiro contato com a lenda, que despertou, em mim, o desejo por conhecer os cenários narrados no livro: Tintagel, Glastonburry/Avalon, Londres/Londinium e até mesmo Camelot (que sabemos ser uma lenda).
Não vou considerar os crimes cometidos pela autora - os quais fiquei sabendo depois que havia iniciado a leitura - para fazer esta resenha. Vou atentar unicamente aos personagens e a história.
Resumindo: a história é contata pelo ponto de vista das personagens femininas: Morgana, Viviane, Igraine, Gwenyfer, Morgause e outras.
A história acompanha a ascenção e queda do Rei Artur, o surgimento de uma nova religião dominante na Bretanha e as guerras contra os saxões. Com fatos históricos e um pouco de lenda, o enredo também tem um pouco de fantasia ao trazer o misticismo da Ilha das Fadas: Avalon.
Inicialmente eu quis ler as Brumas de Avalon por conta das inspirações na lenda de Avalon, que para mim que sou wicca, foi praticamente uma aula de magia todas as vezes que a Morgana praticava feitiçaria e falava dos Mistérios.
Com o tempo, me interessei mais pela história, pelos personagens e principalmente pela questão social, política e da religião que o livro discute.
Uma forma de uma população dominar outra é impondo seus costumes e ritos sobre outra população mais fraca e vemos isso acontecendo no livro quando os cristãos querem dominar a Bretanha. E eles fazem isso usurpando símbolos, destruindo templos e dominando a mente das pessoas.
Acompanhar a resistência de Avalon à dominação do cristianismo foi angustiante. A discussão, que o livro traz, bastante contemporânea - principalmente no contexto brasileiro que estamos vivendo. Vemos os padres expurgando antigos ritos e religiões, cometendo crimes e atrocidades com os costumes antigos, sem respeito ao diferente e pregando uma fé cega. Muito curioso como vemos os personagens, principalmente as feminas, se tornando emburrecidas e submissa aos homens e à religião. Se fizermos um paralelo com as Sacerdotisas de Avalon, elas sabem ler, saber um pouco de agricultura, ervas medicinais, astrologia e música. Mas as mulheres cristãs não tinham conhecimento algum, se tornaram donas de casa e apenas isso.
A religião não deveria aprisionar a mente, mas sim libertá-la.
Outros momentos que em que conseguimos observar em como um grupo de pessoas domina outra é demonizando e usurpando seus ritos e símbolos. Por exemplo: o roubo da excalibur e do cálice de Cewrridwen - que se torna o Santo Graal - são momentos que percebemos essa dominação.
A leitura é valida para quem gosta de fantasia, se interessa por contos históricos e lendas e também para quem tem interesse em questões sociais e políticas.
O ciclo das Brumas de Avalon definitivamente é meu mais novo livro de fantasia favorito.