Ninguém Faz Sucesso Sozinho

Ninguém Faz Sucesso Sozinho Seu Tuta




Resenhas - Ninguém faz sucesso sozinho


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Luis 26/02/2020

As verdades do Seu Tuta.
As últimas três décadas têm sido generosas em lançamentos de títulos que se debruçam sobre a história da comunicação no Brasil. Desde o seminal “Chatô”, de Fernando Morais (Companhia das Letras, 1994), há uma profusão de reforços nas estantes que facilitaram a vida dos pesquisadores, alunos e amantes do tema de uma maneira geral. Claro está que a bordo da bem vinda quantidade, existem, como não poderia deixar de ser, um desnível em termos de qualidade e objetivo dessas publicações. “Ninguêm faz sucesso sozinho (Bastidores dos anos de ouro da TV Record e da Jovem, Pan)” (Escrituras, 2009) pode ser um exemplo disso.
O livro foi idealizado como um volume de memórias de Antônio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, um dos herdeiros do lendário Marechal da Vitória, Paulo Machado de Carvalho (ele mesmo alvo de uma excelente biografia, escrita por Tom Cardoso e Roberto Rockmann), fundador da TV e Rádio Record, além da Rádio Pan Americana, desde os anos 60 conhecida como Jovem Pan. Tuta, assim como seus outros dois irmãos, trabalhou de forma muito próxima a seu pai, sendo um dos cabeças da famosa equipe A, junto com Nilton Travesse, Raul Duarte e Manoel Carlos, responsável pelas mais importantes atrações da era dourada do canal 07 paulista, como “Hebe”, “Familia Trapo”, “Essa Noite se Improvisa”, “Show do dia 07” e “ O Fino da Bossa”. Mais tarde, já para o fim dos anos 60, Tuta concentraria sua atuação no rádio, reformulando a Pan Americana e dando origem à Jovem Pan.
Por si só, trata-se de uma trajetória fundamental que suscitaria uma obra de vulto e referência. É justamente aí que reside o problema.
Ressalta-se que, em termos gráficos, o volume é impecável. Em formato A4, capa dura com sobrecapa) e papel couché, trata-se de um típico coffee table book, onde o capricho , desde o logo da Pan em alto revelo na capa de rosto até a bela seleção de imagens, pode ser notado em cada detalhe.
O texto, embora em primeira pessoa e assinado por Tuta, foi escrito pelo jornalista José Nêumanne Pinto, e é uma espécie de conversa com o empresário, onde o tom coloquial dá a tônica das histórias. Não sendo uma biografia tradicional ou mesmo um livro de memórias nos moldes mais comuns do mercado editorial, o livro peca por uma certa desorganização ou mesmo superficialidade dos temas retratados. Tuta cita episódios de sua vida e carreira, sem necessariamente explicar nenhum e muitas vezes adota um tom de auto defesa ao evocar episódios polêmicos, como a mal sucedida sociedade com o dono da rede de colégios Objetivo, José Carlos Di Gênio, para a criação da TV Jovem Pan. Segundo o autor, os problemas que naufragaram o negócio foram fruto somente da “inveja” de Di Gênio. Argumento um tanto raso para assunto tão complexo.
Em outros trechos, ergue-se um palanque para a defesa das “verdades” do dono da Pan : A pregação contra a legislação trabalhista (uma das dores de cabeça na TV Jovem Pan foi justamente a dificuldade de se cumprir os direitos dos colaboradores), o ódio ao IBOPE, a sua mágoa com certos profissionais (cita de forma explicita um litígio com Milton Neves), além de um mal disfarçado bairrismo principalmente no quesito futebol, esporte no qual a família sempre teve grande e influente atuação. Fora isso, são detectáveis também erros que, embora pequenos, acabam sendo emblemáticos em uma obra sobre comunicação, como na parte onde é citado o pool de emissoras formadas para a transmissão da Copa de 70, onde é afirma-se que foi a primeira veiculação em cores da TV no Brasil. Um equívoco já que, como se sabe, embora a geração de imagens realmente tenha sido em cores, o sistema só vigoraria por aqui a partir de 72.
“Ninguém faz sucesso sozinho”, mantra repetido exaustivamente ao longo de toda a narrativa, se assemelha a uma daquelas obras especialmente produzidas para serem distribuídas em eventos corporativo sou mesmo em celebrações familiares. Chama a atenção por exemplo, uma parte inteiramente dedicada a depoimentos dos familiares do empresário, que relatam eventos banais do dia a dia do patriarca, de parco interesse para o leitor comum. Difícil imaginar que tais trechos fossem mantidos em uma edição de caráter mais comercial. Também há uma longa lista de ex e atuais colaboradores da empresa , inclusive, no caso dos (então) atuais, com a referência ao tempo de casa na época da edição (2009). Gesto simpático, sem dúvida, alinhado inclusive ao título do livro, mas que só reforça a aura de “brinde de fim de ano” da festa da firma.
Aos 88 anos, Tuta Amaral segue como um ícone das comunicações no Brasil. Seu legado, explicitamente na potência representada pela Jovem Pan, é de uma relevância ímpar especialmente em um momento de tanta desinformação. É certo que em futuro próximo, sua vida e obra sejam registradas de forma mais precisa e jornalística, de maneira a fazer jus à sua trajetória.
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