spoiler visualizarLorena831 14/05/2024
"Certa vez, num banheiro público, havia um poema:
"Diga-me o que tu comes
Que te direi quem és.""
Perturbador, mas perfeito! Queria ler os livros do Raphael Montes desde que descobri que ele tinha escrito o livro Bom Dia, Verônica! que inspirou a série da Netflix e acabei começando por esse aqui...
A história me prendeu desde o primeiro capítulo com o enigma da carne de gaivota e a partir daí foi ficando cada vez mais difícil largar o livro, eu queria muito saber o que iria acontecer e as reviravoltas foram incríveis. A diversidade de tipos de textos presentes no livro também me cativaram, achei muito legal que a história além de ser contada por um dos personagens, também é contada por mensagens, e-mails, cartas, convites e até um desenho e a escrita do autor é bem fluida.
Nesse sentido, o Raphael Montes escreve atrocidades como se fosse a coisa mais normal do mundo, o que parece deixar tudo muito mais perturbador e riqueza detalhes que as cenas são descritas às vezes tornam a leitura desconfortável, principalmente no final, mas fazem perceber a crueldade que envolve a história. Além disso, como ela é contada pelo Dante, no que ele chamou de 'a versão dele da história', acredito que esses detalhes estejam lá para não suavizar o crime hediondo que ele sabe que cometeu... Nesse sentido, embora ele possa se aproveitar do fato de ser o único pra contar a história e falar o que quiser pra tentar melhorar a visão que temos dele, não acho que ele fez isso, eu confio nessa versão e acredito que ele se arrependeu do que fez, mas fiquei feliz que o Arthur não matou ele, acho que viver com o que ele fez é realmente a pior punição que ele poderia receber e ficar preso é o mínimo de justiça que as vítimas poderiam receber. Mas em questão de características pessoais dele, acho o Dante ingênuo na maior parte do livro... não estou falando da parte que ele acreditou que a "carne de gaivota" vinha do crematório só porque queria acreditar e era conveniente, mas estou falando sobre ele achar que podia simplesmente sair investigando sem que o Umberto descobrisse e achar que o Arthur era idiota de não desconfiar de um cara que simplesmente decidiu ajudá-lo a encontrar sua mulher sem oferecer nenhuma prova concreta da pista que apresentou. Mas fora isso ele é um personagem até que interessante e legal, dentro do que é possível para um canibal... não sei se fui clara mas o que quero dizer é que como narrador da história não achei que é um personagem chato, o que é muito bom já que é muito ruim ler um livro cujo protagonista é insuportável.
Os outros personagem também são bem trabalhados no livro e assim é possível perceber quem estava gostando mais da nova ocupação e quem tinha crises de consciência. O Hugo é chato demais, cada vez que abria a boca minha opinião sobre ele piorava, mas no começo eu não achava que ele fosse mau, apenas ridículo... mas fiquei surpresa que ele virou um adepto tão fiel do que o Umberto pregava, mesmo após o assassinato dos amigos, ou será que devo dizer, dos aplausos que recebia?!?!?!?! Ele é um exemplo do que um ser humano (tá mais pra monstro, mas...) é capaz de fazer na busca por reconhecimento por causa da ganância e do orgulho. O Miguel é um personagem que dá dó, mas ele é um frouxo, se ele estivesse tomado alguma atitude no começo ou se ele tivesse cortado a convivência com esses amigos, que nem merecem ser chamados dessa forma, nada disso teria acontecido com ele pelo menos e talvez nem com as "gaivotas". O Umberto tem um ego inflado demais, ele se acha o máximo mas não tem nada que justifique essa autoestima altíssima... pelo menos ele faz bem o papel de vilão. A Cora é uma personagem que vai chegando de mansinho e quando você percebe já era... na primeira vez que ela apareceu não achei que a veria de novo, depois achei que ela seria uma personagem secundária e por fim, na verdade ela fazia parte do plot principal... surpreendente sim, mas o Raphael Montes deu sinais que eu ignorei ;-; , eu confesso que demorei muito pra confiar nela e quando aconteceu fiquei tão feliz e queria tanto acreditar que ela era uma pessoa boa que não me atentei aos outros sinais... achei estranho que ela aceitou tranquilamente ser cortada da sua parte do trabalho, mas achei ela poderia ver vantagem em ganhar sem trabalhar, também achei estranho que ela foi embora de repente depois da morte do Leitão, mas achei que era sua forma de lidar com o luto, achei estranho que ela era tão neurótica com fotos, mas achei que poderia ser trauma e também desconfiei se ela realmente sentia o que sentia pelo Leitão, mas ignorei todas as minhas desconfianças... nunca imaginei aquele final daquele jeito. A Cora foi a personagem que eu achei mais interessante da história, ela passou por vários traumas na infância e não sei se ela tem ciência disso porque ela falava de tudo como se fosse muito normal, mas essas coisas a tornaram a pessoa fria que ela é hoje... ela também é muito determinada e embora ela aplique essa determinação no que é errado, não posso deixar de admirar a forma como ela persegue seus sonhos. E por fim, o Leitão... minha opinião sobre ele mudou no decorrer do livro, primeiro achava que ele era o mais frio de todos, depois achei que ele só fazia piadas de mau gosto mas que no fundo era uma pessoa boa, depois eu voltei pro começo e cheguei a conclusão de que ele realmente é o mais louco dos quatro amigos. Ele é muito traumatizado, sobre isso não há dúvida, mas achei legal que o passado do Leitão embora parecesse uma coisa secundária que apenas permeava toda a narrativa, acaba se tornando algo muito importante porque esses traumas impactaram toda a história devido a pessoa que ele se tornou.
O final foi impressionante, como eu já disse não imaginava o que iria acontecer e embora tenha desconfiado da índole do Leitão e da Cora não imaginei que eles eram capazes daquilo, principalmente porque eu queria muito acreditar que eles eram, no fundo, pessoas boas. Mas eu achei o final muito corrido, mais especificamente o epílogo... eu queria que fosse mais detalhado tudo o que Leitão e a Cora planejaram e executaram. Porém, mesmo assim foi um final muito bom.
Resumindo, eu gostei muito do livro e recomendo para todos que gostam de um suspense eletrizante e têm estômago.
"Certa vez, num banheiro público, escrevi um poema:
"O ser humano nasce
Cresce,
Reproduz-se,
E é servido no jantar.""