Paula Juliana 02/08/2015
Resenha: Dez coisas que aprendi sobre o amor - Sarah Butler
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''Alice, Alice, Alice. Não desça na toca do coelho. Não suporto vê-la partir. fique aqui comigo, Alice, Alice, Alice.''
Uma obra emocionante! Uma obra fria e quente, daquelas que as lágrimas chegam sem pedir licença, sem convite! Um livro azul. Definitivamente azul. Azul como o nome da protagonista. Azul como o frio e o gelo. Azul como Londres e a sua semelhança com o oceano! Azul como o amor que se apresenta de inúmeras formas, não necessariamente romântico e confortável!
''Sou um velho de coração meloso, não há outra maneira de descrever. E a verdade é que me sinto mais em casa aqui - à beira do rio, onde há lama e confusão...''
Como começar a descrever essa história? Bem... fala de aceitação, de diversas formas diferentes, fala de relações familiares, pai, mãe, irmãos, namorados... Fala daquilo que deixamos de falar, dos segredos velados e mentiras mascaradas, e também do carinho e amor de pai. Fala por si só, sem nem as vezes ter realmente dito algo. Dez coisas que aprendi sobre o amor é um livro que você olha e já sabe que tem que preparar o coração.
'' Você é mais feliz externamente do que internamente, disse ele, e eu olhei para as estrelas e percebi que ele tinha razão.''
Alice. Começamos com a mulher Alice. De quase 30 anos, perdeu a mãe aos quatro e se culpa pelo acidente, volta para casa depois de uma das muitas viagens, pois seu pai está quase morrendo, a doença terrível o levando sem preparação.
Alice corre, foge de um lugar para o outro, como se isso pudesse a proteger da própria vida, dos problemas, dos medos que sente tão intensamente em seu coração.
Ela não se fixa, não se sente parte daquele meio, não se sente parte de parte nenhuma.
Daniel. Daniel é o que chamamos de sem-teto, de mendigo, andarilho.
Não tem casa, não pertence a algo nenhum. Daniel é um senhor já, um triste velho, com o coração quebrado em todos os sentidos.
Daniel acredita que não tem nada a oferecer para ninguém, sempre pensou assim desde novo, desde que não se ajustou na faculdade, não foi o filho perfeito, não permaneceu em nenhum emprego por muito tempo, desde que seu pai se suicidou, sua mãe faleceu, desde que perdeu a única mulher que amou na vida.
Seu único pensamento e sentido? Sua filha, filha essa que nem sabe de sua existência.
É quando o pai de Alice morre e Daniel vê seu nome no jornal que consegue localizar sua amada e desconhecida filha perdida.
Filha essa que chora por um pai, sem saber que tem outro na vida com tanto amor para compartilhar!
Dez motivos e pensamentos durante a leitura - por Paula:
1) As pessoas fogem. Não fuja.
2) Londres é chuvosa e linda. E parece o mar.
3) Cores. Eu sinto as cores Daniel.
4) Como não se sentir amada... com tanto amor?
5) As pessoas morrem.
6) A vida segue sem pedir permissão.
7) Há um lado bonito na tristeza.
8) Não há um lado bonito na solidão.
9) Ame seus irmãos e perdoe sempre
10) Diga sempre para seu pai o quanto o ama. Aprenda que o amor é um sentimento amplo. Muito grande!
A obra é narrada por Alice e por Daniel, com capítulos intercalados, logo no início de cada um encontramos listas de dez coisas que dizem muito sobre os dois protagonistas!
Os capítulos narrados por Daniel são especiais, é como se ele estivesse o tempo todo contando sua história para Alice, um grande diálogo silencioso, entre pai e filha, como se ela fosse o ser mais especial do mundo. E eu penso: ''Como uma pessoa pode ser tão amada e nem suspeitar disso?''.
Então a história vezes corre, vezes anda, como seus personagens e você se envolve com eles, quer dizer para Daniel: ''Não se entregue. Tenha coragem... força! Segue em frente. Tudo sempre segue em frente na vida. Nada espera a gente se curar.'' e quer dar uma sacudida em Alice e lhe tirar da toca de coelho ou do buraco que se encontra.
''Entre; seja bem vinda. Você erguerá os olhos para o teto e sorrirá. Surpreendente? Não é? Deixe-me explicá-lo. Cada letra tem uma cor, entende? Você tem isso também? Sempre soube. Mas talvez não sejam das mesmas cores que as minhas. De qualquer modo, deixe-me lhe mostrar. Eis aqui seu nome. Este azul-claro é para o A; dourado para o L; rosa para o I; azul-marinho para o C; e cinza-escuro para o E. Você está fazendo que sim. Você entende. Claro que sim. Alice. Filha. Amor. Desculpe. Pai.''
Descrever os sentimentos durante a leitura não é fácil. O livro mexe com vários tabus, com o fato do protagonista ser um mendigo, com as traições que ocorrem na história, os relacionamentos citados, Alice e Kal que não poderia ''mostrar'' Alice para o mundo, Alice e sua culpa, uma culpa que não deveria existir, Daniel que se acha tão ''pouco'', tão pequeno e que é tão grande, mostrando que nem sempre o que precisamos é algo dourado e luminoso. Você se coloca no papel desse pai, e se coloca no papel dessa filha sem rumo, sente o desespero de ambos e quer que tudo seja resolvido, quebra seu coração, você chora, fica emotiva e sensível, vive aquela história tão especial e diferente. Aprende muito mais que DEZ coisas sobre o amor!
''Por isso preciso deixar essa cidade: porque é o tipo de lugar onde alguém destruiria algo feito obviamente com cuidado, só pelo prazer de destruir.''
É uma história de pessoas perdidas. Perdidas de várias maneiras, perdidas dentro de si, correndo ou andando, procurando um rumo, um caminho, uma direção, procurando pessoas ou simplesmente algo que por vezes nem mesmo se sabe o que é.
Talvez Aceitação, talvez segurança, talvez aventura. Talvez somente algo para preencher o vazio que nós mesmos criamos e alimentamos constantemente.
Dez coisas que aprendi sobre o amor é mais que recomendado, embrulhado em algo brilhante, azul e cheio de vida e não esqueça dos lenços... muitos lenços! Você vai precisar!
'' - Se você ficar imóvel num lugar tempo o bastante, ele se mostrará para você. Leva tempo, mas você encontra estampas e, depois que as encontra, pode começar a se sentir em casa.''
Paula Juliana
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