Tati Iegoroff (Blog das Tatianices) 29/05/2024E eu tento ensinar meu coração a num querer nada que ele num pode terA linguagem deste livro é um dos primeiros pontos que temos a destacar sobre ele: ela é simples. Não necessariamente fácil, mas simples.
Isto porque o livro é epistolar e quem escreve a maioria das cartas é Celie, uma mulher negra e semianalfabeta. E este é outro ponto de destaque neste livro: seus personagens, em toda sua simplicidade, são extremamente ricos.
A história se passa nos Estados Unidos, numa época em que a segregação racial ainda era muito marcada e poder acompanhar o dia a dia de personagens negros neste contexto nos leva a muitas reflexões.
Por meio das cartas de Celie, ora endereçadas a Deus, ora endereçadas a Nettie, sua irmã mais nova que parece ter tido um pouco mais de sorte na vida, vamos mergulhando nesta história que fala sobre perdas, famílias, preconceito.
Celie tem uma vida muito sofrida: seu pai abusou dela, depois a fez se casar com um viúvo cujos filhos apenas a maltratavam (não que ele também a tratasse muito melhor). E, no meio disso tudo, ela ainda se vê obrigada a se afastar de Nettie, sua única alegria nesta vida.
No meio de tanta adversidade, porém, Celie tem a oportunidade de conhecer Shug Avery e, com ela, aprender muito sobre o mundo, sobre o amor e sobre si mesma.
Aliás, dizer que esta história fala sobre amores pode parecer simplista demais, mas não temos como ignorar, também, a presença de um amor forte, puro e que foi escrito numa época que este tipo de amor era ainda menos aceito que nos dias de hoje.
Para além dos assuntos já mencionados, A cor púrpura é uma história que consegue nos fazer pensar sobre religião, colonização — inclusive tem passagens da Nettie que são verdadeiras aulas com relação a isso — e sobre nosso lugar no mundo.
Outra questão que chamou muito minha atenção foram os nomes — ou, em alguns casos, a ausência deles — e a importância que se dá àquilo que é nomeado.
A cor púrpura é um daqueles livros que não queremos largar. Os capítulos são, em sua maioria, relativamente curtos, o que ajuda bastante no processo de “só mais um pouquinho”.
Também é uma daquelas obras que me faz ficar pensando no trabalho que foi traduzi-la (não à toa, esta edição conta com três nomes para essa função): como terá sido o processo de encontrar o tom certo para Celie?
Por fim, esta é uma história que vai te fazer ter vontade de se aproximar de Celie, bater em Albert, se apaixonar por Shug Avery (quem não é apaixonado por ela?), torcer por Nettie, lutar por e com Sofia… Enfim, uma história marcada por ótimos personagens e uma narrativa extremamente necessária.
Li A cor púrpura na edição física da José Olympio e achei a diagramação bem limpa e confortável. O papel off-white também contribuiu para uma leitura agradável.
site:
https://blogdastatianices.com/2024/05/29/a-cor-purpura-alice-walker/