Do que é feita uma garota

Do que é feita uma garota Caitlin Moran




Resenhas - Do Que É Feita Uma Garota


19 encontrados | exibindo 16 a 19
1 | 2


Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 28/09/2017

Sugestão de leitura
Caitilin Moran nasceu numa família inglesa humilde e tem mais sete irmãos. Suas experiências na comunidade pobre de Wolverhampton inspiraram o enredo de "Do que é feita uma garota", assim como seu pai, músico frustrado e alcoólatra. Ela começou a escrever aos 13 anos e sempre sonhou em ser escritora.


A protagonista do livro é a adolescente de quatorze anos Johanna Morgan, e começa com cenas de masturbação da garota. Este é o tom que permeará o restante do livro: Johanna não tem vergonha de sua sexualidade recém-aflorada e, por isso, fala sobre o tema com naturalidade e, surpreendentemente, uma certa inocência. Ela questiona diversos paradigmas da sociedade, como o fato dos meninos poderem falar livremente sobre sexo (fazendo piadas, contando suas relações, assediando garotas) e as meninas serem recriminadas por fazer o mesmo. Johanna é sarcástica e engraçada e, quando começa a ter relações sexuais, descobre que a própria mão ainda é seu melhor amante.

Ela e seus quatro irmãos vivem em Wolverhampton, nos anos 90, com o pai bêbado e rockstar frustrado e uma mãe com depressão pós-parto. Eles dependem inteiramente da ajuda do Governo para pagar as contas e o principal benefício advém do pai deles fingir que é aleijado. Um dia, uma das vizinhas descobre, através de Johanna, que o pai mente para o Governo e, tomada pela culpa, ela resolve procurar um emprego para ajudar a família, pois teme que a vizinha os denuncie.

“Mal posso esperar para morarmos em Londres”, digo a Bianca, que está se equilibrando sobre a sarjeta, fazendo suas necessidades. Eu me viro, para dar um pouco de privacidade a ela. Ela é uma cadela bem discreta, acho. “Quando for para Londres é que vou começar a ser eu mesma.” O que isso quer dizer, eu não faço ideia. Ainda não há uma palavra para descrever o que quero ser. Não há nada que eu possa almejar. O que eu quero ser ainda não foi inventado." (Do que é feita uma garota, de Caitilin Moran)

Johanna aproveita esta decisão para se reinventar. Ela muda seu nome para Dolly Wilde e, depois de ouvir todos os LP's possíveis de serem encomendados na Biblioteca Pública, começa a escrever críticas musicais e enviá-las a diversos veículos de divulgação. Um dia, um deles a contrata e ela, pode enfim, deixar a realidade de Wolverhampton para trás e ser 100% Dolly Wilde.

"Um monstro chegou à cidade — eu — e só um herói pode matá-lo: eu. Eu não vou me matar de verdade, é claro. Para iniciantes, acho que deve ser um pouco difícil, e a luta é suja — talvez envolva mordidas —, e, em segundo lugar, na verdade não quero morrer. Não quero que haja um corpo na cama, e que seja o fim de tudo. Não quero não viver. Eu só… quero não ser mais eu. Tudo o que sou agora não está funcionando." (Do que é feita uma garota, de Caitilin Moran)

Dolly é a perfeita encarnação do sexo, drogas e rock'n'roll e, com seu trabalho, ela traz à tona mais dois paradigmas. O primeiro são os estereótipos das "garotas gordas" como ela (preguiçosas, com baixa autoestima, tímidas e ruins de cama - segundo a trama) e Johanna não se encaixa em nenhum deles. O segundo paradigma é como os mundos do trabalho, do dinheiro e da música são dominados pelos homens e ela não encontra nenhuma mulher para usar de referência. Além disso, Dolly vivencia suas experiências sexuais com crescente frustração, notando que os homens não se importam, de verdade, com o prazer e o orgasmo da mulher.

Dolly é intensa em suas paixões, vicia-se rápido em bebidas e cigarro, tenta "pertencer" a um grupo e, de vez em quando, é patética e frágil. Sua jornada de autoconhecimento é hilária, provocativa e profunda, numa rara combinação. A atmosfera deste livro, embora seja datado dos anos 90, tem um quê de Jack Kerouac: libertário e transgressor.

"Mas não quero ser nobre e dedicada como a maior parte das mulheres da história — o que parece invariavelmente envolver ser queimada na fogueira, morrer de tristeza ou ser emparedada em uma torre por um conde. Não quero me sacrificar por alguma coisa. Não quero morrer por algo. Não quero nem mesmo subir numa colina na chuva usando uma saia que esteja grudando nas minhas coxas por alguma coisa. Quero viver para algo, isso sim — como fazem os homens. Quero me divertir. O máximo de diversão possível. Quero começar a fazer festa como se fosse 1999 — só que nove anos antes. Quero uma jornada arrebatadora. Quero me sacrificar à alegria. Quero tornar o mundo melhor de algum jeito." (Do que é feita uma garota, de Caitilin Moran)


Johanna é, sem dúvidas, uma das melhores anti-heroínas que já li. Ela faz todas as coisas "erradas" - mentiras, vicios, comportamento promíscuo - pelos nobres objetivos de encontrar sua identidade e, ao mesmo tempo, ajudar sua família a sair da pobreza. E, como uma personagem real, Johanna não torna-se uma pessoa melhor do dia para noite, e sim, depois de cometer muitos erros e magoar muitas pessoas, principalmente ela mesma. Além disso, Moran traz uma série de reflexões sobre o que é ser uma garota, sem discursos clichês ou apelações, mas de uma maneira transparente e fluida.

Foi uma leitura que devorei em dois dias e que recomendo.

site: http://perplexidadesilencio.blogspot.com.br/2017/09/12glcgm-do-que-e-feita-uma-garota-de.html
Flavin 28/09/2017minha estante
Sua resenha é Ótima, deu até vontade de ler o livro .Parabéns !!!


Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 03/10/2017minha estante
Obrigada




Delirium Nerd 26/06/2017

Do que é feita uma garota: sobre adolescências conturbadas, descobertas sexuais e jornalismo musical
Caitlin Moran — autora que também desconhecia — me parece não ter muita habilidade para nomear suas obras, e seus títulos mal elaborados me passam a ideia de romances açucarados e meia-bocas — seu romance mais popular se chama “Como ser mulher” (“How to be a woman”). De antemão, peço perdão por soar cruel ou arrogante, mas defendo que não precisamos de mais um romance infanto-juvenil regado a melodrama e clichê — o mundo já tem livros genéricos demais. No entanto, ao ler “Do que é feita uma garota”, percebi que a criatividade e senso de humor de Caitlin vão muito além do que seus títulos ruins podem transmitir.

A história de passa no Reino Unido dos anos 90, no governo de Magaret Thatcher. Johanna é a segunda irmã de uma geração de cinco filhos, sendo os mais novos irmãos gêmeos de três semanas de idade — resultantes de uma gravidez acidental. Angie, sua mãe, está em depressão pós-parto, por isso Johanna tem tarefas domésticas em dobro e os gêmeos ainda não têm nome. “Estou cansada demais para pensar em nomes de pessoas”, ela lamenta. Johanna e seus irmãos Krissin e Lupin os chamam de “David” e “Mavid”. Já Pat, seu pai, é um rockstar frustrado que frauda uma deficiência física para receber benefícios do governo.

Johanna é uma garota romântica, mas não piegas — do tipo que tem amor-próprio. Ela tem 14 anos, é uma adolescente gorda e nunca foi beijada, mas isso não a impede de descobrir-se sexualmente — sim, estamos falando de masturbação. “Se não posso sair com um garoto”, ela diz, “ao menos posso ter um encontro romântico comigo mesma”. Esse é um ponto crucial da construção da protagonista de “Do que é feita uma garota”, que se diferencia das personagens femininas convencionais: ela quer descobrir-se sexualmente, mas não depende de um homem para tal.

Leia na íntegra:

site: http://deliriumnerd.com/2017/06/26/do-que-e-feita-uma-garota/
comentários(0)comente



Alexya 29/03/2017

Sobre ser autêntico (e o qual difícil isso pode ser)
Apesar do nome soar um tanto infantil, não é, definitivamente, um livro inocente.
Muitíssimo bem escrito, com boas doses de humor e ironia, e uma contextualização política pontualmente colocada que, facilmente, pode ser colocada em contraponto com a situação política brasileira atual. Existem muitos níveis nos quais esse livro acerta.
Loucuras e fama à parte, consigo me identificar muitíssimo com a personagem. É sobre como ser uma mulher na adolescência e sobre como nos permitimos violentar em prol de acelerar o amadurecimento, principalmente quanto tão poucos escapes nos são permitidos. Sobre como nossos corpos são interpretados em detrimento da nossa etapa de desenvolvimento e como poucos homens são capazes de compreender isso e acabam abusando psíquica e sexualmente de meninas muito jovens que acham que tem um mundo a provar.
É um livro sobre escolhas estúpidas, autodestrutivas, mas ainda assim, audaciosas. Eu admiro quem é capaz de olhar para a própria situação e se lançar em virtude de fazer algo a respeito. Construir a nós mesmos é algo que todos deveríamos tomar a responsabilidade de fazer por nós, ao invés de sempre aceitar, esperar e invejar o caminho alheio.
Mais mais que isso: gosto dela porque, para além da coragem, é tentando fingir ser outra pessoa, que ela constrói o caminho da autenticidade. É bonito perceber que existem mulheres por aí descobrindo que mais importante que conquistar o sucesso é ser e estar no mundo com autonomia.
comentários(0)comente



Dani.Stfn 07/10/2015

Do que é feita uma garota é daqueles títulos de livro que nos fazem questionar sobre o que de fato se trata a história. Imaginamos, se não é algo meio John Green, sobre uma garota que vai descobrir como o mundo de fato funciona através de relacionamentos amorosos e problemas adolescentes. Mas, a verdade é que o livro é diferente de tudo que já li, quando se trata de personagens femininas adolescentes.
A história é contada pelo ponto de vista de Johanna Morrigan, uma garota de 14 anos dos anos 90, que escreve exatamente o que pensa: sobre sexo, cultura pop da época, sexo, rock, sobre sua família, sexo e... mais sexo. Ela vive em Wolverhampton, uma cidade aparentemente monótona, e convive com seu pai (Pat) – um astro do rock fracassado –, sua mãe – a qual está com depressão pós-parto após ter gêmeos e não tem nem ideia de que nome dar para eles, Krissi – seu irmão um ano mais velho – e Lupin – seu irmão mais novo de seis anos. A família dela é totalmente fora do comum, principalmente seu pai, que busca loucamente reviver seus momentos de astro de rock. Eles vivem de ajuda do governo por serem pobres. Possuem até uma bolsa de deficiente, por conta do pai que sofreu um acidente – na verdade, ele se vira muito bem, mas finge ter uma deficiência para conseguir a bolsa.
Vivendo uma vida fracassada, Johanna decide tentar mudar de vida após passar uma vergonha pública em um programa de televisão. Percebendo ser uma boa escritora, decide investir nessa carreira e criar um alter ego que vai além das páginas escritas: Dolly Wilde. Dolly é o que Johanna gostaria de ser, uma menina vivida, que sabe de tudo sobre sexo e que gostaria de escrever sobre o cenário da música dos anos 90. Sem falar sua insegurança quanto ao corpo, pois, segundo ela, é gordinha, sem atrativos. Essa nova personalidade irá impulsionar a vontade de realizar seus sonhos e ajudar a família a conseguir dinheiro.
A história vai dos 14 anos de Johanna até os 17. Nós acompanhamos as mudanças de sua personalidade e não necessariamente seu amadurecimento – porque ela é absolutamente insana. O livro é MUITO engraçado e divertido. Caitlin Moran, a escritora, mostra outro lado da adolescência. Ela mostra que uma garota pode pensar e fazer o que quiser. Nada de adolescentes inocentes, românticas ou puritanas. Apesar de Johanna realmente ser ingênua quanto ao mundo de sexo, drogas e rock n’ roll e passar muita vergonha, ela sempre encara isso de maneira positiva. É definitivamente uma personagem singular e cativante.
Talvez as pessoas sintam-se um pouco incomodada com tantos trechos sobre sexo no livro, já que é uma das coisas que Johanna mais comenta, mas, definitivamente são as partes mais engraçadas. Não há pudor nenhum.
A história é simplesmente sensacional! Caitlin Moran é uma escritora fantástica, dona de um estilo desinibido. E aposto, sinceramente, que ela tem muito de Johanna nela também. A edição feita pela Companhia das Letras é muito bonita e a capa tem uma textura diferente e boa.

site: http://www.canalindicex.com/2015/08/livro-do-que-e-feita-uma-garota-de.html
comentários(0)comente



19 encontrados | exibindo 16 a 19
1 | 2