Do que é feita uma garota

Do que é feita uma garota Caitlin Moran




Resenhas - Do Que É Feita Uma Garota


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Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 28/09/2017

Sugestão de leitura
Caitilin Moran nasceu numa família inglesa humilde e tem mais sete irmãos. Suas experiências na comunidade pobre de Wolverhampton inspiraram o enredo de "Do que é feita uma garota", assim como seu pai, músico frustrado e alcoólatra. Ela começou a escrever aos 13 anos e sempre sonhou em ser escritora.


A protagonista do livro é a adolescente de quatorze anos Johanna Morgan, e começa com cenas de masturbação da garota. Este é o tom que permeará o restante do livro: Johanna não tem vergonha de sua sexualidade recém-aflorada e, por isso, fala sobre o tema com naturalidade e, surpreendentemente, uma certa inocência. Ela questiona diversos paradigmas da sociedade, como o fato dos meninos poderem falar livremente sobre sexo (fazendo piadas, contando suas relações, assediando garotas) e as meninas serem recriminadas por fazer o mesmo. Johanna é sarcástica e engraçada e, quando começa a ter relações sexuais, descobre que a própria mão ainda é seu melhor amante.

Ela e seus quatro irmãos vivem em Wolverhampton, nos anos 90, com o pai bêbado e rockstar frustrado e uma mãe com depressão pós-parto. Eles dependem inteiramente da ajuda do Governo para pagar as contas e o principal benefício advém do pai deles fingir que é aleijado. Um dia, uma das vizinhas descobre, através de Johanna, que o pai mente para o Governo e, tomada pela culpa, ela resolve procurar um emprego para ajudar a família, pois teme que a vizinha os denuncie.

“Mal posso esperar para morarmos em Londres”, digo a Bianca, que está se equilibrando sobre a sarjeta, fazendo suas necessidades. Eu me viro, para dar um pouco de privacidade a ela. Ela é uma cadela bem discreta, acho. “Quando for para Londres é que vou começar a ser eu mesma.” O que isso quer dizer, eu não faço ideia. Ainda não há uma palavra para descrever o que quero ser. Não há nada que eu possa almejar. O que eu quero ser ainda não foi inventado." (Do que é feita uma garota, de Caitilin Moran)

Johanna aproveita esta decisão para se reinventar. Ela muda seu nome para Dolly Wilde e, depois de ouvir todos os LP's possíveis de serem encomendados na Biblioteca Pública, começa a escrever críticas musicais e enviá-las a diversos veículos de divulgação. Um dia, um deles a contrata e ela, pode enfim, deixar a realidade de Wolverhampton para trás e ser 100% Dolly Wilde.

"Um monstro chegou à cidade — eu — e só um herói pode matá-lo: eu. Eu não vou me matar de verdade, é claro. Para iniciantes, acho que deve ser um pouco difícil, e a luta é suja — talvez envolva mordidas —, e, em segundo lugar, na verdade não quero morrer. Não quero que haja um corpo na cama, e que seja o fim de tudo. Não quero não viver. Eu só… quero não ser mais eu. Tudo o que sou agora não está funcionando." (Do que é feita uma garota, de Caitilin Moran)

Dolly é a perfeita encarnação do sexo, drogas e rock'n'roll e, com seu trabalho, ela traz à tona mais dois paradigmas. O primeiro são os estereótipos das "garotas gordas" como ela (preguiçosas, com baixa autoestima, tímidas e ruins de cama - segundo a trama) e Johanna não se encaixa em nenhum deles. O segundo paradigma é como os mundos do trabalho, do dinheiro e da música são dominados pelos homens e ela não encontra nenhuma mulher para usar de referência. Além disso, Dolly vivencia suas experiências sexuais com crescente frustração, notando que os homens não se importam, de verdade, com o prazer e o orgasmo da mulher.

Dolly é intensa em suas paixões, vicia-se rápido em bebidas e cigarro, tenta "pertencer" a um grupo e, de vez em quando, é patética e frágil. Sua jornada de autoconhecimento é hilária, provocativa e profunda, numa rara combinação. A atmosfera deste livro, embora seja datado dos anos 90, tem um quê de Jack Kerouac: libertário e transgressor.

"Mas não quero ser nobre e dedicada como a maior parte das mulheres da história — o que parece invariavelmente envolver ser queimada na fogueira, morrer de tristeza ou ser emparedada em uma torre por um conde. Não quero me sacrificar por alguma coisa. Não quero morrer por algo. Não quero nem mesmo subir numa colina na chuva usando uma saia que esteja grudando nas minhas coxas por alguma coisa. Quero viver para algo, isso sim — como fazem os homens. Quero me divertir. O máximo de diversão possível. Quero começar a fazer festa como se fosse 1999 — só que nove anos antes. Quero uma jornada arrebatadora. Quero me sacrificar à alegria. Quero tornar o mundo melhor de algum jeito." (Do que é feita uma garota, de Caitilin Moran)


Johanna é, sem dúvidas, uma das melhores anti-heroínas que já li. Ela faz todas as coisas "erradas" - mentiras, vicios, comportamento promíscuo - pelos nobres objetivos de encontrar sua identidade e, ao mesmo tempo, ajudar sua família a sair da pobreza. E, como uma personagem real, Johanna não torna-se uma pessoa melhor do dia para noite, e sim, depois de cometer muitos erros e magoar muitas pessoas, principalmente ela mesma. Além disso, Moran traz uma série de reflexões sobre o que é ser uma garota, sem discursos clichês ou apelações, mas de uma maneira transparente e fluida.

Foi uma leitura que devorei em dois dias e que recomendo.

site: http://perplexidadesilencio.blogspot.com.br/2017/09/12glcgm-do-que-e-feita-uma-garota-de.html
Flavin 28/09/2017minha estante
Sua resenha é Ótima, deu até vontade de ler o livro .Parabéns !!!


Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 03/10/2017minha estante
Obrigada




Renata (@renatac.arruda) 25/09/2015

Caitlin Moran mostra do que é feita uma garota
Por trás de Johanna está a mente criativa de Caitlin Moran, jornalista e escritora inglesa que ficou conhecida no Brasil em 2012 quando a Companhia das Letras, através do selo Paralela, publicou seu Como ser mulher (tradução de Ana Ban), livro em que usa a história da sua vida como ponto de partida para discutir questões femininas de um ponto de vista feminista — inclusive o próprio Feminismo que, segundo escreve, acreditava estar "empacado" e restrito ao meio acadêmico, sem dialogar com a maior parte das mulheres que de fato precisam dele. Em Como ser mulher, Moran também aproveita para refletir brevemente sobre a situação de mulheres do passado que se tornaram ícones — o que muitas vezes lhes custava a sanidade ou mesmo a vida: "A maior parte das mulheres que fazem frente aos homens parece ser infeliz e ter certa propensão a morrer jovem", observa. "Quando olho para a destruição delas — desespero, aversão a si própria, baixa autoestima, frustração e repetidas faltas de oportunidade, de espaço, de compreensão, de apoio ou de contexto —, me parece que estão todas morrendo da mesma coisa: de estar encalhada no século errado". Por mais discutível que seja a noção de que neste século as mulheres que desafiam os homens não encontram o mesmo fim, é verdade que as perspectivas estão melhores. Neste Do que é feita uma garota (Companhia das Letras, tradução de Caroline Chang), ela vai desenvolver este pensamento sob um outro aspecto, já que Johanna além de ser mulher, também pertence à classe operária, o que muda muita coisa:

Leia mais no Prosa Espontânea:

site: http://prosaespontanea.blogspot.com.br/2015/09/do-que-e-feita-uma-garota-caitlin-moran.html
Renata (@renatac.arruda) 25/09/2015minha estante
http://mardemarmore.blogspot.com.br




bela 15/05/2021

poderia até dizer que esse livro mudou a minha vida - e me formou. ele trata assuntos importantes com uma leveza tão agradável e descontraída que me fez querer entrar no livro. eu me senti no lugar da personagem, me senti representada - pela primeira vez - por algum personagem, foi incrível.
recomendo demais esse livro!!
Rafa.Lotti 26/04/2023minha estante
Sua resenha me deixou muito curiosa.




Dani.Stfn 07/10/2015

Do que é feita uma garota é daqueles títulos de livro que nos fazem questionar sobre o que de fato se trata a história. Imaginamos, se não é algo meio John Green, sobre uma garota que vai descobrir como o mundo de fato funciona através de relacionamentos amorosos e problemas adolescentes. Mas, a verdade é que o livro é diferente de tudo que já li, quando se trata de personagens femininas adolescentes.
A história é contada pelo ponto de vista de Johanna Morrigan, uma garota de 14 anos dos anos 90, que escreve exatamente o que pensa: sobre sexo, cultura pop da época, sexo, rock, sobre sua família, sexo e... mais sexo. Ela vive em Wolverhampton, uma cidade aparentemente monótona, e convive com seu pai (Pat) – um astro do rock fracassado –, sua mãe – a qual está com depressão pós-parto após ter gêmeos e não tem nem ideia de que nome dar para eles, Krissi – seu irmão um ano mais velho – e Lupin – seu irmão mais novo de seis anos. A família dela é totalmente fora do comum, principalmente seu pai, que busca loucamente reviver seus momentos de astro de rock. Eles vivem de ajuda do governo por serem pobres. Possuem até uma bolsa de deficiente, por conta do pai que sofreu um acidente – na verdade, ele se vira muito bem, mas finge ter uma deficiência para conseguir a bolsa.
Vivendo uma vida fracassada, Johanna decide tentar mudar de vida após passar uma vergonha pública em um programa de televisão. Percebendo ser uma boa escritora, decide investir nessa carreira e criar um alter ego que vai além das páginas escritas: Dolly Wilde. Dolly é o que Johanna gostaria de ser, uma menina vivida, que sabe de tudo sobre sexo e que gostaria de escrever sobre o cenário da música dos anos 90. Sem falar sua insegurança quanto ao corpo, pois, segundo ela, é gordinha, sem atrativos. Essa nova personalidade irá impulsionar a vontade de realizar seus sonhos e ajudar a família a conseguir dinheiro.
A história vai dos 14 anos de Johanna até os 17. Nós acompanhamos as mudanças de sua personalidade e não necessariamente seu amadurecimento – porque ela é absolutamente insana. O livro é MUITO engraçado e divertido. Caitlin Moran, a escritora, mostra outro lado da adolescência. Ela mostra que uma garota pode pensar e fazer o que quiser. Nada de adolescentes inocentes, românticas ou puritanas. Apesar de Johanna realmente ser ingênua quanto ao mundo de sexo, drogas e rock n’ roll e passar muita vergonha, ela sempre encara isso de maneira positiva. É definitivamente uma personagem singular e cativante.
Talvez as pessoas sintam-se um pouco incomodada com tantos trechos sobre sexo no livro, já que é uma das coisas que Johanna mais comenta, mas, definitivamente são as partes mais engraçadas. Não há pudor nenhum.
A história é simplesmente sensacional! Caitlin Moran é uma escritora fantástica, dona de um estilo desinibido. E aposto, sinceramente, que ela tem muito de Johanna nela também. A edição feita pela Companhia das Letras é muito bonita e a capa tem uma textura diferente e boa.

site: http://www.canalindicex.com/2015/08/livro-do-que-e-feita-uma-garota-de.html
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Raffafust 08/10/2015

O maior desafio para mim na leitura desse livro foi tentar entender a personagem, claro que viajei bonito, ela é tão atordoada que não precisa ser entendida, e posso dizer que certas atitudes dela me chocaram no início mas as comparei com péssimos momentos meus e vi que de certa forma sempre descontamos em algo quando as coisas não vão nada bem.
Nossa protagonista tem 14 anos, e já começa o primeiro capítulo se masturbando ao lado do irmão de 6 anos. Calma, ele está dormindo, ele não vê que ela faz isso e ela tenta tirar a imagem dele da cabeça enquanto sente prazer nas inúmeras vezes pratica o ato durante o livro. Sim, qualquer objeto fálico vira um pênis, nunca mais olharei embalagens roll on com a mesma ternura ( brincadeira, nuncas as achei bonitas mesmo) .
Johanna Morrigan é uma adolescente britânica, que tem um pai bêbado que não bate muito bem e sempre acha que ainda será um novo Rolling Stone, sua mãe não fede nem cheira , depois de parir gêmeos ela anda e depressão, não é, portanto alguém que possa ajudar Johanna em sua busca por si mesma. E ela nem está exatamente em busca de nada, que não seja momentos deliciosos com sua escova de cabelo. Ah claro, a vida lhe incomoda , a cama que dorme é imensa mas é de sua falecida avó e as molas não estão nada boas, seu pai a leva para sair mas não presta atenção no que ela fala ou pensa e para completar ela mal sabe a aparência que tem já que sua mãe tirou todos os espelhos da casa, ou quem sabe nunca existiram mesmo porque ela os odeia.
A vida pode piorar? Sim, pode...chamada e acompanhada pelo pai para ir no programa de tv que todos assistem para defender sua rotweiller Bianca ela sabe se la´porque consegue estragar ainda mais sua vida fazendo uma imitação bizarra do Scooby Doo, da parte que ele grita com o Salsicha mesmo. Imaginaram? Pois é.
Ah sim, tudo isso se passa na Inglaterra da década de 90 onde citações as bandas e pessoas que faziam sucesso nesses tempos são feitas a todo instante e por isso mesmo veio aquela sensação saudosista de " bons tempos " .
Por ser narrado pela própria Johanna entramos fundo em seus pensamentos, no despertar ainda maior da sexualidade , quando suas vontades são saciadas com meninos, e coloque aí muitos. O desespero dela sem sentir prazer me lembrou minha vontade de comer chocolate quando estava em depressão, a comparação pode parecer boba mas perdemos um pouco o limite do que fazemos e eu mesma intolerante à lactose comia se parar, mesmo sabendo que ia passar mal depois.
Johanna por um lado usa o sexo como válvula de escape, se machuca ao saber que nada tem futuro, mas isso não dura muito tempo, quer fugir da vida chata, quer fugir de si mesma mas não pensa em romance quando enfrenta os desprazeres da vida com o prazer momentâneo do sexo.

Ela é intensa , ela não é tão adorável como muitos personagens que vemos, mas exatamente por isso ela me ganhou, ela é tão mais real que muitos protagonistas, ela é imperfeita e essa é a graça na escrita de Caitlin Moran. Meus parabéns à autora.

site: http://www.meninaquecompravalivros.com.br/2015/10/resenha-do-que-e-feita-uma-garota.html
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ViagensdePapel 25/01/2016

Do que é feita uma garota
Nossa heroína, Johanna Morrigan, tem 14 anos e mora em um subúrbio decadente, chamado Wolverhampton, na Inglaterra dos anos 1990.

Em uma idade na qual as meninas costumam sair, descobrir o amor e viver sem preocupações, Jô se vê responsável por seus dois irmãos mais novos, enquanto sua mãe, que recém deu a luz a gêmeos, passa por um período um tanto quanto depressivo, podemos assim dizer. E seu pai? Bom, o "Velho", como ela se refere a ele, é um artista, cantor suburbano que tenta alcançar o auge, gravando demos em fitas enquanto bebe todas, trajando apenas um robe rosa, que deixa algumas de suas partes corporais a mostra.

Jô sempre foi diferente de todas as meninas de sua época. Enquanto a maioria não havia iniciado sua vida sexual, ela tinha, digamos, truques para escapar de todo o estresse que ela estava submetida.

A vida de Johanna toma um rumo inesperado quando, em um programa de TV local, ela se apresenta e imita o cachorro Scooby-doo. Desajeitada, acima do peso, ela passa por momentos muuiiitoooo hilários e constrangedores.

Não dizem que a adolescência é um novo nascimento? Entonces, após este dia, ela decide não ser mais ela mesma. Nasce então, a escritora Dolly Wilde. Uma adolescente, já com 16 anos, livre, roqueira, gótica e com muita sede de álcool. A partir deste dia, Jô inicia sua saga no mundo adulto, agora sem dramas infantis e com muita liberdade para amar e curtir.


Leia a continuação da resenha, acesse o link abaixo:

site: http://www.viagensdepapel.com/2015/11/16/resenha-do-que-e-feita-uma-garota-de-caitilin-moran/
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@moniquebonomini 17/03/2016

Delicioso
Sabe aquele livro que você começa a ler e não vê a hora de ver onde vai dar e quando acaba você lamenta ter lido com tanta ferocidade? Então...rs... trata-se de uma história deliciosa de uma adolescente cuja vida não é nada glamourosa mas que está determinada a ter uma vida completamente diferente da sua realidade. O caminho que ela percorre é tortuoso, mas afinal quem nunca tentou ser uma versão melhor de si mesmo, ainda que desconfortável?!
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Mi 07/04/2016

argh
Sinceramente, é aquele livro que ficamos esperando um ponto alto. E esperando... esperando... esperando.
Achei bem monótono em relação a reviravoltas. Esperava algo mais surpreendente... mas não é livro ruim.
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Alexya 29/03/2017

Sobre ser autêntico (e o qual difícil isso pode ser)
Apesar do nome soar um tanto infantil, não é, definitivamente, um livro inocente.
Muitíssimo bem escrito, com boas doses de humor e ironia, e uma contextualização política pontualmente colocada que, facilmente, pode ser colocada em contraponto com a situação política brasileira atual. Existem muitos níveis nos quais esse livro acerta.
Loucuras e fama à parte, consigo me identificar muitíssimo com a personagem. É sobre como ser uma mulher na adolescência e sobre como nos permitimos violentar em prol de acelerar o amadurecimento, principalmente quanto tão poucos escapes nos são permitidos. Sobre como nossos corpos são interpretados em detrimento da nossa etapa de desenvolvimento e como poucos homens são capazes de compreender isso e acabam abusando psíquica e sexualmente de meninas muito jovens que acham que tem um mundo a provar.
É um livro sobre escolhas estúpidas, autodestrutivas, mas ainda assim, audaciosas. Eu admiro quem é capaz de olhar para a própria situação e se lançar em virtude de fazer algo a respeito. Construir a nós mesmos é algo que todos deveríamos tomar a responsabilidade de fazer por nós, ao invés de sempre aceitar, esperar e invejar o caminho alheio.
Mais mais que isso: gosto dela porque, para além da coragem, é tentando fingir ser outra pessoa, que ela constrói o caminho da autenticidade. É bonito perceber que existem mulheres por aí descobrindo que mais importante que conquistar o sucesso é ser e estar no mundo com autonomia.
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Delirium Nerd 26/06/2017

Do que é feita uma garota: sobre adolescências conturbadas, descobertas sexuais e jornalismo musical
Caitlin Moran — autora que também desconhecia — me parece não ter muita habilidade para nomear suas obras, e seus títulos mal elaborados me passam a ideia de romances açucarados e meia-bocas — seu romance mais popular se chama “Como ser mulher” (“How to be a woman”). De antemão, peço perdão por soar cruel ou arrogante, mas defendo que não precisamos de mais um romance infanto-juvenil regado a melodrama e clichê — o mundo já tem livros genéricos demais. No entanto, ao ler “Do que é feita uma garota”, percebi que a criatividade e senso de humor de Caitlin vão muito além do que seus títulos ruins podem transmitir.

A história de passa no Reino Unido dos anos 90, no governo de Magaret Thatcher. Johanna é a segunda irmã de uma geração de cinco filhos, sendo os mais novos irmãos gêmeos de três semanas de idade — resultantes de uma gravidez acidental. Angie, sua mãe, está em depressão pós-parto, por isso Johanna tem tarefas domésticas em dobro e os gêmeos ainda não têm nome. “Estou cansada demais para pensar em nomes de pessoas”, ela lamenta. Johanna e seus irmãos Krissin e Lupin os chamam de “David” e “Mavid”. Já Pat, seu pai, é um rockstar frustrado que frauda uma deficiência física para receber benefícios do governo.

Johanna é uma garota romântica, mas não piegas — do tipo que tem amor-próprio. Ela tem 14 anos, é uma adolescente gorda e nunca foi beijada, mas isso não a impede de descobrir-se sexualmente — sim, estamos falando de masturbação. “Se não posso sair com um garoto”, ela diz, “ao menos posso ter um encontro romântico comigo mesma”. Esse é um ponto crucial da construção da protagonista de “Do que é feita uma garota”, que se diferencia das personagens femininas convencionais: ela quer descobrir-se sexualmente, mas não depende de um homem para tal.

Leia na íntegra:

site: http://deliriumnerd.com/2017/06/26/do-que-e-feita-uma-garota/
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Queria Estar Lendo 27/12/2017

Resenha: Do que é feita uma garota
Do que é Feita Uma Garota, romance de estreia de Caitlin Moran, é a clássica narrativa sobre crescer e descobrir quem você é, com os anos 90 e o cenário musical underground da época como pano de fundo. Em um bairro operário do interior da Inglaterra, Johanna Morrigan constrói a pessoa que quer ser e ao longo da narrativa descobre tudo aquilo que é realmente necessário para se inventar. O livro foi cedido para o blog em parceria com a editora Companhia das Letras.

Johanna vive com a família em uma pequena casa em Wolverhampton. Aos quatorze anos ela está dividindo o quarto com o irmão mais velho, Krissi, e o irmão mais novo, Lupin, ajudando a mãe - sofrendo de depressão pós-parto - a cuidar dos gêmeos recém-nascidos e escutando sobre como tudo que o pai precisa para tirá-los daquela situação é sua grande chance na industria da música. Uma chance que eles esperam desde que ela era criança.

Mas Johanna é jovem, ingênua, ela acredita no pai e tenta sempre ver as coisas pelo lado positivo. Ela sempre como se o momento que vivem fosse uma grande sala de espera, de onde ela sairia antes dos 18 anos para uma Londres efervescente e rica, como o pai sempre prometera. Porém, quando a ruína da família parece ainda mais próxima do que a glória, ela decide que precisa agir.

Aos dezessete anos, ela já se tornou uma pessoa completamente diferente. Sob o pseudônimo de Dolly Wilde ela recebe por palavra escrita para fazer resenhas detonando bandas locais para uma revista de música de circulação nacional, está dormindo com caras a torto e a direito, com fama de beberrona e encrenqueira. Johanna achava que isso era exatamente quem ela queria ser, mas conforme vai crescendo e amadurecendo, ela percebe que pode ter construído Dolly com coisas que não são realmente parte de quem ela é.

"Porque eu ainda não havia aprendido a lição mais simples e importante de todas: o mundo é difícil e somos todos quebráveis. Então apenas seja gentil."

Do que é Feita uma Garota é um livro engraçado e relacionável para qualquer mulher que já foi adolescente, aquele período cheio de fases e altos e baixos, em que achamos que sabemos tudo que precisamos saber sobre o mundo e acreditamos cegamente que sabemos quem somos. E Caitlin Moran faz um excelente trabalho com a narrativa, entregando uma personagem que é em partes iguais ingenua e madura, tentando navegar nesse mundo estranho sem muita ajuda dos pais.

A história trata a descoberta da sexualidade, das responsabilidades, o primeiro amor, a família, e como tudo isso influencia tão categoricamente na pessoa que estamos nos tornando. Joahanna acreditava que montar Dolly seria coisa de uma única vez, mais ao longo do caminho percebe que reinventar-se é algo constante, especialmente na adolescencia.

Foi muito legal acompanhar a jornada dela, as tentativas e erros, e me ver muito na personagem. Johanna é uma personagem muito original, mas ao mesmo tempo ela é muito universal. Você não precisa ter feito exatamente as coisas que ela fez para se identificar, porque a identificação está na motivação dela: na confusão, no não saber, nas descobertas e nas dores.

"Auto-flagelar - o mundo já virá com facas na sua direção de toda forma. Você não precisa fazer isso primeiro."

A Caitlin Moran também tem uma voz bastante engraçada, o humor dela é leva - embora não poupe palavras de baixo calão - e ela fala com muita naturalidade de uma natureza um tanto quanto vulgar que todo mundo tem, mas que não admitimos nem para nós mesmos. Ler os devaneios da Johanna me fez lembrar dos meus próprios, e mais uma vez, não pelo conteúdo, mas pela forma e pela necessidade com a qual ela se perdia nele.

Talvez uma garota adolescente não consiga se enxergar nesse livro, e acho que essa não é realmente a intenção, uma vez que em partes ele parece muito com uma memoair, mas acho que as mulheres adultas podem olhar para ele e relembrar daqueles tempos confusos, de como fomos bobas achando que sabíamos tudo, só para quebrar a cara. Experiências que não se repetiriam na vida adulta, mas que formaram quem somos.

Outro ponto que gostei bastante é como o livro fala de forma tão sutil de feminismo. Ele não é didático, a posição da Johanna dificilmente seria de feminista - ela passa muito tempo tentando agradar os homens - mas a Caitlin Moran ainda assim discute o tema nas entrelinhas. Discute sobre feminismo quando Johanna enxerga o sexo como via de mão única de forma natural, discute feminismo quando Johanna aceita que é uma "baita vadia" por explorar sua sexualidade, quando discute os grandes sonhos da garota e a vergonha de sua origem, quando fala, mesmo que sem nunca usar essas palavras, do peso de ser a única garota da família.

"Algumas pessoas não são apenas pessoas, mas lugares - um mundo inteiro. As vezes você encontra alguém em quem poderia viver pelo resto da sua vida."

É algo tão sútil, porém tão impregnados nas entrelinhas. O tema está em todos as páginas, aperece por toda a história, mas se você não tem noção do que é feminismo, talvez nem perceba. E acho que isso é uma das coisas que mais gostei no livro, porque quando uma história está assim tão cheia de significado, é como ler um livro diferente cada vez que for reler ele.

Eu realmente não tenho mais palavras para descrever Do que é Feita Uma Garota, e acredito que todo mundo em busca de um bom contemporâneo vai se entreter com ele. As referências dos anos 90 estão ótimas e é realmente um exercícios pensar em como as coisas aconteciam antes da internet em larga escala.

"Então o que você faz quando você se construiu do zero, só para perceber que se fez com as peças erradas?"

A edição da Companhia das Letras tem uma diagramação simples, mas com capítulos bem separados, o que torna a leitura dinâmica, e eu amo essa capa meio fanzine dela, é tão referência anos 90 e riot grrrl que dói! O único porém fica a cargo da tradução, que no final do texto acabou perdendo um dos meus trechos preferidos: ao traduzirem "And, like all the quests, in the end, I did it all for a girl: me" para "e no fim fiz tudo por mim: por mim" o significado forte se perdeu um pouco.

site: http://www.queriaestarlendo.com.br/2017/12/resenha-do-que-e-feita-uma-garota.html
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Tami 29/06/2020

Leitura bacana, personagem muito engraçada..abordando alguma temas importantes, mas de maneira descontraída!
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Karen 07/08/2020

Divertido
Eu me joguei nesse livro esperando um "coming of age" leve rs Que bom q não foi, foi bem mais divertido do que eu esperava, vale a pena
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