Matheus Nunes 29/06/2018
John Merlyn, o intocável.
Sabe tudo aquilo que foi escrito por pessoas como F. Scott Fitzgerald e pela geração Beat? O sonho (norte-)americano que perdurou em gerações, as festas, o glamour das noites que parecem não ter fim, a maravilha da juventude e de como gastar esse tempo que passa depressa, pois é, nesse livro aqui é como se o escritor Mario Puzo olhasse para tudo isso com um olhar do atual momento em que ele estava vivendo, todo aquele idealismo do que é viver nos Estados Unidos da America, e tivesse dado umas ótimas e longas gargalhadas, e logo depois escreveu esse livro. Escreveu a verdade.
John Merlyn é um personagem intocável, a vida não consegue atingi-lo, nem a morte, nem a doença da pessoa amada, absolutamente nada. Ele é apenas o cara que sai apontando o dedo para todos ao seu redor, analisando cada fato, chega a parecer que ele é o ventríloquo, e que todos os outros personagens são apenas joguetes, meras marionetes (da vida??), mesmo que ele não tenha tal intenção.
É impossível para de ler esse romance, ele foi escrito realmente com a magica do mago Merlyn, cada capitulo foi escrito com uma sinceridade e com uma poesia crua que comove! É uma escrita sedutora.
Tem um trecho no penultimo capitulo, em um momento muito triste da historia, que me chamou bastante atenção, que é quando o narrador usa pela primeira vez o titulo do livro "Os Tolos Morrem Antes" (ou só 'Fools Die' no original): "Só aqueles que mais amamos é que podem causar a nossa morte e só com eles é que temos de ter cuidado. Os nossos inimigos nunca nos podem prejudicar. E a essência da virtude de meu irmão era que ele não tomava cuidado nem com os inimigos nem com os que ele amava. Tanto pior para ele. A virtude é a sua própria recompensa e tolos são os que morrem."
E isso me lembra MUITO o discurso do Zaratustra lá do livro do Nietzsche, quando o Zaratustra discursa aos virtuosos e fala também de suas supostas recompensas, há uma semelhança nas ideias e um contraponto tambem: "De vós, ó virtuosos, riu-se hoje a minha beleza. Então, sua voz veio a mim: "Eles ainda querem - ser pagos!" Vós quereis continuar a serdes pagos, vós virtuosos! Vós quereis a recompensa pela virtude, do céu para a terra e da eternidade para o vosso hoje? E agora estais zangados comigo porque eu ensino que não há nenhuma recompensa nem pagador? Em verdade nem sequer ensino que a virtude é a sua própria recompensa."
Mario Puzo (John Merlyn) achava que os virtuosos são todos uns tolos, e que eles sempre morrem antes, sem recompensa alguma. Enquanto o Merlyn tá lá, não se importa nem um pouco para a virtude ou moral e consegue viver bem com isso, consegue tudo sem esperar recompensa alguma de ninguém, seja ela uma recompensa material ou sentimental. Ele simplesmente não se importa. E em uma outra frase também nesse penúltimo capitulo prova isso muito bem: "Os elogios fúnebres dos suicidas (os tolos e virtuosos no contexto do livro e na visão dele) condenam o mundo e o culpam pelas mortes deles." E o livro é basicamente sobre isso! Essa frase e essa conexão é a chave da historia toda do começo ao fim.