Manuella_3 16/10/2014
Como é bom terminar uma leitura com vontade de mais! Completamente envolvida pelo amor dos personagens e, de bônus, com boas reflexões sobre as escolhas que fazemos na vida, fecho o livro rendida ao talento de Lucinda Riley.
As Sete Irmãs (Novo Conceito, 560 páginas) é o primeiro de uma série longa: serão sete livros. Haja fôlego para ler tudo, haja paciência para esperar pelos lançamentos. Como a escritora é muito querida no Brasil razão que a levou a escrever este romance nas nossas paisagens -, com certeza o sucesso está garantido.
Pa Salt era um homem rico, inteligente e misterioso, que adotou seis meninas de diferentes lugares do mundo e deu-lhes os nomes de seis estrelas da constelação das Sete Irmãs. Após sua morte, cada filha recebe uma carta carinhosa com um conselho para a vida e algumas pistas sobre a origem de cada uma. Generoso, o pai deixa que decidam buscar ou não suas histórias.
Cada livro é dedicado a uma das irmãs e um mistério envolve o último, uma vez que Pa adotou apenas seis meninas. O leitor pode verificar esta informação no vídeo da autora, no link no final da resenha.
O primeiro livro da série conta a história de Maia, a primogênita, tradutora talentosa que permaneceu morando com o pai numa magnífica ilha na Suíça, enquanto as outras irmãs seguiram suas vidas pelo mundo. Maia guarda um segredo que só divide com Marina, a fiel governanta de Pa Salt, que ajudou a criar as meninas com o carinho e a preocupação de uma mãe.
Ao receber a carta, Maia fica intrigada ao saber que teria sido adotada no Brasil. Curiosamente, fora estimulada pelo pai a aprender português. Em meio à dor do luto, resolve viajar para o Brasil depois do telefonema de alguém que não quer reencontrar. No Rio de Janeiro, tem como guia Floriano Quintelas, escritor e historiador brasileiro cujo último romance ela traduzira para o francês. A amizade entre os dois passa a ser fortalecida pelo interesse de Floriano em ajudar Maia a desvendar os mistérios do seu passado. As pistas que têm levam à decadente Casa das Orquídeas, onde vive Beatriz Cabral, a suposta avó de Maia, que não quer nenhum contato. Mas a cuidadora da velha senhora entrega a Maia antigas cartas de Izabela Bonifácio, sua bisavó.
A partir desse ponto, a narrativa passa a ser alternada entre o presente de Maia e o passado de Izabela, nos anos 20. Izabela é uma linda jovem, obrigada a aceitar um casamento arranjado pelo pai, um rico produtor de café que ambiciona frequentar as altas rodas cariocas. O noivo é o insosso Gustavo, filho único da tradicional família Aires Cabral, que vê no casamento a possibilidade de sair da atual decadência financeira.
"Bel entrou no banheiro luxuoso. Fechou os olhos e pensou em como era ridículo que um anel em seu dedo e algumas frases curtas pudessem mudar sua vida tão profundamente. O contraste entre a Bel feminina e solteira - cuja virtude deveria ser protegida a todo custo dos machos predadores - e a mulher que agora, a poucas horas de entrar em um quarto sozinha com um homem para o mais íntimo dos atos, beirava o ridículo. Ela ergueu os olhos para seu reflexo no espelho e suspirou."
Através da história de Izabela, a autora nos conta sobre o período de construção do Cristo Redentor e insere personagens reais no romance, como o engenheiro brasileiro da obra, Heitor da Silva Costa, o escultor francês Paul Landowski (responsável pela escultura) e seu assistente, Laurent Brouilly, a grande paixão de Izabela em Paris. Com Maia, descortinamos a beleza natural do Rio de Janeiro atual, com todas as desigualdades sociais e a riqueza cultural que caracterizam muito bem o nosso país.
O amor que liga Izabela a Laurent é lindo, intenso e proibido. A escritora vai esculpindo um belo texto palavra a palavra, valorizando o cenário encantador do Rio de Janeiro antigo e de Paris no final dos anos 20, com todo o romantismo sufocado pelas convenções sociais. Riley engrandece a narrativa com os fatos históricos e os mistérios que precisam ser descobertos, instiga o envolvimento com os personagens à medida que conhecemos suas paixões e fraquezas. Alimenta no leitor uma curiosidade irresistível sobre o destino dos casais que se formam. Torcemos pelo amor, é inevitável.
O romance do século XX influencia Maia fortemente, levando-a a questionar as escolhas que fez até o momento. O exemplo da audaciosa Izabela do passado traz mudanças significativas para a vida da bisneta, que ousa experimentar ser fiel aos seus mais íntimos desejos e sentimentos. Então, Maia sai do casulo frio onde sempre estivera escondida, agora fortalecida e vibrante, encorajada e encantada pelo atencioso Floriano. Para os românticos, mais uma dose de suspiros, paixão e arrebatamento.
Gostei muito de Laurent e Floriano, homens dedicados, cavalheiros e apaixonados. Apreciei ainda mais as personagens femininas. Enquanto Izabela é decidida e corajosa, mas acaba resignada a uma vida morna por um grande motivo (deixarei que o leitor descubra), Maia é muito introspectiva e medrosa, mas encontra na paixão a possibilidade de uma louca virada. Coisas que o coração ajuda a resolver... As duas grandes mulheres do romance vão na contramão uma da outra.
As Sete Irmãs é um livro que fala dos caminhos que tomamos na vida, as inevitáveis consequências das escolhas que precisamos fazer e as pendências geradas pela falta de coragem. Da necessidade de enfrentar o que vem pela frente, de assumir os sentimentos, de seguir o coração. É um livro para românticos, sem dúvida. Adorei ver personagens tão destemidas, mulheres que abraçaram suas decisões e pagaram o preço cobrado. Que muito choraram, mas nunca se desviaram de seus valores.
Você é linda, minha querida Maia. Desejo tantas coisas para o seu futuro... Acima de tudo, desejo que encontre o amor. É a única coisa na vida que torna a dor de viver suportável. Por favor, lembre-se disso." (Beatriz, p. 529)
Não se deixe enganar: Lucinda abre lentamente sua caixinha de segredos e dela vai retirando os retalhos que dão cor aos fatos históricos à época da construção do Cristo, com ingredientes calorosos que merecem os cenários do Rio e de Paris. O livro termina com um convidativo gancho para o próximo, que será sobre a segunda irmã, Ally.
Depois da leitura carregada de emoção, fica viva aquela inquietante indagação e se eu tivesse feito diferente? que muitas vezes nos ocorre quando fazemos um balanço da vida. Quem nunca ficou imaginando as várias possibilidades para decisões diferentes? Para esta pergunta, vale registrar a bela lição do livro, um soco logo nas primeiras páginas, no recado que o patriarca Pa Salt deixa à primogênita Maia: nunca deixe o medo decidir o seu destino.
Link do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/399731-as-sete-irmas
Booktrailler do livro: https://www.youtube.com/watch?v=Lrc6TATdbws
Lucinda Riley fala da criação da série: https://www.youtube.com/watch?v=A8_05-ROpoY
Resenha publicada no blog Ler para Divertir:
http://www.lerparadivertir.com/2014/10/as-sete-irmas-lucinda-riley.html