Viviane 11/05/2024
Um teto todo atual?
Eis que passado quase um século de sua publicização, o ensaio de Virgínia Woolf permanece mais atual do que nunca.
Nas suas pouco mais de cem páginas, a autora discorre criticamente sobre as diferenças de gênero na produção textual e literária, indo muito além da mera distinção de estilos e adentrando na esfera das diferentes realidades a que homens e mulheres vivem, com o constante avolumar de privilégios daqueles em detrimento da carência de oportunidades e experiências destas.
Apesar de ser um livro curto, sua leitura não é fácil. Seja pelo fluxo de consciência imprimido a cada frase, que nos arrasta e confunde, seja pela densidade do tema tratado.
É uma obra necessária, no entanto. Longe de externar amargura, brota de cada página um certo humor ácido, uma fina ironia e o despertar das mulheres para se apossarem de um universo que também lhes pertence por direito. Tudo isso recoberto por uma camada de pragmatismo, que tenta manter a todas nós com os pés bem firmes no chão.
O resultado disso, é que cem anos depois, ainda que as mulheres tenham invadido editoras e livrarias, ainda falta muito. Mais do que nunca, se faz necessário ?um teto todo nosso? e, na ausência de uma renda de 500 libras anuais, uma boa estabilidade financeira, para que as mulheres possam diminuir a desigualdade que as distancia dos homens quando tratamos de produção literária.