Lili Machado 11/08/2011“Nós observamos e estamos sempre aqui” – A TalamascaAnne Rice, a mestra do gótico contemporâneo, dominando o drama, o terror, o suspense e a sensualidade, nos apresenta a Talamasca - um grupo de estudiosos, com poderes extra-sensoriais que, durante séculos, pesquisou a vida da família Mayfair, uma dinastia de bruxas que começou no século XVII, na Escócia, imigrou para as plantações do Haiti e de lá, para o Novo Mundo, estabelecendo-se na fantasmagórica Nova Orleans. É através dos arquivos secretos dessa sociedade, que descobrimos essa saga de seres que convivem, pacificamente, com um espírito, meio divindade celta, meio demônio, chamado Lasher.
É um conto cativante e hipnótico, abrangendo quatro séculos - uma grande dinastia de bruxas - uma família dada à poesia e ao incesto, ao assassinato e à filosofia, uma família que, ao longo dos tempos, é assombrada por um ser poderoso, perigoso e sedutor.
O livro, na edição brasileira, se divide em duas partes: a primeira apresenta os personagens, girando em torno da família Mayfair. Cabe a Rowan, brilhante neurocirurgiã californiana e herdeira do clã, no século XX, decidir-se entre o amor de Michael Curry (que ela traz de volta do reino dos mortos) e a sedução de um ser poderoso que quer ficar nesse mundo para sempre – e Rowan é sua solução. Rowan, que nada sabia de sua origem, toma posse da casa, da esmeralda e do legado. Mas, de quebra, leva também Lasher e sua maldição. Um fantasma que aparece nos espelhos e que possui um vínculo erótico com as mulheres da família, proporcionando riquezas incalculáveis.
A segunda parte é um relatório sobre a família Mayfair, onde aprendemos que esta se inicia no século XVII, com uma mulher que era considerada bruxa, e continua até o fim dos anos 80, do século passado...
Rice conduz a história com maestria abordando vários temas polêmicos como religião, homossexualismo, força ocultas, vingança, incesto, misturados com mistérios seculares, assassinatos, voodoo, santeria, bonecos feitos de ossos e cabelos humanos, sedução, amor e ódio. Devo dizer que o envolvimento com o ambiente é total (você se sente no First Quarter em Nova Orleans), uma verdadeira imersão no universo apresentado pela autora. Ela nos descreve os adornos exuberantes da grande casa, como um amante abraça uma antiga paixão. E suas descrições: roupas, arte, porcelana, comida e até mesmo a cultura de Nova Orleans – tudo brilha na chama de uma vela amarela - exemplo de seu estilo de escrita sensual.
Os acontecimentos que conduzem ao conflito final do thriller, em que Michael e Rowan começam a reformar a antiga casa dos Mayfair, são cheios de detalhes arquitetônicos, estrategicamente levando o leitor a um crescente sentimento de pavor.
Como em todos os romances de Anne Rice, os mortos não somem, simplesmente. Eles se escondem nas sombras da história, como o fizeram durante séculos. O tempo pode ter passado, mas seu poder é de grande alcance. Mesmo dentro das sombras dos arranha-céus, automóveis e computadores, este medo atemporal e sobrenatural está se escondendo. Nos mundos fascinantes de Anne Rice, lendas antigas esperam por nossa imaginação.