Carlinha 11/06/2024
Seria ele um animal, se a música o emocionava tanto?
A Metamorfose é um livro da literatura alemã publicado em 1915 e cujo autor é Franz Kafka. A história começa com o personagem principal - Gregor Samsa ? acordando de sonhos agitados e transformado em um inseto asqueroso.
Uma das coisas que mais me chamou a atenção de início é que a primeira preocupação de Gregor ao ver-se transformado em inseto é como irá trabalhar desse modo. Ao longo da trama essa preocupação ganha significado ao leitor quando é possível observar o tipo de relação utilitarista que ele nutria com sua família: baseada em uma troca material vazia e sem afeição. Nesse sentido, é relevante chamar a atenção sobre um dos aspectos que se pode refletir a partir de A Metamorfose, que é a objetificação das relações.
Outro ponto importante é a própria animalização do sujeito. Na obra, Gregor se transforma literalmente em um inseto asqueroso, mas o seu processo de desumanização começa anterior ao cume dessa transformação. Apesar de não termos notícias detalhadas de como era a vida do personagem antes da metamorfose, é possível observar pistas de que ele desordenadamente vivia em função do seu trabalho e das relações superficiais que mantinha. Essa questão é importante para se pensar acerca do homem moderno e sua falta de tempo para suas próprias questões, desumanizando-se.
Entretanto, apesar de sua animalização literal em aparência, Gregor ainda nutria, mesmo que no fundo, a sua dignidade enquanto humano. Assim, podemos refletir que o valor da vida não é algo dado por terceiros, mas inerente à própria pessoa, por mais que esteja numa condição animalizante. Isso fica claro quando Gregor se emociona ao ouvir sua irmã tocando violino ? poderia ele se emocionar se fosse um simples animal?
A Metamorfose é um livro curto que, com olhar atento, pode suscitar diversas reflexões e debates. Em minha opinião, o leitor deve ler essa obra com olhar atento para que não se limite a ver apenas a história de alguém que se transformou em um inseto asqueroso, mas consiga captar a genialidade kafkaniana.