LAPLACE 26/05/2016A Queda dos Reinos - Morgan RhodesA magia já foi bastante comum em Mítica, entretanto, desde a guerra que culminou na morte das duas deusas rivais, Cleiona e Valoria, mil anos atrás, as pessoas que dominam o elementia — capacidade de controlar os quatro elementos: fogo, água, ar e terra — vêm sumindo gradativamente. Em algumas regiões do continente elas até passaram a ser caçadas, como é o caso do reino Limeros.
Uma terra gélida no extremo norte de Mítica, Limeros é governada pelo rei Gaius Damora, o Rei Sanguinário, que reina usando o medo para subjugar todos que se opõem a ele, e que persegue os bruxos — pessoas capazes de usar elementia. Seu filho, Magnus, caminha sobre os mesmos passos do pai e guarda um importante segredo, assim como sua irmã, Lucia, que é uma das poucas pessoas de sua terra que ainda adora a deusa Valoria.
Em Auranos, uma terra próspera, o rei Corvin Bellos proporciona uma boa vida para seu povo e suas filhas, Emília e Cleiona. Emília, a mais velha e a herdeira do trono, comporta-se como uma digna princesa, já Cleiona — que recebeu o nome da deusa que seu povo adora — não é devota à deusa e não crê na magia como sua irmã, e ainda vive aprontando, sendo uma constante dor de cabeça para seu pai.
Espremida entre os dois reinos se encontra Paelsia, um povo que vem definhando ao passar dos anos em uma terra estéril. Abandonada por seus vizinhos, a população do lugar vende seus saborosos vinhos — a única coisa que cresce em seu solo — a preços miseráveis para conseguir o mínimo para sobreviver, e muitos não resistem à chegada do inverno. Ainda assim, esse povo acredita que seu líder, Hugo Basilius — a quem adoram como um deus —, irá mudar seus destinos. Porém alguns estão fartos de esperar, como Jonas Agallon, que faria tudo por seu povo, até invadir os reinos vizinhos.
O plano de Jonas não tardará a se realizar, um conflito entre os três reinos está próximo a eclodir, afetando a vida de todos. Inflamadas por seus objetivos, a maioria das pessoas só pensam em conquistá-los, ao invés de se unirem em busca da Tétrade, o objeto que pode impedir a morte de Mítica, que vem se tornando uma terra inabitável ao longo dos anos com a ausência da magia.
Quer saber o que acontece? Então corre para ler o livro!
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Eu nunca havia ouvido falar de Morgan Rhodes e seu trabalho até o dia em que a Mirelle me apresentou Maré Congelada, o 4º volume da saga A Queda dos Reinos — mesmo nome do livro dessa resenha —, e me encantei pela capa e sinopse. Amo histórias que envolvem a manipulação dos quatro elementos e que se passam no período medieval, e não perdi a oportunidade de mergulhar nessa.
Para minha surpresa, A Queda dos Reinos não é um livro sobre grupos de pessoas que controlam os elementos e os usam em batalhas épicas. Isso acontece na história, o uso dos elementos está lá, não se engane, mas a história é muito mais complexa. Até porque, como eu disse acima, a magia está se esvaindo de Mítica, então como poderiam ter magos voando, andando sobre as águas, cuspindo fogo e erguendo montanhas por todos os lados?
A Queda dos Reinos é como As Crônicas do Gelo e Fogo, só que bom.
Não entrarei em detalhes sobre minha opinião quanto ao livro do George Martin, essa resenha não é para isso, mas eu comparo os dois livros por que ambos têm: elementos fantásticos, conflitos de poderes, guerra entre reinos e política. Ah, e também morre muita gente em ambos, então conselho você a não se apegar muito aos personagens.
O lado político do livro da Morgan não é tão incrível como o do George — devo reconhecer que ele cria tramas incríveis nesse campo —, mas eu gostei de a autora ter explorado essa vertente, porque uma obra sobre reinos e em uma época medieval sem política não existe, não pode ser apenas atritos de espadas, tem que ter todo o conflito entre os reinos e as consequências que as decisões dos líderes trarão a seus povos.
O texto é narrado em 3ª pessoa, acompanhando os passos de Cleiona (Cleo), Jonas, Magnus e Lucia, e em alguns poucos casos somos guiados por outros personagens. Algo que me agradou na obra da Morgan foi a humanidade dos personagens. Quem acompanha minhas resenhas sabe o quanto reprovo personagens perfeitos e aprecio aqueles com falhas, e aqui, mesmo os personagens mais que aparentam ser puros já tomaram decisões egoístas, erradas e tomaram atitudes extremas devido aos seus sentimentos.
Agora também teve algo que me incomodou nos personagens: a superioridade que os adolescentes possuem sobre as pessoas mais velhas. Mais da metade dos personagens está na faixa etária entre 15 e 18 anos, e em muitas ocasiões eles parecem ser mais inteligentes e fortes que os adultos, até mesmo que os reis e as bruxas. Em mais de uma ocasião as crianças colocaram os adultos contra a parede e os deixou desnorteados e derrotados.
Eu sei que para o público da Morgan é interessante dar tanto destaque a personagens tão novos, no entanto, imagino que algumas das atitudes que foram tomadas condiziam mais com personagens adultos. O comportamento, a fala e atitude deles me fez esquecer várias vezes que eu estava acompanhando adolescentes, se o livro não lembrasse constantemente suas idades, ao término da leitura eu teria esquecido completamente.
Ainda sobre as falas, algumas — não muitas — me pareceram meio incoerentes com o período da narrativa. Tem certas palavras e jeitos de falar que simplesmente não se enquadram em uma história medieval, passa um ar irreal. Eu também esperava alguns diálogos e cenas que não ocorreram. A Morgan faz muito desenvolvimento de personagem, muito aprofundamento sobre seus conflitos e como as consequências de seus atos os afetam, isso é muito bom, mas, embora isso esteja bastante presente, faltou alguma coisa.
Como quando ocorreu a última empreitada da Cleo. Tinha que ter um diálogo com o Aron! Devido ao que ela fez e ao laço da trama que prendia os dois, nós tínhamos que ter visto essa conversa, mas a autora apenas passou por cima. Em contrapartida, há alguns capítulos também que eu descartaria da história, como aqueles dedicados aos vigilantes.
Eu sei que eles são muito importante para o universo de A Queda dos Reinos, isso é indiscutível, mas, na minha opinião, eles poderiam ser guardados para os próximos volumes. Poderíamos ter aprendido sobre eles através dos demais personagens, como de fato aconteceu, não havia necessidade de visitarmos o Santuário agora. E a participação deles é muito pequena na trama, houve momentos que eu os esqueci, e quando surgiu um novo capítulo com eles passou pela minha cabeça algo como: “Ah, é, esses caras estão nessa história também”.
Apesar dos pesares, A Queda dos Reinos é uma boa história e confesso que estou curioso para saber com o que iremos nos deparar após o gancho que o final do volume 1 deixou. E, podem ter certeza, eu trarei a resenha do próximo volume para vocês.