Leonel Cupertino 27/02/2020
Um compilado verídico do sertão goiano
Trata-se de uma compilação de histórias, uma espécie de crônicas do esquecido sertão de Goiás, que expressam toda a simplicidade e altivez do tropeiro, do boiadeiro, mas com algumas pitadas de personagens de teor feminino - Nhá Lica, destaca-se - em recordações de sua meninice na capital.
São históricas riquíssimas com os hábitos de homens que cruzavam o país e serviam como conexão entre o campo (fonte de poder econômico e político) e a cidade (fonte de instrução, pequenos polos comerciais e de irradiação do poder religioso).
Posso afirmar, sem medo, que muitas das histórias do nosso autor são "causos" verídicos, ou criativamente inventados num imaginário longínquo daquele cotidiano rural. Os personagens contidos na narrativa são em sua maioria homens e mulheres simples, trabalhadores do campo, sujos de terra e suor, em roupas velhas e pouso em choupanas humildes ou fazendas de endinheirados. Temos até uma pitada de folclore com um conto do Saci, numa interpretação genuinamente goiana.
Sobre o nobre escritor, é possível identificar sem muito esforço que Hugo de Carvalho Ramos foi um homem que, recluso em seu quarto de estudante no Rio de Janeiro, sentia falta do cerrado, dos ares tranquilos e rústicos dos rincões goianos, e encontrou nas palavras de seus diversos personagens o lirismo necessário para conectá-lo ao seu chão. Infelizmente, seu fim foi trágico, mas a sua obra ficou para a posteridade como um expoente da cultura daquele estado distante no centro do Brasil, marginalizado culturalmente, até hoje, pelo centro-sul do país.