Érika
31/05/2020No limiteEsse era um daqueles livros cujo título despertava reativava sinopses no meu cérebro, mas que eu nunca tinha pegado para ler. Acabei chegando nele numa busca por poetas contemporâneos para trazer para a oficina promovida pela @editoraipe. Quando vi, tinha lido um terço do livro, e decidi ler o resto assim que tivesse oportunidade.
Angélica Freitas é uma poeta e tradutora ? do alemão, ao que parece ? pelotense, que publicou dois livros de poemas pela finada editora Cosac Naify: "Rilke Shake" e este aqui, de 2012, cujo título remete imediatamente à recente onda de poesia feminista ou militante que entrou na moda com Rupi Kaur e Amanda Lovelace. Mas não é bem isso, não. O livro tem sim um viés feminista em boa parte dos poemas, especialmente nas duas primeiras partes (Uma mulher limpa e Mulher de). Em si mesmo, esse viés não é problemático; o problema é, como bem se expressou um amigo, quando se cruza a linha tênue que separa o poema combativo do textão. Angélica Freitas nunca chega a cruzar essa linha, embora alguns textos esbarrem nela. Há outros, porém, que ao mesmo tempo transbordam de feminismo e de ironia (mulher de vermelho) ou amargor (uma canção popular), conforme o caso, e o sorriso ou o sorriso invertido que provocam é a própria arma pela qual evidenciam sua mensagem ou o problema que abordam. Outros poemas são puramente líricos, refletindo angústias universais (pós) ou de gênero (a mulher é uma construção) em angústias pessoais (querida angélica). E o uso que a autora faz da linguagem é muito bom, os poemas são sonoros (mulher de valores), resgatam expressões populares e brincam com seus possíveis sentidos. Como sempre, não gostei de tudo, mas anexei aqui uns poemas ou trechos que me agradaram particularmente. Role para o lado para ver as fotos com eles e decidir por si mesma(o) se esse tipo de texto te atrai e se vale a pena investir na leitura. Um abraço e bom resto de domingo!