Queria Estar Lendo 04/07/2017
Resenha: Almanova
Almanova é o primeiro livro da trilogia Incarnate, da autora Jodi Meadows, e que conta a história de uma menina que nasceu com uma alma nova em um mundo onde todos reencarnam e se recordam de suas vidas passadas. O livro foi publicado aqui no Brasil em 2013 pela editora Valentina, que nos cedeu um exemplar para resenha.
Ana é uma almanova, ou uma sem-alma como sua mãe Li gosta de lhe dizer. Com apenas 18 anos de vida, a garota precisa aprender cada pequena coisa do zero, diferente de todas as outras pessoas, que já estão no mundo a milhares de anos e já reencarnam com o conhecimento de suas vidas passadas. Por isso, Ana é uma aberração. A única almanova que surgiu, sem que ninguém saiba o motivo, e tomou o lugar de outra alma que nunca mais reencarnou.
Ana é uma estranha, um erro. Ela é uma ameaça, uma impostora. Ana está viva, mas talvez amanhã não esteja mais.
"- Sinceramente? Eu acho que as pessoas não têm certeza se vale a pena conhecê-la. É como decidir se vale a pena fazer amizade com uma borboleta, já que ela não estará ali de manhã."
A história se inicia com Ana deixando a casa de Li e partindo rumo a Heart, a cidade onde todos vivem e onde ela espera encontrar respostas sobre quem é e o porquê, depois de milhares de anos, algo como ela ocorreu. Ficar livre e longe do rancor e das maldades da mãe é animador, mas o mundo é muito maior e perigoso do que a garota imaginava, e ser uma novata em relação a tudo não ajuda em nada. É por isso que ainda em sua primeira noite na floresta Ana acaba sendo atacada e quase morre afogada no rio, não fosse por um garoto que mergulha e a salva da morte. Talvez sua primeira e última.
Sam acabou de reencarnar e tem apenas 18 anos nesse novo corpo, quando em certa noite ouve o grito de uma garota ao pular de um penhasco em direção ao rio. O que ele não esperava é ter salvo a vida de Ana, aquela Ana de quem todo mundo sabe mas poucos conhecem. E ele esperava menos ainda que ela fosse assim tão arredia e sem compreender gestos de bondade e amizade. Após o primeiro contato com a garota fica nítido que ela precisa de ajuda e, principalmente, de um amigo.
E é assim que os dois partem em uma jornada rumo a Heart, para que Ana possa enfim conhecer a cidade onde nasceu e, quem sabe, descobrir um pouco mais sobre sua origem. Em meio a salvamentos mútuos, conversas e trocas de histórias a afinidade entre a almanova e Sam começa a crescer. Além de uma amizade, a relação dos dois toma moldes para os quais Ana não estava preparada e com os quais Sam não sabe como lidar. Afinal, em um mundo onde todas as almas reencarnam, como é possível se permitir amar alguém que talvez nunca mais vá voltar?
Almanova tem uma premissa maravilhosa e, apesar da sinopse vaga, me conquistou desde o primeiro momento. Inicialmente eu estava com certas dúvidas, principalmente por se tratar de um YA fantástico de 2013, onde os livros do gênero eram bem diferentes (e mais fracos) do que temos hoje no mercado. A qualidade da história e a maneira como me apeguei a Ana e Sam foram realmente surpreendentes pra mim. Ana é o tipo de personagem que talvez em um contexto diferente poderia ter sido uma protagonista chata, mas que é perfeita no livro e no universo ao qual pertence pois ela é nova, ela está descobrindo tudo, ela teve uma vida onde sempre foi renegada e tratada com desprezo e maldade. As ações da personagem se justificam com a sua história, suas dúvidas são bem fundamentadas assim como seus medos e suas desconfianças.
"- Você não é uma sem-alma.Você é capaz de sentir o que quiser."
Por sua vez, Sam é apaixonante. Até mesmo quando ele toma atitudes em que patroniza Ana, é possível entender seu medo por trás de tais atitudes. Ele teme pela garota, ele quer ajudá-la e protege-la, mas nem por isso a coloca em uma torre e a julga incapaz. Diferente do que costumamos ver por aí em livros do gênero, Sam se coloca ao lado de Ana e sempre a assegura que ela é livre e capaz para fazer o que quiser, para aprender o que quiser. Ele sempre está ali para ela, e é lindo de ver que ela também está ali para ele.
Porque Ana pode precisar de Sam, mas ele precisa dela tanto quanto.
Jodi Meadows acertou em cheio ao criar um universo tão interessante para a história, que além de toda a busca de Ana por respostas também contempla, ainda que sutilmente, uma questão religiosa e a procura pelo entendimento de quem somos, por que somos melhores do que os outros, o que nos faz donos de onde estamos. A escrita é simples e por vezes me peguei pensando que a tradução poderia ter sido melhor ajustada em alguns pontos, mas nada que prejudique a leitura. O livro sofre uma pequena queda quanto a narrativa nas últimas 80 páginas, que é onde o plot final da história se desenvolve e por isso tirei 0,5 da nota.
A edição da Valentina é muito bonita, com uma diagramação muito boa e que facilita a leitura. No início de cada capítulo tem o desenho de uma borboleta, que é a associação feita a almanova. Embora a maioria das pessoas ame a capa do livro, eu acho ela um pouco datada (mas achava linda logo que ela saiu, 4 anos atrás). O livro tem menos de 300 páginas então é a escolha perfeita para uma leitura rápida e fluida, que vai te deixar querendo mais.
Almanova é o primeiro livro da trilogia Incarnate e levanta questões sobre o amor, reencarnações e como você viveria sua vida se tivesse a certeza de que iria voltar. E o que faria se o amor da sua vida fosse apenas o amor de uma vida, e não de todas. Valeria a pena se apaixonar? Mais do que isso: alguém consegue controlar por quem se apaixona?
Ana e Sam talvez tenham apenas uma vida juntos para descobrir todas essas respostas, mas eles vão tentar.