Lucio 31/01/2018
Filosofia Moral e Existencial de uma Perspectiva Cristã
UMA AVALIAÇÃO GERAL
Este é um livro sobre filosofia moral e existencial da perspectiva cristã. Os temas levantados giram, basicamente, em torno disso. E a própria apologia ao cristianismo toma esses dois grandes temas por base. A partir de um argumento moral, justificado introspectivamente, Lewis nota a necessidade da redenção em Cristo. E do mesmo ponto introspectivo, Lewis lida com o encontro de si na entrega da vida a Cristo.
Tudo isso é trabalhado em termos mais filosóficos do que teológicos. Mas o fato de ser filosófico não implica em linguagem truncada. Lewis, como escritor de literatura, tem habilidades retóricas muito agradáveis, aprazíveis. Sempre busca alguma ilustração e geralmente consegue elucidar muito bem os temas.
Lewis, embora não mencione, está sempre em diálogo com filósofos clássicos. As influências de filósofos clássicos da cristandade também é notável. Agostinho pode ser visto em várias páginas, por exemplo. Mas disputas com Hume, Freud (que é mencionado), Russell e Nietzsche estão presente em várias porções.
CRÍTICA
O livro trabalha excessivamente com teses libertárias (em termos teológicos, não econômicos). Para Lewis, a chave para a solução de uma série de problemas está no 'livre-arbítrio' humano. Parece-nos, no entanto, que o conceito está envolto de problemas. Principalmente no que concerne aos desdobramentos teológicos, tal como quando Lewis diz ser impossível a Deus fazer qualquer coisa se não permitirmos. Isso leva Lewis a várias contradições que empobrecem a obra.
Lewis, também, principalmente no livro IV, comete uma série de deslizes teológicos grosseiros e até perigosos. Demonstrou que deveria ter ouvido o conselho de não tocar em pontos teológicos. Não por serem dispensáveis, mas por não ser da alçada deste grande pensador. Ao falar demais sobre temas não dominados, acabou falando muita besteira.
Suas noções a respeito da obra de Cristo, i. e., suas noções concernentes à justificação, são muito ruins. Tanto é que, embora haja um pequeno capítulo tratando de conversão, a maior parte de sua ênfase está em um conceito mais próximo à 'infusão de graça' da Igreja Católica.
Lewis, também, faz concessões perigosas a Freud, embora note muito bem seus distanciamentos para com a fé cristã. Lewis busca resgatar a psicanálise como ferramenta e distanciá-la do envólucro materialista que Freud coloca. Pelo menos é a tentativa.
O autor, também, é muito confuso em sua concepção sobre a Trindade. Outra parte aterrorizante é a sua perspectiva sobre salvação fora de Cristo, até mesmo em outras religiões.
RESUMO GERAL
O livro tem como fundamento filosófico das teses metafísicas as descrições dos fenômenos introspectivos. A partir daí, Lewis nota dever haver um legislador moral. Então, trabalha as perspectivas possíveis para lidar com os fatos e destaca a superioridade do cristianismo para explicar os fatos. Da inevitável culpa moral, pois, surge a necessidade de expiação. Da expiação, temos, pois, a conversão ao cristianismo pela fé na obra de Cristo e, na sequência, a própria vida cristã em seus aspetos morais, bem como os aspectos estritamente doutrinais.
[Para mais detalhes dos equívocos, confiram o histórico de leitura que contém análise de capítulo por capítulo]
RESUMO DOS LIVROS
No Livro I, Lewis trata de mostrar que a moralidade é a chave para se pensar a realidade que transcende o materialismo. Trabalha com a tese de que temos, em nós mesmos, o testemunho de que os valores objetivos existem, e que, sendo o caso, não são meras construções humanas e que demandam um legislador por trás. Ou seja, é basicamente uma defesa do teísmo. Todavia, há um desdobramento para a própria lida humana e sua responsabilidade para com essa lei moral, o que nos levará ao teísmo cristão.
No Livro II, Lewis começará refinando o teísmo, mostrando as incongruências das alternativas metafísicas. Objeções,como o problema do mal ou a ideia de que o teísmo cristão é muito complicado, são trabalhadas. No refinamento do teísmo para teísmo cristão, Lewis acaba por repousar numa discussão critológica, discutindo aspectos da natureza e da obra de Cristo à luz da chave metafísica moral desenvolvida no primeiro livro, e mostrando a pertinência de Jesus para esses problemas filosóficos.
O Livro III é o livro em que Lewis se dirigirá a questões da moralidade cristã, da vida cristã em geral, abrangendo, pois, vários temas com alguma independência.
No Livro IV, finalmente, Lewis resolve se voltar estritamente para questões teológicas para, finalmente, terminar em seus desdobramentos diretos para a vida cristã. Temas sobre Deus, Trindade e Antropologia Teológica voltam à baila de forma estritamente dirigida.
RECOMENDAÇÃO
O livro, mesmo com todos os defeitos, é um clássico. Um cristão reformado terá problemas. Sentir-se-á numa montanha russa, i. e., haverá capítulos maravilhosos, e outros horríveis. Mas, independente da orientação teológica, é um livro obrigatório para todo estudante de filosofia moral. Mesmo que não concordemos com Lewis, o projeto, num todo, que liga cada parte do livro é muito interessante e bem bolado.