@fabio_entre.livros 30/03/2018
Das telas para as páginas
Não tenho recordação de nenhum thriller mais envolvente e que combinasse com mais maestria o suspense policial e o erotismo de modo tão perfeitamente equilibrado do que o filme "Instinto selvagem", de Paul Verhoeven. A produção revelou Sharon Stone como um símbolo sexual da década de 90 e é até hoje um dos filmes mais representativos do gênero. Tal foi o sucesso da produção que o roteiro vertiginoso de Joe Eszterhas foi adaptado em forma de romance por Richard Osborne e lançado mais ou menos na mesma época do filme.
Para quem estava em Vênus ou Plutão pelos últimos 30 anos e, portanto, ainda não sabe do que se trata a trama de "Instinto selvagem", é um suspense erótico que gira em torno da figura de Catherine Tramell, uma típica femme fatale: rica, inteligente e sedutora, e que também pode ser uma criminosa fria e manipuladora. Catherine é suspeita de ser a assassina de um astro de rock morto brutalmente durante uma sessão de sexo sadomasoquista, pois ela é escritora e o crime em questão foi executado exatamente como é descrito em um de seus romances. O detetive Nick Curran começa a investigar Catherine, mas acaba se envolvendo numa teia de dúvida e sedução conduzida pela suspeita. Sexo, drogas e novos assassinatos provocam reviravoltas constantes na busca pela verdade e a partir daí não só a carreira de Curran fica ameaçada, mas a sua própria vida.
Particularmente, considero Catherine uma personagem fascinante; ela é brilhantemente interpretada por Sharon Stone e creio que se o livro de Osborne fosse original, isto é, se não fosse baseado em uma outra mídia, haveria uma excelente margem para uma profunda abordagem psicológica de suas motivações, medos e mecanismos de sedução. Sendo uma adaptação de um roteiro, os personagens ficam inevitavelmente limitados a um plano previsível, o que, se por um lado empobrece-os quanto à sua personalidade e individualidade, por outro lado os mantêm fiéis ao que é visto na tela.
Como no filme, o suspense e os passos da investigação são conduzidos com um ótimo timing, e tendo o livro pouco mais de 200 páginas, não há tempo desperdiçado com enrolação ou flashbacks (duas coisas que eu detesto em romances policiais). Quanto ao erotismo, que é algo inerente e indissociável da história, também é muito bem explorado no livro, das insinuações entre Nick e Catherine, que provocam um aumento crescente na tensão entre eles, até as descrições do sexo acrobático mais que tórrido.
Mesmo sendo uma transcrição romanceada do filme, com suas óbvias limitações literárias, achei a leitura muito válida. Naturalmente, gostaria mais se o livro aprofundasse a psicologia dos personagens, sobretudo a gênese da psicopatia do(a) assassino(a), mas ainda assim, foi um ótimo passatempo e um convite a rever o filme. Recomendo ambos.