Jef 14/12/2017
"Os monstros invisíveis e visíveis somos nós"
Imagine que você se interessa para ler um livro chamado "Monstros Invisíveis".
Se eu estivesse passando por alguma livraria ou sebo eu nunca compraria por causa da capa que parece feia e cafona, mas tem um detalhe: Chuck Palahniuk. Esse nome. Esse é o nome. Esse nome me faz comprar muitas coisas dele. E depois de me aventurar em "Clube da Luta", "Sobrevivente", " No Sufoco" e "Assombro" e "Condenada" (que foi o único que não curti e abandonei a leitura) procurar outros livros tão bons quanto em português, a recomendação de sempre era "Monstros Invisíveis".
Corta para eu procurando comprá-lo.
Queria comprar. Queria porque pra achar esse livro vendendo é tão difícil que dá desanimo. E quando se acha é por preços absurdos de R$150, R$200,00 a R$400,00 (junto com "Cantiga de ninar") pela raridade e esgotamento da editora Rocco. E como a editora Leya não relançou (tá dando mole, Leya! Relance logo e de preferência a "versão remix"), o que resta são os PDFs e Epubs da vida.
Com o livro digital devidamente baixado, começo a leitura e o fotógrafo de dentro da minha cabeça diz:
Quero críticas sociais.
Flash.
Quero bizarrices.
Flash.
Quero narrativa não linear.
Flash.
Personagens incomuns.
Flash.
Quero Chuck Palahniuk fazendo o que faz de melhor.
Flash.
Corta para eu resenhando no Skoob sobre o livro.
Ao começar da leitura somos apresentados a protagonista deformada, que tomou um tiro de fuzil na cara, sobreviveu e perdeu quase todo o maxilar, tornando-se um monstro, algo que é antítese do que era antes: Uma modelo linda, famosa e exemplar de dar inveja a todos e que narrando os eventos do seu acidente e que culminaram no final do livro, por onde ele começa. O livro é narrado em primeira pessoa, assim como 'Clube da Luta" e outros livros do Chuck e o livro começa pelo fim também, por sinal, há muitas semelhanças entre ambos já que "Clube da luta" apesar de ter sido lançado antes de "Monstros Invisíveis", em 1996, e 'Monstros Invisíveis" ser de 1999,porque seu trabalho foi inicialmente rejeitado pelas editoras por ser pesado e ousado demais. Bom, e falar da forma que o Chuck fala realmente pé ousadia já que no livro aborda temas como a beleza e o narcisismo e egoísmo/egocentrismo, alienação midiática, religião, determinismo x livre arbítrio, futilidade, homossexualidade, transexualidade, perdas, recomeços, relação familiar, etc. Muita coisas nas 200 e poucas páginas.O livro flui rápido e é contagiante. Apesar de parecer simples, é muito complexo.
Corta para eu escrevendo mais do meu ponto de vista e gostando e relembrando das partes em que viajei com a Narradora, Brandy e Manus roubando mansões e drogas nos EUA.
Muita coisa acontece nos 32 capítulos. Muito disso se deve a escrita ágil de Chuck, apesar de bem detalhista e sempre didática em alguns assuntos, ele gosta de compartilhar com o leitor e consegue prender a atenção a cada parágrafo.
A Narradora, Brandy, Evie, Manus, Shane e os pais da narradora não estão jogados pra enfeite, são todos peças chaves da história que se desenrola de forma não linear, diria que os cortes de cenas são bem cinematográficos, parece que foi pensando com um filme, como se fossem ensaios fotográficos, com vários capítulos fora de ordem, que são lidos como folhear de uma revista de moda de ir de tal página pra outra, indo e voltando, tal qual a narradora explica no começo. É confuso no início, mas é dinâmico, divertido e sensacional com várias reviravoltas.
A história tem muitas partes reflexivas e filosóficas, com aquele sarcasmo, humor negro, ironia que a gente já sabe que vai encontrar nos livros dele, e claro, frases ótimas. Muitas, mas destacarei poucas:
"Quando o futuro deixou de ser uma esperança e se tornou uma ameaça?"
"Só quando consumirmos este planeta Deus nos dará outro. Seremos lembrados mais pelo que destruímos do que pelo que criamos."
"Nada em mim é original, eu sou o esforço combinado de todos que já conheci."
Corta pro final da resenha abaixo.
"Monstros Invisíveis" retrata com uma puta crítica social foda como o mundo é moldado por poder/influência, dinheiro e beleza, o que nos torna visíveis e se você é pobre, e principalmente feio, deformado, fora da normalidade (pode incluir aqui homossexualidade/transexualidade e outras coisas aqui) você é invisível, um monstro. Imagine-se invisível, ninguém se importa com você, te nota, você não é nada, é um monstro invisível. "Monstros Invisíveis é sobre pessoas marginalizadas, abandonadas, esquisitas, esquecidas que poucas se interessariam porque buscamos acima de tudo a beleza, o normal, o popular e aceito pela sociedade, pela mídia e pela religião.
Quero mais histórias boas como essa.
Flash.
Quero mais da mente insana e crítica de Chuck.
Flash.
Quero mais leituras memoráveis como essa.
E isso basta.