spoiler visualizarLiterAgonia 19/10/2023
É sobre luto. E culpa...Culpa cristã.
Na primeira leitura do livro, não tive maturidade para entender as nuances da história. Era somente uma história arrastada, da qual pulei bastantes descrições, sobre um fantasma violonista com seu violino fantasma e a mulher que roubava o violino. A mulher é carregada para o passado do fantasma. Retorna para vida real e se torna uma grande violonista. E após passar pelo Rio de janeiro e chegar em Manaus, a história se encerra.
Na primeira leitura foi só isso que prestei atenção. Porém 10 anos depois, reli e eis que percebo.
É sobre luto. A história gira em torno do luto da perda. E da culpa ( cristã) que o luto trás.
Triana acaba de perder Karl, seu segundo marido, para AIDS. Com a história passando no final dos anos 90, o pânico referente à doença é gritante. E após o fantasma chega nesta noite na esquina da sua casa. E são páginas descrevendo os detalhes da casa, da rua, do som. Destalhes. Detalhes do túmulos, do desejo de encontrar os mortos e ser melhor para eles.
Triana carrega culpa de aos 14 anos de idade não estar perto da sua mãe alcoólica que faleceu.
Carrega a culpa por ter se deixado levar pelo álcool e ter deixado nervosa sua filha de 5/6 anos assustada. Sua filha que morria de leucemia.
Tiana se culpa pelo pai, bem menos que os outros. Pois para este ela fez tudo o que podia em sua morte. E fazer tudo o que podia a deixava mais culpada pela morte da mãe.
A culpa por não ter lutado pelo homem que amava. Lev seu primo marido. Entendo a dor, mas perdê-lo não foi tão ruim, ao meu ver.
Lev, em meio ao luto de lidar com a filha doente, teve vários casos, inclusive com a irmã mais nova da Anne. Katrinka que tinha 18 anos. Casou-se com Chelsea, amiga do casal, e teve alguns filhos.
Triana estava bem resolvido com as questões da traição, ela entendia. Como ela se entregou para o álcool para lidar, Lev procurou em outros corpos aconchego. Não sou eu que vou julgar o que os personagens já resolveram. Porém, ela ainda pensa que poderia ter salvado o casamento. E de acordo com o fantasma. Poderia mesmo.
E essa é só a parte da culpa de Triana. Depois que ela rouba o violino, temos o passado de Stefan ( ênfase na primeira sílaba). Como ele morreu pelo violino que carregava. ( Mas vou guardar essas partes para as pessoas lerem) é bem legal.
Na segunda leitura, percebi uma camada política e social. O medo do HIV/ AIDS e o racismo estrutural. ( racismo estrutural não é racismo sem querer, é como a sociedade se estrutura em cima do racismo).
Na segunda leitura, percebi que gosto da história, mas não amo. Talvez numa terceira leitura eu volte a ama-la? Não sei. Todo o lance da culpa meu foi cansativo demais. Talvez terapêutica para escrita que usou parte da própria história.