@thereader2408 04/04/2022Uma ode á lingua brasileiraEm 1908 morria Machado de Assis, uma lástima com certeza, mas dependendo do que você acredita, Deus, Deusa, destino, força da natureza, leis da física, coincidência... nós fomos compensados, pois nesse mesmo ano nascia João Guimarães Rosa, poeta, contista e reinventor da nossa língua, que com um único romance marcou profundamente a nossa literatura.
Uma das principais características de "Grande Sertão: Veredas" é a linguagem, e como ela é usada com maestria por Rosa, e talvez por esse mesmo motivo o livro seja intransponível para alguns, principalmente na primeira leitura. O romance é ambientado em algum lugar do sertão mineiro, goiano e baiano no início do século XX, o nosso país ainda estava em formação e a linguagem do romance representa o povo brasileiro.
Este é um livro que demanta muita atenção, paciência e persistência, pois a dificuldade de leitura é um fato, mas quando você consegue transpor as dificuldades da narrativa e enxerga o universo metafísico criado pelo Rosa verá que que o livro e uma bela travessia e precisa ser relido em diferentes fases da vida. É um livro que requer maturidade, um pouco de experiência literária, boa vontade e gosto por desafios.
Grande Sertões é narrado em primeira pessoa em um tipo de monólogo onde um narrador envelhecido, Riobaldo, através de fragmentos de sua memória tenta reviver sua trajetória contando sua vida para um visitante letrado. Há algumas teorias que esse moço poderia ser o próprio Guimarães Rosa. Além de importantes temas como politica, sociologia, mitologia, filosofia e metafísica, há dois grandes pontos centrais que permeiam a trama inteira: O pacto fáustico e o amor entre dois jagunços, Riobaldo e Diadorim.
Grande Sertões é um livro sobre ética, justiça e uma das histórias de amor mais doloridas da literatura brasileira em uma perspectiva altamente filosófica narrada por um ex-jagunço. O livro cresce na medida que avançamos com as páginas e o romance se abre como uma travessia em um rio perigoso, assim como a vida. Viver é difícil e perigoso, mas pode ser maravilhoso para os que tem coragem de conhecer a terceira margem do rio.
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