Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres

Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres Clarice Lispector




Resenhas - Uma Aprendizagem Ou O Livro Dos Prazeres


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Saulo 13/10/2022

?É que você só sabe, ou só sabia, estar viva através da dor?
Lóri, imersa em aromas de maresia, jasmin e peixes recém pescados, vive seus dias se banhando no brilho da lua e apreciando a penumbra das madrugadas. Loreley é uma mulher que apesar de grandiosa, não se reconhece como tal. Presa em si mesma, Lóri tem medo de seus próprios desejos e se recusa a ir em busca de qualquer prazer. Porém Ulisses incita nela essa busca, que lentamente se caminha para um reconhecimento de si, de sua alma e de sua fé em um deus que na verdade é ela mesma.

Desvendados os seus mistérios ao se despir de todas as camadas externas, Lóri reconhece sua própria beleza, ?uma beleza que nada e ninguém poderia alcançar para tomar, de tão alta, grande, funda e escura que era?. Por vezes senti que Lóri necessitava de uma validação masculina vinda de Ulisses, mas essa militância vai ficar descansando, por enquanto.

Já havia lido Clarice antes, mas naquele momento aquela leitura (A hora da estrela) não reverberou tanto em mim. Agora, anos depois e com essa outra experiência consegui me conectar melhor com a narrativa, por vezes fluida, por outras arrastada, mas que me fez pensar sobre timidez, medo, prazer e sensibilidade.
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Sidney.Prando 18/07/2021

“A história é de uma inocência pisada, de uma miséria anônima” (Clarice)

Clarice Lispector é uma escritora que dispensa apresentações e que com esse livro, A Hora Da Estrela, o seu último publicado, deu um novo sentido para a sua narrativa.
Com um narrador/personagem que conta com certas digressões acerca da jovem Macabéa, vamos aos poucos tendo contato com essa história que é tão simples quanto a própria moça. Macabéa é nordestina, teve uma infância sofrida, uma madrasta má, é ignorante, feia, pobre e virgem. Ao partir de Alagoas para o Rio de Janeiro, arruma um emprego de datilografa, um lugar para morar e um namorado, infelizmente nenhum desses lhe serve muito bem.
Entretanto, entre a traição, o desemprego e seu próprio desamparo, Macabéa vai até uma cartomante e tem uma epifania quando é informada de que um alemão cruzará o seu caminho, ele então lhe trará uma luz e tudo irá mudar em sua vida. Será que tudo melhorará?

Para mim, o livro foi a minha introdução ao mundo de Clarice. A obra é curta, possui uma narrativa rápida e simples, uma ótima introdução para seus livros mais introspectivos e que de acordo com o a sequência dessas resenhas, possui seu ar filosófico.
A epifania da personagem se dá quando ela se torna ciente de seu próprio sofrimento, porém, é lhe dada a ideia de uma mudança repentina e positiva na sua vida, mas será que tudo é tão simples assim? Esse é uma das reflexões que nos é apresentada em sequência do “gran finale”. Além disso a obra possui 13 títulos e isso não é o mais inovador, uma vez que a obra se torna singular quando analisadas as outras obras da escritora.
Por fim, uma obra de Clarice, embora tão simples quanto Macabéa, ainda é em seus pontos interessantíssima. Uma leitura fundamental!
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Rebecca 12/04/2021

"Então é verdade que eu não imaginei: eu existo."
Um dos livros mais lindos que já li.
Clarice cria uma personagem em busca do autoconhecimento, Lóri, que se encontra em um relacionamento com um rapaz chamado Ulisses. Inserida nesse relacionamento, ela tenta desvendar a si mesma para só então poder "ser" com Ulisses, uma missão nada fácil. Paralelamente à busca, a personagem luta contra pensamentos suicidas, uma vez que a morte é a eternidade e, assim, talvez seja na eternidade que ela pode ser ela mesma. Além disso, o livro é todo sob uma perspectiva feminina, fator significativo para mim e acredito que para muitas outras leitoras mulheres.
O livro, no entanto, é muito mais que do que aparenta ser, e apenas se dando uma chance à leitura é que se entende que a mesma é como um presente a si. Filosofia, existencialismo, autoconhecimento, pudor, medo e depressão são apenas alguns dos tópicos que Clarice apresenta no livro. A linguagem que a autora constrói é de muita sensibilidade e, na minha opinião, a escolha de cada palavra fez toda a diferença, encaminhando o livro à minha lista de favoritos da vida.

Um questionamento frequente é se é possível viver sem dor...
"- Meu mistério é simples: eu não sei como estar viva.
- É que você só sabe, ou só sabia, estar viva através da dor.
- É.
- E não sabe como estar viva através do prazer?
- Quase que já [...]"
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Gabi 05/01/2024

O amor em um aspecto divino
Gente, o que dizer desse livro? Começa com uma vírgula, termina com dois pontos. Me lembra muito a ideia de Hiero Gamus, uma vez que a protagonista, Lóri, está o livro inteiro em uma busca, em um processo, que no final a leva ao seu amado, Ulisses. De um ponto de vista psicológico, creio que Ulisses ( enquanto o amante sagrado) represente o animus da mulher que protagoniza, a experiência do amor que diviniza. Não há muito o que complementar. Apenas leiam!
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Douglas.Milani 07/06/2022

Apesar do Ulisses

Dei cinco estrelas, mas apenas por causa da escrita. Dentre as obras da Clarice, essa é a que menos me agrada. Clarice é minha escritora favorita, A Paixão Segundo G.H. é meu livro da vida, mas não sei... a impressão que tive em relação ao Livro dos Prazeres é que ela perdeu um pouco a mão, e deu uma boa derrapada.

Lori, em si, é uma mulher independente, forte, mas parece que não se dá conta disso, e busca no Ulisses um alicerce que ele não é. Ulisses é chato, pedante, professoral, dogmático e machista. Faz com que Lori acredite precisar dele para aprender algo em relação à vida, algo que evidentemente nem ele mesmo sabe.

Ao longo do livro, o que vi foi Ulisses repetidas vezes falar que sabe mais que Lori, que está mais adiantado que Lori, que Lori não é bonita, mandar a Lori ficar quieta, interromper enquanto Lori falava, perguntar repetidas vezes com quantos homens Lori dormiu, questionar a Lori como ela cortou o cabelo sem avisar a ele antes... Enfim, um show de horrores.

Ulisses é o típico macho palestrinha que se banca algo que não é, para fazer com que pessoas melhores que ele acreditem que precisam dele para algo.

Lori foi inocente e caiu na armadilha, ao ponto de dizer a ele que sabia apenas quem era ela quando estava com ele.

Clarice, adoro você, mas me perdoe, esse seu livro envelheceu muito, muito mal. O prazer do livro está apenas na sua escrita, que é insuperável.

Podem dizer para levar o contexto em que o livro foi escrito. Afinal, salvo engano, é de 1969. Não sei... Não acho justificável, mas posso passar pano. Só não passo pano para a galera que ainda coloca esse romance como o melhor, ou um dos melhores de Clarice. Me assusta ver pessoas colocando o processo desse relacionamento como um modelo para algo.
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Lucas1429 19/04/2022

A epifania da Natureza
Em seu discurso indireto, Clarice conclama teu alter ego narrador para vislumbramos Lóri e sua busca pelo sentido da vida - narrativa que personaliza quase a bibliografia da autora -, e sua iniciação à mesma, no sentido puro de consumar o entendimento do amor e do viver. Sua aprendizagem propriamente se dará diante de toda a indagação no romance, em existir, o que ela é, e quando há o derradeiro estalo, Lóri é. Deste modo, de dialética imposta e consumada.

Lóri é inclinada ao suspense lógico de pertencer a algo ou alguém; mesmo que ame, não se prende, se desprende de atos idealizados. A ânsia em pertencer ora é clamada, ora exígua. Durante muito tempo em sua existência (e, seu passado é permitido em análise focal para provável entendimento pessoal), a protagonista conhece mundos que irão se tornar desconhecidos em diante: a perda do dinheiro da família, o contato com seus componentes, a erudição burguesa, afastamentos estes que a desmantelarão enquanto buscadora de situações típicas normatizadas como relacionar-se ao outro, e vice versa. Lóri, então, ficará à par desse triunfo sensível ao conhecer Ulisses, personalizado como um homem mais velho, sábio e já iniciado, finalizado. Ele é a idealização do sujeito formado que fará a "educação" apaixonada de sua heroína.

À cata por significados permeia cada linha do texto, páginas recheadas de simbolismos do subsistir, do pensar e da extinção, aqui sob a ótica otimista de Lispector. Lóri, remetendo em si, e evidenciado que há de si em toda pessoa, basicamente, também peregrina na busca sentimental interna uma específica a um ser metodológico, um Deus talvez não divino, já que ela própria o nomeia substantivo, nomeado, precedido de um artigo, o "o", que pode sugerir uma conexão introspectiva, personificada, um quase amigo imaginário diante da figura solitária que ela é, também ele um "homem", o que nos leva a Ulisses, a outra presença masculina, que encarna o ser paciente, que tange à espera esperançada de vê-la concluída nessa busca pessoal e amorosa - enquanto ela se busca; logo, o sexo oposto marca o ponto êxtase, por vezes problemático, mas essencial para a feliz coincidência no amor-afeto que encobre o mundo, ou falta nele. Falta nela, mas vem.

O ápice se dará em seu final, no clímax tal, mas há passagens anteriores, de já lapsos em que Lóri viverá o estalo de iniciação, numa cena bonita, bonita, quando encontra Ulisses e se defronta a ele numa piscina, corpos expostos, corações semiabertos, e um pôr do sol latente sugerindo pulsações, manifestações, vida! Após, sua interação com o mar, que leva e traz, anseia e descansa, no diz e nos tira, mas também renova, tal qual o nosso cíclico plano físico. Signos. Prazeres (antecipando).

No fluxo de consciência típico, Clarice desponta sua personagem não só na enunciação preparatória da dor e delícia em ser, do estar vivo (o que é isso?, parafraseando Lóri) mas garante o prazer, os prazeres, a consumação disto. Ela, atriz de seu tempo, década modernista numa bolha que ainda externa um conservadorismo em voga, revela a transgressão de seu gênero, escrevendo enquanto pertencente a ele, permitindo a exaltação de sua Lóri numa comparação clara, singular, significativa da figura feminina à Natureza, a reprodutora de toda forma viva, de um Ulisses sabido ao teu útero em pulso - não há preocupação da concretude materna, e sim a semiótica feminil cis, afinal, Lóri é. Sempre é.

A jornada, enfim, se concatena a um texto mais facilitado de C.L., porém não menos imersivo, expressivo e relevante, todos sempre o são. O é Lóri, novamente, idem: frisando sempre o objetivo de sua narratologia. Diante da inquietação passada, presente, a transformação dessa terapêutica em palavras abrange e atinge quem se inicia, aprende, se conclui, ou permanece na procura. Ela é. Nós é. Assim disse, assim mesmo, Clarice, eterna esfinge inconclusa a quem o peso de sua escrita nos rechaça do lugar comum a um estado de graça: bom seria tê-lo na permanência da felicidade. Um passo de cada vez.
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tabatatucat 03/12/2022

Mais um livro sencional de Clarice. Um livro que gera a estranheza e o incômodo na maioria do tempo, ao mesmo tempo percebendo o crescimento não linear de Lori durante a trama. É uma obra que vai além do amor, mas sim, representa essa descoberta constante de ser quem realmente desejamos ser no mundo.
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gabits 16/03/2021

CONTÉM IRONIA
Lóri entra numa espécie de autoconhecimento, por ela, não por ele.
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Os momentos narrados dos dois juntos me trouxeram aflição, pois, Ulisses carrega um ego imenso, que, até no "reconhecimento" da inteligência de Lóri, o dele, o ele, vinha à tona.

O sabichão que tem o desejo de "ensinar" como olhar; sentir e viver nesse mundo de maneira "intensa", talvez seja a representação das paixões que nós, quando meninas, tivemos com algum professor. -Uau! Alguém carregado de tanto conhecimento e que o expressa de maneira poética- e, nos coloca no papel de aluna da vida. Alunas que precisam ser "salvas" dos conhecimentos "banais".

E Lóri representa nós, que, conquista seu olhar através do seu próprio processo (não que seja unicamente individual), mas por si; por suas sinapses; suas conexões; suas experiências; o seu sentir.

"Lóri é nós" em nossas paixões passivas-agressivas. Lóri, também, não é só suas paixões. Lóri é apenas Lóri, é ela.

Somos Lóri.
Luciana 07/09/2022minha estante
Olá, Boa Tarde
você já leu o Livro de John Dewey e a Educação infantil? Se sim, poderia compartilhar comigo, gostaria muito de ler.
abraços




clarita 07/12/2023

?Naquela hora da noite conhecia esse grande susto de estar viva, tendo como único amparo apenas o desamparo de estar viva. A vida era tão forte que se amparava no próprio desamparo.?

que livro!!!! mais uma vez o desenvolvimento dos personagens se destacando, o fluxo de consciência mais bem escrito da literatura brasileira.. é tão bom entrar na cabeça dos personagens, sentir o que sentem e fazer as reflexões q eles propõem

clarice é maravilhosa e esse livro é perfeitooo
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frnk 12/01/2023

uma aprendizagem
Clarice tem poder de descrever coisas que ninguém vê, ninguém além dela, e tornar isso a coisa mais impactante e marcante possível.
Um livro sem começo e sem fim. E não um livro sobre a vida, mas através da vida, da aprendizagem, do amadurecimento e descoberta dos prazeres. Uma reflexão do eu, "se eu fosse eu...?" mas como saber como você é se não se conhece? Clarice traz nesse livro uma reflexão, aprendemos com os personagens, se identificamos com eles e agimos como eles sem nem nos darmos conta disso.
""se eu fosse eu" parecia representar o maior perigo de viver."
Um livro não para ler com os olhos, mas com o coração e a alma, porque Clarice não se lê, se sente.
"Era uma vida-a-vida. E que a vida era sobrenatural."
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Adriana Scarpin 17/11/2020

Em honra do centenário de Clarice Lispector
Costumo dizer com veemência que ninguém escreve como Hilda Hilst, mas ninguém escreve como Lispector também. Transformando uma estória aparentemente banal num profundo exercício de estilo em termos literários e filosóficos, essa leitura rápida alimenta o corpo e mente para quem tem fome da mais pura arte.
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liciass_ 22/05/2020

...
Talvez um dia eu ainda escreva aqui algo sobre esse livro. É que sinto que ainda há tanto para processar... É a primeira vez que leio Clarice e me agrada muito a maneira como ela consegue colocar sentimentos em palavras - ou fazer sentir por meio da sua escrita? Ambos, eu diria.

Deixo aqui meu trecho preferido, para que talvez possa motivar você, leitor, a se aventurar nessa belíssima obra:

"Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi."
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skuser02844 25/07/2022

Primeiro contato com Clarice
Em 2020 li um trecho desse livro que uma amiga havia compartilhando no Instagram. Fiquei completamente tocada, mas somente no início desse ano pude ler a obra completa.
Me lembro do estranhamento que senti no início da leitura, muito diferente de tudo que eu tinha lido até então, mas conforme fui avançado me acostumei com a escrita e, claro, me apaixonei. Clarice me pegou de jeito.
Essa história me marcou, me identifiquei muito com a Lóri. Sinto que foi um bom começo para o universo de Clarice, que é tão dela e tão nosso ao mesmo tempo.
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IanPeabody 11/07/2022

Até no prefácio o livro é bom...
...sinceramente, se eu não soubesse o ano q foi escrito, diria ser um litro tanto quanto atual.
A escrita de Clarice é muito boa, sendo um dos primeiros livros que leio dela, devo dizer que, Gostei muito.
Possuindo um ótimo prefácio tbm explicando um pouco sobre o livro e sobre o filme que tem sobre ele (na qual preciso assistir)
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