spoiler visualizarAbeener 29/05/2024
Grande Gatsby
Enquanto lia o livro, por algum motivo, sentia que tanto Gatsby quanto Nick éramos nós, leitores. Sempre deslumbrados com toda a grandeza que é este mundo que habita acima de nossas cabeças: este mundo de taças de cristais, champanhe dourado e vestidos de lantejoulas. Aos poucos, tanto Nick como Gatsby foram adentrando neste mundo cor de marfim, percebendo o quão doce era viver ali, regados de álcool e carros caros. O preço veio logo depois, caro, tão alto como as taças de cristais; este mundo está cheio de superficialidade, mal caratismo, hipocrisia, falsos amigos e uma triste vida regrada de mentiras e abandonos.
Daisy é o novo mundo, daqueles que nasceram em berço de ouro, longe da realidade fria que é a vida. Ela é "pura", delicada e cheia de vícios e caprichos. Ela é a visão inocente que temos ao ver os podres de ricos: eles são alvos e perfeitos, entalhados em pedra de mármore.
"Porque Daisy era jovem e seu mundo artificial era agradável e perfumado de orquídeas, cheio de alegre condescendência e orquestras que ditavam o ritmo do ano, resumindo as tristezas e percalços da vida em melodias da moda."
Tom é a visão interna deste mundo, é cheio de vícios, corrupto, transgressor e violento. Seu corpo e língua cospem crueldade, preconceito e ódio. Ele é uma besta, movida por ganância e poder.
"Um corpo cheio de crueldade."
Gatsby era tão grande que, quando o seu último ato, sua última festa acontece (seu enterro), somente Nick e alguns empregados do falecido comparecem ao triste evento. Foi abandonado, largado no escuro e aqueles que beberam de seu champanhe nunca sequer deram as caras. Gatsby morre da maneira como ele veio a ser conhecido pelo mundo: alguém que não passava de uma grande charada, um enigma e um divertimento fácil e barato.
"Minha ideia é que até mesmo Gatsby não estava esperando de fato uma mensagem e que, na verdade, para ele nada mais tinha importância. Se isso fosse verdade, ele deve ter sentido que perdera o seu cálido mundo, que pagara um preço demasiado caro por viver durante tanto tempo alimentando um único sonho."
Depois desta citação, nos são entregues detalhes sobre a morte de Gatsby, que é friamente assassinado no seio de seu lar.
Este livro é cheio de melancolia e angústia; Fitzgerald sabe bem como escrever cenários onde a narração cria vida e passa a assombrar o leitor. Os momentos de tensão são tão reais que quase se consegue tocar; as descrições detalhadas do clima são feitas com louvor. Pode-se sentir a agonia do calor infernal enquanto lia. Apesar da fluidez que segue no livro, há certos momentos em que o livro cai em um triste aborrecimento, tornando a leitura às vezes um tanto cansativa.
Enfim, há muito o que explorar nesta obra. Compreendo sua grandiosidade e sua importância, mas, entretanto, devo admitir que, em alguns momentos, ela falhou para mim, deixando a desejar em alguns aspectos.