Craotchky 10/04/2024Uma simples resenhaPublicado em 2003, o livro Onze minutos me parece um até seu meio, e quase que outro depois ele. Enquanto narrativa, o texto de Paulo Coelho (ou Paul Rabbit hehe) é simples, direto e econômico. De início o livro se mostra bastante comum, de fácil leitura e assimilação. No entanto, a partir de mais ou menos a metade e sobretudo após a protagonista Maria conhecer o pintor, a obra ganha outras nuances e aprofunda as questões até então apresentadas apenas ligeiramente. Praticamente tudo que vou abordar no resto deste texto vale principalmente para a referida segunda parte da história.
A obra acompanha sua protagonista: Maria. O livro aborda coisas como a busca de significado, o lugar de pertencimento e o processo de autoconhecimento. Entre outros tópicos, o amor e o sexo estão bastante presentes aqui; Maria tenta entender em que medida eles se relacionam, se diferenciam e se confundem. De um lado o sentimento romântico, de outro o ato físico. Qual é o papel de cada um na conjunção que resulta em um relacionamento saudável e pleno, não só entre os amantes, como também na esfera individual de cada um deles?
É interessante observar o trabalho do autor na medida em que retrata uma protagonista feminina, muitas vezes se colocando no lugar dela, e fazendo o exercício de tentar pensar como uma mulher veria determinadas situações e ideias. Nesse sentido, intercalados na narrativa, há muitos trechos de diários da própria Maria, ocasiões nas quais Paulo Coelho assume uma voz feminina bastante pessoal em primeira pessoa. É impossível deixar de considerar isso: trata-se de uma autor ousando se aprofundar em uma visão bastante feminina do mundo.
O livro gera reflexão. A longo de toda a extensão da obra Maria parece estar em busca de si mesma, tentando organizar e entender a melhor forma de se viver. Percebe-se um processo de maturação da personagem ao longo de sua trajetória, e o autor é razoavelmente hábil em conduzir esse desenvolvimento. Além disso tudo, outra dimensão trabalhada é a dissonância entre o que às vezes esperamos da vida, e o que a vida em sua cruel realidade nos oferece.
Outras questões desenvolvidas são: a reivindicação do prazer sexual da mulher e o sexo para além da epiderme dos corpos, o que quase escorrega para uma esfera levemente mística: uma noção de relação sexual que o autor chama "o sentido sagrado do sexo", isto é, uma conexão mais profunda entre as duas pessoas envolvidas. Enfim, penso que Paulo Coelho conseguiu trazer boas reflexões sobre tópicos sociais e culturais relativos à mulher, diante de uma sociedade que almeja transformação. Diria que vale a pena a leitura, sobretudo pela metade final.
DUAS CURIOSIDADES:
• A história contada pelo romance é baseada em uma mulher brasileira que Paulo Coelho conheceu em Genebra, Suíça.
• Durante o livro algumas referências, como o mito dos andróginos de Platão e o livro A vênus das peles, de Sacher-Masoch, são trazidas à tona. Entre elas há uma menção a Renaldus Columbus (1516 - 1559), anatomista que no século XVI descobriu o clitóris. Existe um bom romance histórico que narra essa descoberta: O anatomista do autor argentino Federico Andahazi. Li este livro em 2015 e até fiz uma breve resenha.