MiCandeloro 26/11/2014
Divertido e construtivo!
Finbar e Luke são gêmeos, mas enquanto Luke herdou os genes da beleza, da força e da popularidade, levando o maior jeito com as garotas que só faltavam se atirar aos seus pés, Finn restou prejudicado na história. Nascido com uma pele branca translúcida, feito um papel pintado de corretivo branco, com olhos azuis tão claros que chegavam a ser artificiais, com um corpo magro e extremamente alto, deixando-lhe desengonçado, Finn tinha a aparência perfeita de um morto-vivo.
Ele sofria no colégio por ser tão diferente. Nunca ia nas festas com Luke, não tinha amigos e nunca tinha conversado com uma garota antes, que dirá beijado. Sua mãe se tornou sua grande companheira. Por causa dela, Finn aprendeu tudo sobre o mundo de Jane Austen, se tornou um cavalheiro sensível e educado e um romântico à moda antiga. De acordo com seus ensinamentos, era exatamente disso que as mulheres gostavam, certo? Errado! Pelo visto, eram os truculentos metidos a garanhão, feito Luke, que sempre se davam bem nas paradas. E Finn estava cansado disso.
Finbar invejava a vida fácil do irmão. Ao menos uma vez na vida ele queria deixar de ser invisível e tornar-se popular. Definitivamente, Finn queria mudar de vida, e ele teve a chance de se reinventar quando sua família mudou de cidade e ele foi para um novo colégio. Ao tentar se socializar com algumas meninas, percebeu o quanto as mesmas eram vidradas por vampiros. Mas, afinal, o que os vampiros tinham de tão maravilhoso a ponto de enfeitiçarem as mulheres? Bem, vampiros são fortes, sedutores, intimidantes e têm atitude, sem contar que não ligam para o que os outros pensam ou fazem.
Finn estava decidido, ele se tornaria um vampiro e utilizaria deste trunfo ao seu favor. Entretanto, o que começou com uma brincadeira, se tornou coisa séria e fará com que Finbar embarque numa jornada de autodescoberta a ponto de fazê-lo repensar todas as suas decisões e os pré-conceitos que tinha sobre os demais.
Até que ponto vale a pena fugir da realidade e fingir quem não somos?
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam!
***
Desde que Dany me contou sobre a existência desse livro, fiquei louca de vontade de lê-lo. Não só a capa é fofa demais, como a premissa é interessantíssima, principalmente para quem ama vampiros como nós. Confesso que não tinha ideia do que esperar da trama, mas jurei que fosse ser totalmente voltada para o mundo vampírico, porém, acabei me deparando com um drama adolescente típico dos livros jovens adultos.
De início, esse fato me incomodou um pouco. Fiquei ali, afoita, esperando e pensando sobre quando toda a "aventura" ia começar, mas só lia sobre as frustrações de Finn por ser tão fracassado, ao passo que seu irmão Luke era um abençoado na vida. Não entendia bem se Finn tinha inveja de Luke num sentido negativo, ou se ele somente desejava ter a vida do irmão gêmeo. Também fiquei na dúvida sobre se Luke era mau com Finn, ou se somente era um sem noção que não percebia o sofrimento do outro. Depois percebi que os irmãos se amavam e faziam de tudo um pelo outro. Apenas eram diferentes.
Na medida em que ia mergulhando na história, fui me apaixonando pelos personagens e pela história de vida de Finbar. O cenário da obra aparentemente é clichê: um menino nerd impopular que sofre bullying e que deseja pegar todas as gatinhas e ser temido pelos meninos e que, por causa disso, acaba se reinventando num novo colégio, num mundo de novas possibilidades. Tudo isso seria comum se Finn não tivesse decidido se transformar num vampiro. Ao mesmo tempo em que tal ideia aparentou ser estapafúrdia, trouxe um elemento cômico muito interessante ao enredo e também serviu de metáfora para o quanto podemos ser ousados e radicais quando o assunto se trata de "mudanças".
Foi hilário ler a cena do trem, quando, pela primeira vez, Finn foi confundido com um vampiro. Quem já leu ou viu Crepúsculo deve se lembrar da cena em que Bella diz para Edward que sabe o que ele é.. pois bem.. kkk Além disso, amei todas as pesquisas feitas por Finbar sobre o universo dos seres da noite. Ele não só leu todos os livros importantes sobre o assunto, como também viu o seriado True Blood para encarnar o papel do vampirão poderoso.. kkkk
Finn estava convicto de que daria conta do recado. Ele já era branco, tinha alergia ao sol, além de ter uma aparência duvidosa. O restante, como evitar comer na frente dos outros e adotar uma atitude intimidante e sedutora, era fácil de fazer. Ele só não teria como parar de respirar, ou beber sangue, mas esperava poder passar ileso por isso.
O mais divertido e até chocante de tudo, foi o fato das pessoas terem acreditado que Finn era realmente um vampiro. Primeiro, a autora provou o quanto os boatos espalhados podem ganhar força e tornarem-se verdadeiros, principalmente no ambiente escolar. Segundo, Flynn deixou claro o quanto a adolescência é um período conturbado e de extrema importância para a formação da personalidade do jovem. Muitos se sentem perdidos e desconfortáveis no meio social, e desejam com todas as forças serem uma pessoa diferente.
Acho que a maior mensagem que Meaney poderia nos passar é de que a nossa fé é um elemento importante de transformação. Finn desejou tanto ser um vampiro que deu certo. O fato dele ter acreditado nele mesmo, na sua força e no seu potencial, fez com que as pessoas ao seu redor o vissem do mesmo modo, e esse é o grande segredo, nós somos os agentes da nossa própria mudança. Porém, não podemos nos esquecer que tudo que começa com uma mentira não acaba bem. Portanto, no final das contas, o mais importante não é modificarmos as coisas das quais não gostamos, mas sermos fieis a nós mesmos.
Doce Vampiro, narrado em primeira pessoa, é tremendamente bem escrito. Possuindo inúmeras referências literárias e cinematográficas, aborda uma temática importante no mundo de hoje, guiando os jovens para um caminho de autoanálise e aceitação de quem são, fazendo-os pensar por meio de uma história leve, divertida e levemente dramática, com a qual muita gente certamente irá se identificar. Com certeza recomendo!
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