Louise 28/12/2021O passado sempre voltaTudo começa em 1916, quando os Estados Unidos estavam começando sua era progressiva, prestes a se tornar a maior potência mundial.
Jack Garron é um garoto de 12 anos apaixonado por música, que sonha em se apresentar e ser reconhecido pelo seu talento, tal qual seu pai biológico, que infelizmente não conhece. Ainda.
Determinado a mudar isso e após um ano de cartas trocadas com seu misterioso pai, decide partir para Chicago e procurá-lo, entrando clandestinamente no trem que leva à cidade. Sua jornada mal começa e o jovem já passa sérios apuros, sendo salvo por um grupo de garotos que o acompanham até o final da viagem. Um deles, Sam, acaba se mostrando um excelente amigo e aliado, virando seu confidente e parceiro inseparável na busca de Jack, que se mostra frustrada. Seu pai acabara de partir para o Mississipi.
Tudo vai muito bem, mas o que os garotos não sabem é que há um perigo muito maior do que assaltantes nas estradas, algo impiedoso, implacável e afiado, que se alimenta de sonhos e esperanças. E o que é mais cheio de sonhos e expectativas do que uma criança?
O enredo de Separados é muito bem construído e trabalha com extremos. Envolvendo o leitor utilizando a inocência juvenil, mas com seus ares sombrios de mistério, instigando a curiosidade, até que, sem aviso, o mistério torna-se algo visceral e perturbador.
Snyder e Tuft não medem esforços para aflorar o medo pelo horror presente. Uma jornada aparentemente inocente e, quem sabe, até mesmo épica, vira em um piscar de olhos algo violento e brutal. Criar um monstro que se alimenta de pessoas com grandes sonhos e ambições deixa uma sensação propositalmente desconfortável, e a estrada é o lugar certo para encontrar novas vítimas. O roteiro intenso combinado com a arte de Futaki deixa tudo ainda mais grotesco. Definitivamente o artista não quis deixar o gore de fora, pois temos grandes quantidades de sangue e mutilações sem censura. As cores escuras utilizadas em momentos mais sombrios contrastam com o vermelho dos momentos violentos. Os dentes afiados ganham destaque e, graças ao brilhantismo do artista, chega a causar até mesmo repulsa.
Começo e final conversam entre si, deixando claro o quanto a parceria entre os dois roteiristas foi genial e necessária.
Separados deixa a lição de que seu passado sempre volta para te assombrar, mesmo que demore 40 anos.
site:
https://bocadoinferno.com.br/criticas/2021/03/separados-2020/