spoiler visualizarbrenerino 19/06/2022
Queria ter gostado mais
Nota: 6,9/10
Pra começar, conheci o trabalho da autora pelo canal dela no youtube quando eu mesmo estava desenvolvendo um dos meus livros. Algumas das dicas dela (juntamente da Vivian Villalba do canal Escreva-me) me ajudaram a desenvolver a trama e tudo mais, mas o ponto não é esse aqui e sim o livro da mesma.
"Para onde vão as sombras" é um livro que começa muito bem, como eu disse em outra crítica minha, eu gosto muito quando livros nacionais realmente se passam em território nacional e não em (insira aqui um reino místico fantástico lotado de magia yada yada).
Ao menos nas primeiras 70 páginas eu adorei o que eu tava lendo, os personagens sendo lentamente apresentados, o mundo distópico que é quase a versão do mundo invertido do nosso, criaturas monstruosas que atacam qualquer um e todo tipo de coisa que um livro do gênero precisa ter. A reta final do livro também me agradou muito, no caso, as cem últimas páginas.
Infelizmente, a obra para pôr aí, no meio dela eu comecei a estranhar o caminho que a trama tava tomando, isto é, ela não parecia querer ir pra lugar nenhum, apresentava muita coisa e não desenvolvia nada, tem coisas que são só desenvolvidas no final do livro e coisas que nem isso. Tá tudo bem se a trama não avançar pra fazer um world building bacana ou apresentar personagens identificáveis e esse tipo de coisa, mas não foi isso que foi entregue. Parece tudo um grande filler até que finalmente as páginas finais possam mostrar pra onde a trama tá se dirigindo.
Eu muitas vezes me peguei pensando se não tava sendo duro demais e tava achando problema onde não tinha, já que de coração, eu queria muito ter gostado da obra pois sinto que devo isso pra Jadna por ela ter me auxiliado na criação das minhas próprias mesmo que de forma indireta, mas depois de ponderar MUITO eu percebi que realmente existiam erros notáveis.
Então com isso dito vou citar as coisas que me incomodaram e que me agradaram como sempre faço.
Pontos positivos:
- Gostei de ver muita gíria sendo utilizada, é algo que acho que dá um saborzinho a mais na obra. Infelizmente elas se perdem conforme a trama avança.
- A capa é incrível, adorei o trabalho da capista e é algo que eu pretendo usar de referência em algumas ilustrações minhas e em exemplos de composição
- Como dito anteriormente, gostei que se passa em um lugar que existe, ao menos o começo do livro, torna tudo mais palpável, mais real e mais gostável, algo que pode gerar identificação com leitores que possam ser da região ou leitores que possam visitar o local
- A personagem Kalo: o drama dela me pegou desprevenido e acabei me afeiçoando um tanto pela personagem, tenho críticas sobre algumas coisas dela, mas isso é coisa mais pra frente
- Representatividade: embora não seja o foco da trama é bem feita, tem os dramas que muito jovem passa e até mesmo alguns adultos. Penso que no caso do Benjamin devia ser mais bem explorado, já que, ele é o único personagem LGBT que demonstra realmente ter tido uma certa insegurança sobre como agir em relação a sua sexualidade (diferente da Ananda ou de qualquer outro)
- O drama da perda de memórias e de estar lentamente "morrendo": não é uma morte em si, mas você como leitor consegue interpretar que é uma forma de morrer, esquecer quem você foi antes de chegar na Cidade Invertida é algo que pode te deixar um pouco ansioso.
- Algumas piadinhas me fizeram rir
- A "pouca vergonha" da autora em tratar de assuntos mais picantes: me pegou desprevenido na primeira vez e achei interessante a forma que foi mostrado, então conta como ponto positivo
- A coragem pra dar fim em alguns personagens
Pontos negativos:
- O vilão é certamente um dos vilões já feitos
- A pessoa infiltrada é óbvia desde que citam que tem alguém infiltrado, não tem motivo pra trama tratar como se fosse um grandioso plot twist. É muito difícil desconfiar de outro personagem, principalmente quando esse personagem tem só umas 10 falas durante o livro inteiro.
- Axel e qualquer outro lider são péssimos estrategistas e/ou lideres: vocês tão numa distopia com pouco ou nenhum acesso a qualquer tipo de armamento pesado, com pouca gente pra poder lutar contra a outra facção e coisas assim, me dá um motivo pra ficar treinando tiro usando as armas e a pouca munição e principalmente, colocar novato pra treinar tiro, isso tudo é munição gasta atoa. Acredito que assim como no primeiro Maze Runner dava pra eles terem fabricado as proprias armas assim como os caçadores no proprio livro fazem. Opa, tem pouco acesso a arma de fogo e munição? Que tal construir um arco e umas flechas? Pode ser algo eficiente em um ataque furtivo. Que tal construir umas armas brancas? Principalmente quando é dito que os condenados não tomam dano de tiro e mesmo assim os personagens gastam chumbo neles. Tudo bem que os livros foram quase todos jogados fora, mas vai me dizer que não sobrou nenhum A arte da guerra do Sun Tzu? Pô gente, é 9 reais na amazon.
- Personagens rasos e pouco identificáveis, isto é, não é que não existam situações que você não se identifica com o personagem, mas sim personagens que você não consegue se identificar. Ao menos, eu não consegui.
- Protagonista rata de biblioteca, sério? Uns anos atrás isso até virou meme em várias comunidades do wattpad já que toda protagonista era assim, é um recurso de fácil identificação com o leitor e comigo não cola, principalmente quando não existe um motivo muito grande na trama pra ela ser assim.
- Furos de roteiro notáveis: parece que a autora escreveu depois de ter terminado o livro e não revisou pra ver se batia com as outras informações
- Erros de português, digitação e erros de diagramação: esse aqui eu pensei em deixar de lado, mas pô, tiveram dois revisores no livro e acredito que a autora tenha revisado a obra algumas vezes, deixar esse tipo de coisa passar é bem estranho, se fosse algo que acontecesse raramente ia ser ok, isso acontece em livro grande (consigo citar PJO e HP de cabeça), mas quando acontece em uma linha sim e em outra não pra voltar a se repetir na próxima é estranho. Um que vou citar de cabeça por ter mais fresco na mente acontece na página 283.
- Falta de motivação no roteiro: até as últimas cem páginas, ninguém na trama se preocupa em fazer nada, eles existem ali e pronto. Pra não falar que nenhum personagem é sem motivação eu cito dois: Kalo e a mina dos caçadores que são não ironicamente, pouco exploradas
- Personagens mudando de personalidade rápido demais: eu estranhei MUITO quando a Kalo chega cheia de marra e botando pressão pra cima da Ananda quando ela é apresentada pra um parágrafo depois ela ficar toda >.< ain sua boba e passar TODA A INFORMAÇÃO sobre a facção que já devia ter sido passada por alguém lá de dentro nas ultimas 40 páginas
- Axel é uma versão nordestina do Jace de os instrumentos mortais: não é bem um ponto negativo, é só uma observação mesmo
- Narradora entrona: ok, eu entendo, é um tipo diferente de narração e no começo do livro eu achei super divertido, me lembrou do Stephen King que faz coisa parecida, dá sua opinião durante a obra e coisa do tipo, mas quando a narradora entra pra passar uma informação avulsa ou impor o que eu como leitor devo sentir em relação a Y cena eu começo a só achar insuportável mesmo, nos últimos capítulos eu tava questionando minha sanidade
- O Bispo teve acesso a uma enciclopédia sobre a pedra? Como ele tem tanta informação sobre ela e o Axel não? O cara sabe fazer tudo com o negócio, sabe as trocas, sabe como inverter as trocas, passa tudo pra Ananda pois sim e o Axel em momento algum parece saber como ela funciona. São tantas perguntas e tão poucas respostas.
- Certos aspectos utilizados na trama são referências de outros livros que a mesma já disse ter usado pra poder elaborar a obra dela, minha opinião sobre isso é que a autora infelizmente não conseguiu desenvolver os pontos que ela puxou dos outros livros, como a religião pode ser um problema se seguida de forma cega, machismo estruturado e o direito de ler sendo tirado de você
Diferente do que algumas pessoas comentaram, esse livro não foi publicado de forma independente, sei muito bem quem cuidou da coisa toda. Não vou entrar aqui pra tacar pedra em quem fez a publicação já que aqui não é lugar pra isso. O que digo é que acredito no potencial da Jadna, um potencial que pode ser lapidado conforme o tempo. Eu sei que a criatividade ela já tem, não é atoa que escreveu seis livros.
Muita coisa da obra eu tomei pra mim pra poder ter um crescimento pessoal como autor, coisas que posso e não fazer, e ele me ajudou de certa forma a ter mais coragem de abordar certos assuntos em livros com público alvo parecido, mas infelizmente, o livro não me pegou da forma que eu queria que tivesse. Anotei os livros que ela indicou durante a trama e que foram usados pra referência da mesma pra poder dar uma futura lida.
Pra Jadna, caso ela venha a ler essa crítica, por favor, não leve pro lado pessoal. Novamente, acredito no seu potencial como escritora e autora. Espero que futuramente eu possa ler uma nova obra sua e que ela possa me agradar muito mais do que POVS, já que sei que você tem um orgulho imenso de ter escrito o mesmo.
Como alguém que tem um sentimento de gratidão para com sua pessoa sinto que te devo uma.