Pri.Kerche 15/05/2024
Publicando de novo a resenha que tinha sumido!
"O Continente I" é o primeiro volume da Saga O Tempo e O Vento.
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O autor monta uma estrutura cinematográfica para contar a história.
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Nas primeiras páginas somos levados para 1895 e imersos na tensão do cerco ao Sobrado, residência de Licurgo Terra Cambará, chefe político de Santa Fé e Republicano (Chimango).
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José Lírio, soldado Federalista, está de tocaia no campanário da igreja com ordem para atirar em qualquer um que saia do sobrado na tentativa de pegar água no poço do quintal.
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Sozinho no alto da torre, Liroca (apelido engraçado) se angustia dividido entre o dever militar e a afeição que sente pelos moradores do Sobrado. Afinal, antes da revolução ele frequentava aquela casa, tem paixão por Maria Valéria e se preocupa com a velha Bibiana e as crianças. Então, notamos que logo de cara Erico consegue nos colocar diante de duas guerras: a Revolução Federalista e a guerra psicológica/emocional que se desdobra na mente de um povo que se volta contra si mesmo.
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O primeiro capítulo fecha no auge da tensão e o segundo começa em 1745, num nascer do sol idílico lá nas missões jesuíticas! Então, vemos o Rio Grande que nunca conhecemos, com índios tocando violinos que eles mesmos fabricavam com a arte da luthieria ensinada pelos padres.
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Você sabia que nas missões o refinamento da arte chegava a esse ponto? Eu não sabia. E adorei acompanhar a história do padre Alonzo e do místico Pedro Missioneiro, filho de uma índia e um branco, que nasce e cresce na Missão de São Miguel.
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No Continente I, Erico segue essa estrutura, mesclando capítulos do passado com o presente (que no caso é o momento do cerco ao sobrado). E aos poucos descobrimos que os capítulos do passado mais longínquo nos apresentam a história dos ancestrais da família que mora no Sobrado. Então, fica mais interessante perceber o agora e seus porquês, que vêm lá de trás. Como por exemplo, o motivo pelo qual Licurgo defende tão ferrenhamente aquela casa.
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"O Continente II" seguirá com essa estrutura presente-passado-presente, sendo o presente ainda o momento do cerco do sobrado.
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No início do Continente I, me admirei e me irritei com a insistência de Licurgo em não pedir trégua, mesmo com a esposa dando à luz e adoecendo em seguida. Mas acompanhando a história passada e a formação da personalidade dele (mostrada no Continente II), entendi o porquê (embora entender não seja concordar, posso dizer ao menos que entendi).
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Ana Terra! Preciso falar dela! Personagem fascinante, uma mulher forte e como o próprio nome declara: uma mulher da Terra, da Nossa Terra.
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Achei o texto tão vivo ao descrever o rancho no qual vivia com os pais, os sofrimentos que passou e a viagem de carro de boi até Santa Fé, que a impressão que tive é que fui abraçada por aquelas palavras e transportada para aquele tempo. Eu não estava lendo a história de Ana Terra, estava vivendo ao lado dela, sacolejando com ela naquela carroça de roda pesada que toda hora atolava na estrada lamacenta.
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Tenho esses livros há muito tempo e estava enrolando para começar a ler, pois a saga é longa (7 volumes ao todo: O Continente I e II, O Retrato I e II, O Arquipélago I, II e III). Também, assisti ao filme no cinema e confesso que não gostei, achei chato e muito arrastado. Só tomei coragem quando a Michela falou da Leitura Coletiva. Pensei comigo: é agora ou nunca! E para minha surpresa, estou amando essa saga!
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Então, um conselho a quem for ler O Continente I e II: dispa-se de todos os receios e todas as prevenções que você tiver, mergulhe sem pensar nesse texto rico. Você só tem a ganhar.