Larissagris 05/06/2024HELOÍSE NÃO PODE SAIR (CINTHIA ZAGATTO)Heloíse tem Transtorno Dissociativo de Identidade. Ela é a responsáve por seguir a rotina e manter tudo sob controle. Só que já faz um bom tempo que Heloíse não assume o front, ela desapareceu. Com isso, os outros alters precisam se organizar para fazer o papel de Heloíse.
Eu como pessoa neuroatípica, gosto muito de ler sobre neurodiversidade, então esse livro foi um presentão.
Na minha opinião, a coisa mais bonita desse livro é a relação do padrinho da Heloíse com os alters. É uma relação muito bonita, baseada na compreensão e no respeito. Diferentemente da mãe de Heloíse, Ricardo aceita cada um e os reconhece como indivíduos diferentes. Só de olhar ele já reconhece quem está no front pois conhece cada um deles muito bem.
A mãe de Heloíse, simplesmente não aceita os alters, reconhece apenas Heloíse como sua filha e fica bem contrariada nos momentos em que percebe que quem está falando com ela não é a Heloíse. Mas após um bronca bem dada da Capitã, um dos alters, ela começa a tentar se aproximar. Não diria que ela aceitou 100%, mas nesse momento teve início um novo relacionamento entre eles, e era nítido que ela estava se esforçando para compreender melhor. É bem legal quando ela finalmente começa a interagir com eles individualmente e a perceber como as identidades podem ter personalidades, aparência e até idades diferentes. Nosso cérebro é realmente complexo!
O foco principal da historia é mesmo a "parte de dentro" da Heloíse. A relação entre os alters e suas tentativas de levar a vida sem a anfitriã, tendo que aprender a fazer coisas que eram feitas por ela, como ir pra escola, interagir com os colegas e ir bem nos estudos. Seria legal ver mais interações entre eles com as pessoas do lado de fora, ver como é a convivência dos familiares (além do Ricardo) com a pessoa com TDI. Também senti falta de conhecer mais a Heloíse, queria pelo menos um capítulo narrado por ela, mas ela tinha sumido mesmo.
Hoje em dia é urgente falarmos sobre a neurodiversidade, por isso recomendo essa história. Precisamos espalhar informação e entender que ser diferente é normal. ?
TRECHOS FAVORITOS:
Sei que o garoto não está apenas emocionado por estar em casa, de volta com a mulher que entende ser sua mãe. Sei que, no cerne desse abraço, está a ânsia que ele tem de agarrar uma de suas poucas chances de receber algum carinho. Está a mágoa por nunca ter sido reconhecido pela mãe. (Pág. 21)
Pensamentos vazam, mesmo quando tentamos evitar, e esse é um dos lados ruins de ter mais gente compartilhando sua cabeça. Não dá para fugir deles, e muitas vezes você não quer escutá-los. (Pág. 87)
[...] nos obrigamos a fugir do que mexe com a gente com tanta determinação que, mais cedo do que prevemos, estamos com uma carga toda encapsulada, mergulhados até o pescoço na depressão que para outros de nós pode ser um problema mais leve. (Pág. 89)
- Heloíse sumiu! E aí? Você vai fazer o quê? Jogar o corpo dela no lixo porque nenhum de nós te agrada? (Pág. 136)
Dizem que é isso que acontece quando você é uma criança que passa por um trauma repetitivo. Você acredita que merece cada experiência ruim, que está fazendo alguma coisa para atrair os problemas, que a culpa é sua. Se não te punem, você dá um jeito de se punir. (Pág. 143)
Não somos nossos pais, Franco [...] Não temos culpa por eles serem quem são. Nós fazemos nossas escolhas e somos tão bons quanto queremos ser. (Pág. 199)
- Não é só com agressão física que as pessoas nos machucam. (Pág. 207)
Só não deixa de ser frustrante saber que alguém está apaixonado por você, mas pode ser que não consiga te aceitar do jeito que você é. (Pág. 228)
É só esse um dia que sempre fica implícito. Um dia, vamos ficar bem. Um dia, eu vou poder voltar pro front. Um dia, vamos saber o que fazer. É como se esse um dia fosse inalcançável. (Pág. 241)
[...] dizem que não podemos planejar demais as coisas que queremos fazer, porque elas nunca saem do jeito que esperamos. (Pág. 278)