Anderson 28/11/2023
Além do artigo que dá título à obra, o livro contém também "A literatura e as nações pequenas _ Discurso ao Congresso dos Escritores Tchecos" (1967). Nesse discurso, Kundera faz uma severa crítica ao stalinismo. Numa passagem marcante, diz o autor: "Não me agrada falar do fascismo e do comunismo em pé de igualdade. O fascismo, baseado em um anti-humanismo escancarado, criou uma situação relativamente simples no plano moral: apresentando-se a si mesmo como antítese dos princípios e das virtudes humanistas, ele as manteve intactas. Por sua vez, o stalinismo foi o herdeiro de um grande movimento humanista que, apesar da fúria stalinista, conseguiu conservar boa quantidade de posturas, ideias, slogans, retóricas e sonhos originais. Ver esse movimento humanista se transformar em seu contrário, arrastando consigo toda a virtude humana, transformando o amor pela humanidade em crueldade para com os homens, o amor pela verdade em delação etc., cria uma perspectiva inesperada sobre o próprio fundamento dos valores e das virtudes humanas."
"Um Ocidente sequestrado: ou a tragédia da Europa Central", texto de 1983, fala dos caminhos aos quais os países centro-europeus foram conduzidos, sobretudo, a partir do domínio exercido pela Rússia, configurada em União Soviética, exercendo sua influência geopolítica na forma dos regimes comunistas que se estabeleceram no leste e no centro da Europa no século XX.
Para o autor, os países da Europa Central, como a Tchéquia (Tchecoslováquia), a Polônia, a Hungria sempre foram culturalmente ocidentais, mas a visão que se tem deles foi alterada pela confusão formada entre cultura e regime político.
Este texto, apesar de breve, é uma excelente oportunidade para desfazermos a imagem de uma Europa Central que nos foi transmitida desde sempre.