Jô 05/06/2024
?O Sol e A Estrela?, coautoria de Rick Riordan e Mark Oshiro, apresenta a aventura dos semideuses Nico di Angelo, filho de Hades, e seu namorado, Will Solace, filho de Apolo, no Mundo Inferior. A história se passa após a saga ?As Provações de Apolo?, quando Nico começa a ser atormentado em pesadelos por uma voz pedindo sua ajuda. Em seguida, uma nova profecia confirma suas suspeitas: o ex-titã Bob necessita do semideus para fugir do Tártaro. Sendo assim, Nico e Will se lançaram em uma missão arriscada para salvar o amigo, que Percy Jackson e Annabeth Chase precisaram deixar para trás na aventura anterior.
Com 384 páginas, a obra é dividida em 51 capítulos que se alternam, inclusive graficamente, entre as perspectivas dos protagonistas. Um fato curioso é que o símbolo que indica o número de cada capítulo muda de frequência conforme o personagem que se refere. Quando o símbolo está escuro, acompanhamos a visão de Nico, o que representa suas trevas e traumas. Já quando está claro, seguimos os pensamentos de Will, marcando sua luz interior e exterior. Apesar dessa organização bem estabelecida, em alguns momentos os pontos de vista dos personagens se revelam dentro de um mesmo capí
?O Sol e A Estrela?, como o próprio título indica, carrega ares de oposição. De um lado, Will, o sol, curandeiro que encontra seu poder na luz e nas músicas que canta. Do outro lado, Nico, a estrela, nascida e criada na escuridão, rei dos fantasmas, que encontra no Mundo Inferior seu segundo lar. Apesar dos opostos de fato se atraírem nesse relacionamento, uma aventura sombria coloca à prova os sentimentos e desafia a confiança do casal.
Assim, o livro é conduzido a partir de uma atmosfera de intriga constante, que em certo grau até me incomoda pelo exagero, sobretudo no início da narrativa, onde Nico se mostra pouco disposto a compreender os medos ? muito bem justificados ? do namorado. Esse clima vai se amenizar à medida em que os próprios protagonistas percebem essa incompreensão mútua e buscam se ajustar e entender o lado do parceiro. Afinal, a vida e o amor sempre encontram um modo de sobreviver nas trevas.
Além dessa compreensão emergente que vai sendo gradualmente estabelecida, outro ponto que me cativa na obra é a inversão de papéis. Will nasceu para ajudar e curar os outros; no Acampamento Meio-Sangue, é ele quem trabalha na enfermaria. Entretanto, na hostilidade do Mundo Inferior e do Tártaro, é ele quem precisa de cuidado, e Nico rapidamente assume esse papel de proteção para com o namorado, o que acaba de consolidar uma parceria muito bonita entre os dois.
Essa parceria, inclusive, é essencial para a aventura, segundo Percy Jackson e Annabeth Chase, que são consultados por Nico e Will antes da empreitada deles ao Mundo Inferior começar. O casal busca dicas de Percy e Annabeth, já que, assim como Nico, eles sobreviveram ao Tártaro, especialmente pelo fato de estarem juntos. Nesse momento, há uma ligação entre as obras de Rick Riordan, o que me agrada particularmente enquanto fã do universo literário. Aliás, é verdade que essa interação teria sido muito bem-vinda em outras partes do livro. De qualquer forma, o relato de Percy e Annabeth foi essencial: Nico e Will tiveram que lembrar frequentemente um ao outro da vida que levavam fora do Mundo Inferior se quisessem ter a oportunidade de sobreviver e salvar Bob da força inimiga.
Por fim, vale destacar que ?O Sol e A Estrela? é uma obra muito representativa, bem como os demais best-sellers de Rick Riordan, sobremaneira por abordar questões importantes na sociedade, como a homossexualidade e a identidade de gênero. Nessa obra, o leitor é apresentado a personagens que não se enquadram nem no gênero feminino, nem no masculino e, por conseguinte, optam por serem tratados pelo pronome neutro. Essa questão levantada é significativa para que todos os leitores possam ter a chance de se identificar, apesar de suas próprias trevas, com algum personagem do universo de Percy Jackson. Portanto, fica a seguinte lição: todos temos luz dentro de nós e todos somos dignos de sermos salvos!