Marcia 12/04/2024
Uma Figueira que queria ter como amiga!
Chipre, 1974. Um lugar idílico na quebrada entre Europa, África e Ásia, desde sempre assolada por disputas em razão de sua posição geográfica, se viu dilacerada por uma guerra sangrenta entre Turcos e Gregos. A capital, Nicósia, a única capital ainda cindida no mundo. O romance vai e vem entre Londres e Chipre, circulando entre seus personagens, Ada, seu pai, Kostas, sua tia Meryem e a interessante e surpreendente Figueira. Sim. Boa parte da história nos é contada por quem vem presenciando os acontecimentos por gerações! Uma árvore melancólica, e apaixonada, que carrega a maldição de uma memória duradoura. O seu eu humanizado carreia a força da natureza. As árvores nunca se sentem solitárias, com raízes emaranhadas umas às outras, a fungos e bactérias, tudo é interligado, não abrigam ilusões. O romance vem da Nicósia da década de 70, época em que os adolescentes Defne e Kostas se apaixonam, e segue para Londres de 2010, para o grito ancestral de Ada, a filha do casal, que de suas origens pouco sabe. Com a chegada de sua tia Meryem tudo muda entre tensões e descobertas: uma ponte para o passado é içada. A dor permeia toda a história e fica ainda mais aguda na descrição do caminho de vida de Defne que percorre a arqueologia das ossadas descartadas pela guerra. O livro é muito rico: história, geografia, política, mitologia, costumes entremeados dos sofrimentos individuais e das dores de um povo cindido. A narrativa é um pouco cansativa, com a troca de lugares, datas e narradores em profusão, na escalada incessante de todas as dores. Goste sim, mas não amei. Fiquei mais empolgada ao fazer o levantamento da biografia da autora e com vontade de ler outros livros para ter um panorama mais amplo de sua literatura.