Brenda @caminhanteliterario 04/06/2024Agora ficou claro que Emily Henry não é pra mim. É o segundo livro que leio dela em que o mesmo acontece, eu começo adorando e nuns 65% eu estou torcendo pra acabar na página seguinte. A temática logo de cara me chama a atenção, não tinha reparado sobre esse padrão literário de pessoas que saem da cidade e encontram a felicidade no interior. Também acho legal essa idéia da mocinha ser a workaholic, mas ao longo do livro não vi muito dessa característica nas suas atitudes. Esperava ver Nora trocando tudo por trabalho, até no fim encontrar um meio termo saudável, quando na verdade temos uma personagem insegura, cheia de traumas e que larga tudo pela irmã.
Não acredito que seja um livro ruim, mas realmente é ume estilo que não funciona comigo. A autora tem uma boa habilidade pra criar personagens ótimos e eu adoro as interações do casal e e de suas personalidades. No entanto, os dois livros que li são sobre protagonista criando problema onde não existe, e remoendo sobre isso o livro inteiro.
Qual é o drama de Nora? Ela descobriu que é vista como fria e durona demais, enquanto o livro mostra o oposto disso o tempo todo. Ela se preocupa em excesso com a irmã mais nova e com o futuro por conta do passado triste da mãe e é uma abordagem bem factível. Mas fazer um livro inteiro girar em torno disso, com excesso de inseguranças e reflexões, não teria como me entediar mais. Bate muito como white people problems.
Fora que a trama de passar férias em uma cidade pequena faz com que a história toda seja um grande nada. É simplesmente Nora e Libby zanzando de um lado pra outro naquele lugar pequeno enquanto vira e mexe esbarra com Charlie. E vale ressaltar que eu não tenho nada contra livros em que nada acontece, mas não um que se leva a sério demais , como é o caso desse aqui em o romance pende bastante pro drama. Mas drama em cima de quê? Qual é o problema real de Nora? Achei difícil de gostar de uma história sobre uma protagonista teoricamente tão durona e ao mesmo tempo tão insegura.
Por outro lado, o casal em si é ótimo, gosto muito da dinâmica dos dois. É desenvolvido como o total oposto de slowburn. Quando eles se propõe a flertar não figem que não estão a fim um do outro e só resistem a essa aproximação porque são colegas de trabalho e por causa dos traumas de Nora. Gosto que Charlie é engraçado, implicante e vive provocando Nora, mas que não se encaixa na categoria grumpy, além do fato de enaltecê-la o tempo todo. A mecânica dos dois é ótima, são diálogos bem naturais e sempre com um tom de flerte, isso quando não termina em pegação forte. Soa como um relacionamento real e maduro de duas pessoas vivídas e com o pé no chão, e que apesar dos entraves não ignoram o que estão sentindo.
Também me chama a atenção o tema da cobrança sobre os filhos. Tanto Charlie quando Nora vivem essa responsabilidada imposta veladamente pelos pais de assumir o dever sobre a família. Charlie, a meu ver, tem um peso maior que Nora na medida em que o pai tem AVC e ele se vê obrigado a voltar pra casa. Já Nora tem uma irmã casada e com filhos, sua sobrecarga é totalmente autoimposta pelos traumas da infância.
E pra se honesta, Libby é o que menos gosto nesse livro, acho que por isso que a temática como um todo não me agrada. Ela se comporta como irmã mais nova mimada, e arrasta Nora pra um lugar que não tem nada a ver com ela, faz a irmã cumprir uma lista das próprias suas vontades, foi cuidada pela irmã a vida inteira, pra no final cobrar Nora de deixar de agir como se fosse sua mãe. Fora o fato de não ter compartilhado o motivo da viagem, soa bastante como manipulação. Devo admitir que fiquei instigada o livro todo pra saber o segredo de Libby, se era separação ou doença, o que daria de fato um ar mais pesado a história. E quando chega o final é só uma mundaça de cidade achei ela novamente mimada e carente de atenção. Gostei pra cacete do momento em que Nora finalmente grita com ela, pra logo em seguida ela passar mal e Nora se ver na posição de responsável de novo.
Isso se reflete inclusive na relação delas com a mãe, que é uma parte que eu gosto no livro. Nora a venera, principalemnte por lutar contras todas as adversidade pra ir atrás de seus sonhos. Isso sem deixar de tentar tranformar tudo em lúdico pras que as filhas não sintam tanto as adversidades. Já Libby culpa a mãe por não desistir de seus planos e buscar ter uma vida tranquila e estável com as filhas. Novamente não deixa de ser uma responsabilização do outro pela própria felicidade.
Amaya e Shepard são irrelevantes no enrendo só servindo pra gerar ciúme e auto reflexão no casal. E essa história de salvar um comécio local é uma palhaçada.
O final começa com um tom meio triste, com Nora sozinha em Nova York, refletindo sobre o peso de suas escolha e de seu passado, quando de repente Charlie surge magicamente com todos os problemas resolvidos. Pra um cara tão bem sucedido financeiramente, cuidar dos pais e da livraria a distaância não deveria ser um problema tão difícil. Mas Libby surge pra salvar o dia e de uma página a outra todos estão felizes. É um final fofo, mas apressado e sem muito desenvolvimente. A real é que ao final do livro eu já estava sem nenhuma paciência.