Thais Lima 17/07/2023
Fantasia de alta qualidade
Ouvi falar de O Veneno na Montanha na Bienal do Livro do ano passado, quando a autora estreou no mercado juntamente com a editora Qualys, num estande maravilhoso e com vários livros promissores à venda. O livro foi destaque na Bienal e vendeu muito. Infelizmente, eu não pude comprar uma cópia física porque já estava esgotado no dia que eu fui. Mas acabei comprando o ebook um tempo depois, e hoje finalmente terminei de ler.
A história, à princípio, não te entrega muita coisa. Você está na cabeça de Kalina, uma jovem de 19 anos que está sendo presa na montanha de Insula, a prisão de segurança máxima da história. Mas ela está lá porque quer estar: Kalina pretende salvar a mãe, que está presa lá dentro. O objetivo de Kalina, de forma geral, é simples e egoísta. Ela quer entrar, salvar a própria mãe, e vazar. De forma alguma, mudar o sistema ou começar uma guerra é a ideia dela. E achei muito interessante como a autora nos apresentou uma protagonista que, à princípio, deixa claro que não se importa com mais nada além dos próprios interesses. Se outras pessoas vão morrer, não é problema de Kalina. Ela se importa com ela e com os dela. Nada além disso. Bianca Jung nós entregou uma protagonista humana, que age a partir dos próprios interesses, e não está lá muito preocupada com o mundo injusto que vive.
Eis que a história vai se desenrolando e Kalina percebe que resgatar sua mãe não vai ser assim tão simples. Ela precisa ir mais fundo no seu plano e, graças a isso, ela acaba envolvida em coisas que nunca imaginou e jamais quis fazer parte. O crescimento de Kalina é gradual, lento, mas muito interessante de se acompanhar. A trama se mostra muito mais complexa do que é apresentada a princípio, quando a protagonista apenas estava preocupada consigo mesma e a sua mãe. Kalina se vê presa numa teia de jogos políticos e de rebelião que não consegue mais sair, obrigando a personagem a agir além dos próprios interesses e ver o mundo além do próprio umbigo.
Algumas coisas não ficaram muito claras pra mim, como o interesse do governo em realizar o Expurgo. Por que aqueles prisioneiros precisam passar por esse suplício? É apenas algo cruel que visa torturar criminoso, ou existe uma finalidade para tal barbaridade? O livro não explica isso muito bem. Também não fica claro o que aconteceu com Vixen no final, mas pelo menos isso eu entendo que ficou de gancho para a continuação. Enfim, espero respostas de ambas perguntas no próximo livro.
Um dos plots twists da história pra mim ficou muito óbvio bem antes da autora revelar a verdade (sobre os harakins), então achei a Kalina meio burra por não ter suspeitado antes sendo que as pistas estavam dançando na cara dela.
O Veneno na Montanha é uma história cheia de ação, aventura e mistério. Recebemos algumas migalhas de um possível romance também, mas felizmente o livro não é focado nessa questão e o casal se desenvolve em paralelo à trama, que é o ponto central da narrativa. Temos personagens marcantes e muito bem desenvolvidos: entre eles gostaria de destacar a própria Kalina, uma protagonista formidável, sua melhor amiga Ehrika, Vixen (o melhor de todos), e Irvine. E vários outros.
Outra coisa que eu adorei ver foi a amizade profunda e verdadeira entre Kalina e Ehrika. A relação delas é boa demais e convence muito de que aquela amizade é verdadeira e vai além de qualquer coisa. O amor e a devoção entre essas duas é magnífica, é o tipo de amizade que todo mundo espera. É provavelmente a relação marcante dessa história ? e todas as relações são muito bem abordadas e bem desenvolvidas.
O Veneno da Montanha é uma história espetacular, um prato cheio para os amantes de uma boa história com uma boa protagonista. E uma jóia dessas é nacional, é nosso! Parabéns à Bianca Jung por criar esse universo fantástico maravilhoso, mal posso esperar para ler o segundo!