Flávia Menezes 19/04/2022
??? OH ELVIS! LOVE ME TENDER PARA QUE MEMPHIS LOVE ME TOO.
?Memphis?, o romance de estreia da escritora Tara M. Stringfellow, publicado em abril desse ano, retrata a vida de quatro gerações de mulheres negras do Norte de Memphis, cujas vidas são marcadas por tragédias e traumas, que possuem consequências que são carregadas por gerações.
Nessa história não linear que transita de 1930 até 2003, a narrativa vai mudando o ponto de vista, ora dando voz a matriarca Hazel, passando às suas filhas Miriam e August, até chegar na sua neta, Joan.
A prosa é melódica, as personagens femininas são fortes e carismáticas, e por trás de toda a dor e sofrimento, repousa uma bela mensagem sobre superação, e da importância da comunidade e irmandade para enfrentarmos os momentos difíceis. Até porque os temas abordados são fortes, e suas personagens precisam mesmo de muita força e coragem para enfrentar todo o preconceito, as perdas, a pobreza, a violência, o abuso doméstico e sexual, os sacrifícios e os desgostos.
Apesar da realidade dura, a narrativa é leve, divertida em alguns pontos, e a escrita, bastante graciosa. O que torna a leitura fácil, fluindo com naturalidade, fazendo com que sua recepção na terrinha do Tio Sam tenha sido bastante louvável, tendo sido até um dos livros mencionados no clube de leitura de Jenna Bush Hager, a filha do 43º presidente dos Estados Unidos, George W. Bush.
Apesar de ser um grande primor, confesso que houve alguns pontos de incômodo. Primeiramente, houve um momento na história em que a autora descreve um diagnóstico de um personagem, Derek, como tendo ?transtorno de personalidade dissociativa?, sendo que não houve nenhuma caracterização que justificasse tal diagnóstico. Na verdade, pela forma como o problema dele é retratado, o correto seria ele ter sido diagnosticado com ?transtorno explosivo intermitente?, que se enquadra bem mais no comportamento apresentado pelo personagem.
Um outro ponto, é que em vários momentos, durante uma cena, um personagem retoma uma lembrança, voltando ao passado, e trazendo uma história longa, que faz com que a cena anterior se perca, e muitas vezes, sem grandes conexões.
Além disso, a autora parece ter tido uma preocupação excessiva com explicações sobre histórias passadas dos personagens, incluindo os não principais. Esses momentos deixaram a leitura um pouco mais lenta, e mais uma vez, deu aquela sensação de ser uma parte um tanto desnecessária.
Um outro ponto da escrita da Tara, é que em alguns momentos ela parecia querer prolongar o suspense, enchendo a história com excessivas descrições, o que fez com que algumas das emoções que ela esperava despertar, desaparecessem, porque o momento acabou ?esfriando?.
Mas, como esse é um romance de estreia, e estes são alguns erros bastante comuns para escritores principiantes, a verdade é que a autora foi bastante assertiva com a sua escrita encantadora. O que fez ser bem fácil sentir afeição pelos personagens.
Afinal, as mulheres são tão fortes, tão cheias de personalidade, muito embora não sejam nada exóticas. E é importante ressaltar que os personagens masculinos também tiveram sua passagem de forma tocante, despertando no leitor um misto de emoções, mostrando diversas facetas do homem negro americano frente a realidade do momento em que sua história é contada.
Se tem um lugar nesse mundo que um dia eu amaria conhecer, esse lugar é Memphis. E Tara M. Stringfellow só aumentou a minha vontade de conhecer essa terra que é o lar do para sempre amado Elvis Presley.
E muito embora a autora faça um alerta sobre como a cidade aumentou em índice de criminalidade, ainda assim, ela conseguiu encantar com toda a beleza do rio Mississipi, da musicalidade da Beale Street, e todas as cores e sabores de uma cidade sulista do Tennessee que sempre será marcada como o berço do Rock ´n´Roll.