Mary Manzolli 11/02/2022
Uma boa base para entender o liberalismo moderno.
Originado da sua tese de doutorado em ciência política pela Universidade de São Paulo, inclusive ganhadora de prêmios de melhor tese de doutorado da Associação Brasileira de Ciência Política e de Tese de Destaque USP na área de ciências humanas, Camila Rocha a partir de sua passagem pelo Instituto Liberal, no Rio de Janeiro, entre 2015 e 2018, realizou uma série de entrevistas com lideranças políticas, intelectuais, ativistas e militantes da nova direita liberal do país.
O livro é uma radiografia do liberalismo brasileiro, inicialmente estudando a trajetória dos Think Tanks, centros de prospecção e convencimento, dedicados a divulgar as ideias de autores como Mises e Hayek nas décadas de 1960 até os anos 90 e, posteriormente, sendo substituídos pelas redes sociais e movimentos da sociedade civil.
Apesar de autodeclarar-se, abertamente, de esquerda., Camila Rocha, consegue manter o distanciamento necessário e realizar uma análise livre de preconceito, pautada na neutralidade e livre de posicionamentos ideológicos, nos permitindo compreender melhor a forma de levante desta "nova direita" pós redemocratização, que questiona e se rebela contra os pactos da Nova República.
É um livro curto mas muito rico em informações retiradas de documentos que a autora teve acesso dentro do IL-RJ, além de entrevistas diversas com cabeças pensantes do liberalismo (e também algumas nem tão pensantes assim).
Interessante perceber que, embora os que se exponham na mídia e nas redes, sejam os representantes de um liberalismo conservador (contraditório) e barulhento, inflamados de ódio contra a esquerda, o comunismo e o PT, mas com pouquíssimo conteúdo para a defesa de suas ideias, preocupados apenas em instigar polêmicas, é possível encontrar pessoas inteligentes no meio, que acabam por ficarem exitantes e um tanto envergonhadas com tamanha desordem de convicções.
A autora relata que em suas entrevistas, grande parte dos seus entrevistados, demonstrava repúdio à figura de Bolsonaro e sentia um desconforto latente ao falar da idolatria do mesmo ao Coronel Brilhante Ustra e à Ditadura Militar, atribuindo o apoio desta nova direita a Bolsonaro no segundo turno, ao desejo de ver-se livre do PT e por acreditar que o candidato, em razão dos seus inexistente valores éticos e morais, seria alguém facilmente manipulável.
Mas o jogo político não é para amadores, não é mesmo? Essas escolhas políticas custaram muito caro para esta nova direita ultraliberal que acreditou ganhar poder ao ajudar a eleger um mentecapto sem qualquer capacidade de gestão. Descredibilizada e desmoralizada, atualmente procura, desesperadamente, alinhar-se a outros segmentos da direita tradicional e até mesmo da esquerda para desvincular sua imagem de Bolsonaro.
Obra importante para a compreensão de como se movimentam as peças do xadrez da direita brasileira, desde a intervenção militar, até os dias atuais, quem são os principais financiadores e quais são as estratégias de convencimento utilizadas para mobilizarem o cidadão comum a, lamentavelmente, defender estratégias de mercado que beneficiem grandes empresários e investidores em prejuízo de seu próprio bem estar e qualidade de vida.